O MPLA e a sua liderança, enquistada nos ensinamentos perenes e nobres dos tempos de partido único (que saudades, não é Presidente Eduardo dos Santos?), engravidada pelas não menos nobres qualidades da ditadura, continua a mostrar que se está nas tintas para a democracia, para os direitos fundamentais dos povos, para o Estado de Direito. E tem razão.
Por Orlando Castro
A democracia foi, segundo o presidente não eleito nominalmente e no poder há 36 anos, imposta. E para derrotar tudo o que é imposto, dizem que a luta continua e a que a vitória é certa. E essa luta faz-se contra um Povo que, consideram, por ser ignorante continua a não perceber que o MPLA é Angola e Angola é o MPLA.
Aliás, o MPLA não tem a mínima noção do que é o país. Para ele, Angola é tão somente o que o partido e os seus dirigentes entenderem que deve ser. E nessa equação não entra a opinião das pessoas pois, como se sabe, para pensar por elas é que existe o partido. Por alguma razão, como todos sabemos, os símbolos ditos nacionais são iguais, ou até os mesmos, aos do MPLA. As personalidades relevantes da sociedade são as do MPLA, os heróis são os do MPLA, tudo é do MPLA.
Nem mesmo a moeda, dita nacional, escapa a essa visão mesquinha, retrógrada e tumoral do guia supremo do Povo, o MPLA. Poderia chamar-se Zimbo, em honra aos autóctones do Reino do Congo. Reino esse que deu lugar ao Reino de José Eduardo dos Santos, e que na altura era o mais evoluído de todos os que, assuma-se ou não, constituem Angola, seja esta entendida como país ou nação.
Mas não. O ministério das Finanças repousava na Ilha de Luanda, meditou e chamou-lhe Kwanza, e nela a esfinge escolhida não foi um rei ou rainha autóctone da resistência, mas a de Agostinho Neto, ainda em vida e depois da sua partida surge em dupla com a do divino representante de Deus na Terra, José Eduardo dos Santos. Mais uma vez, aquele que poderia, e deveria, ser uma moeda nacional nada mais é que um instrumento partidarizado que perpetua, ou tenta perpetuar, a supremacia dos dirigentes do MPLA, como se pertencessem a uma casta superior, como se se vivesse ainda nos tempos da escravatura em que todos os não servos do MPLA nada mais fossem do que escravos.
A Bandeira Nacional não é mais do que uma cópia da do MPLA, não representa todas as matizes da sociedade. Mas isso é irrelevante no contexto das democracias mais avançadas e nas quais se inspira o MPLA. São os casos da Coreia do Norte e da Guiné Equatorial. Aliás, basta dar uma volta pelo mundo para ver que as bandeiras de quase todos os país reflectem a imagem do partido dominante…
Portugal, por exemplo, tem trocado constantemente de bandeira sempre que há alternância no governo. E isso é uma chatice. Tal não aconteceria se o país tivesse um governo do tipo do MPLA (está no poder desde 1975) e um presidente idêntico ao nosso “querido líder”, que só está no cargo desde 1979…
Há quem diga que os símbolos da nossa monarquia são de inspiração comunista, dando como exemplo a roda dentada, que simboliza a classe operária que em Angola é inexistente. Ou seja, a bandeira nacional do MPLA divide-se, segundo a explicação dos entendidos, horizontalmente numa metade superior vermelha e na outra parte inferior negra. O vermelho simboliza o sangue derramado pelos angolanos (os do MPLA, está bom de ver) durante as lutas pela independência, enquanto que o negro simboliza o continente africano. Cruzados no centro estão uma roda dentada, que simboliza a indústria, e uma catana, que simboliza o campo, encimada por uma estrela cujo conjunto simboliza os trabalhadores.
Recorde-se que em 2003, a Comissão Constitucional ficou de propor novos símbolos nacionais, acabando por apresentar em 28 de Agosto de 2003 uma proposta para a nova bandeira de Angola.
Recordam-se? Seria uma bandeira dividida em cinco faixas horizontais. As faixas inferior e superior azuis escuras, representariam a liberdade, a justiça e a solidariedade. As duas faixas intermédias, de cor branca, representariam a paz a unidade e a harmonia. A faixa central de cor vermelha, representaria o sacrifício, tenacidade e heroísmo. No meio da faixa vermelha ficaria um sol amarelo com 15 raios, composto de três círculos irregulares concêntricos. A imagem era inspirada nas pinturas rupestres de Tchitundo-Hulu, na província do Namibe. O sol simbolizaria a identidade histórica e cultural e a riqueza de Angola.
O Hino Nacional é também do tempo de partido único e a letra é de visão socialista e, como seria inevitável, é da autoria de dois militantes do… MPLA (Manuel Rui Monteiro e Rui Mingas): “Angola, avante! Revolução, pelo Poder Popular! Pátria Unida, Liberdade, Um só povo, uma só Nação!”
Depois surge a bestialidade, a mediocridade, o anacronismo do Bilhete de Identidade. Mais uma vez o reverencial canino, o culto da personalidade, levaram o regime a nele colocar as fotos de Eduardo dos Santos e Agostinho Neto, uma clara postura ditatorial monárquica.
Chegados aqui, e se eventualmente se der crédito bom à metodologia do regime, poderemos criar o cenário de que com a alternância no poder (nas democracias é assim) se banalizariam os símbolos nacionais. Isso levaria, por exemplo, a UNITA a imprimir moeda com as esfinges de Jonas Savimbi e Isaías Samakuva, a FNLA com as de Holden Roberto e Lucas Ngonda, a CASA-CE com as Abel Chivukuvuku e do seu pai, uma vez não haver ainda outro líder antes dele.