O plano operacional para as linhas de crédito da China foi um dos temas abordados hoje na quarta reunião ordinária do Bureau Político do MPLA, partido no poder desde a independência – há 40 anos – e que domina um país dirigido há 36 anos por alguém que nunca foi nominalmente eleito.
Por Orlando Castro
U m comunicado do partido, distribuído à imprensa, refere que a análise do plano insere-se na revisão da programação macroeconómica executiva para o ano em curso. Ou seja, insere-se na manutenção dos status quo do clã que domina o pais.
O Presidente da República, chefe do Governo e líder do MPLA, José Eduardo dos Santos, deslocou-se à China em Junho deste ano, tendo nessa visita o país asiático concedido a Angola um empréstimo, cujo valor não foi revelado. Por outras palavras, a China comprou Angola, transformando o nosso país num seu protectorado económico.
No encontro, dirigido pelo “querido líder”, foi igualmente analisado o plano para a realização do primeiro Encontro Nacional de Quadros do MPLA, previsto para Outubro deste ano.
Nesta matéria, o MPLA quer assegurar que – se tal se afigurar necessário – poderá ganhar as eleições com mais de 100% dos votos. E, é claro, é uma tarefa perfeitamente ao alcance de um partido que se diz governado pelo “escolhido de Deus”.
O documento sublinha que o encontro visa promover uma profunda reflexão sobre a política de quadros do partido, no actual contexto de desenvolvimento do país, relativamente à sua valorização e reconhecimento.
Durante a reunião foram apreciados projectos de regulamentos sobre a gestão de quadros, no que se refere à avaliação de desempenho, nomenclatura de cargos do partido e sobre a reserva de quadros daquela força política que tende a perpetua-se no poder.
Para atingir esse desiderato o MPLA poderá, inclusive, reeditar um 27 de Maio e, dessa forma, voltar a mostrar a necessidade de o país ter um único partido. Politicamente poderá até fazer um referendo que, com toda a certeza, provará à comunidade internacional que os angolanos concordam que o MPLA é Angola e Angola é o MPLA.
A nota do MPLA refere ainda que, na reunião, o executivo (do MPLA) foi encorajado a prosseguir com a execução do programa nacional de habitação e com o de combate à fome e à pobreza, com vista ao bem-estar do povo angolano.
O MPLA continua a reafirmar que a sua aposta é no “socialismo democrático”. A tradução para a linguagem do MPLA significa tirar aos pobres para dar aos ricos. Essa foi, aliás, condição sine qua non para o país entrar para o Conselho de Segurança da ONU.
O vice-presidente do MPLA, Roberto Victor de Almeida, explica que “o socialismo democrático defende a justiça social, o humanismo, a liberdade, a igualdade e a solidariedade”. Apenas se esqueceu de acrescentar que isso diz respeito, em exclusivo, aos angolanos de primeira.
Em 2011, numa sessão de reeducação do povo, realizada no Centro de Conferências de Belas, em Luanda, disse que o socialismo democrático “tem como fundamento a garantia da harmonia entre o desenvolvimento individual e o colectivo, a preservação dos valores nacionais e a defesa dos direitos, liberdades e interesses de todos os cidadãos”, e “visa obter a igualdade de direitos para as raças, grupos étnicos, tribos, nações e confissões”.
Ou seja, visa obter tudo aquilo que é negado pelo mesmo MPLA ao povo angolano, espécie distinta do povo do MPLA. Aliás, em Angola todos são livres de pensar… como pensa o regime, todos são iguais desde que aceitem as regras de quem está no poder e que, cada vez mais, se assume não só como dono do país como, igualmente, proprietário dos escravos que devem obediência cega, canina e divina ao líder supremo, no caso José Eduardo dos Santos.
Roberto de Almeida falou então da necessidade de se consolidar os ideais do partido, resgatando muitos dos valores morais e éticos perdidos, sublinhando que a perda valores não elimina apenas a solidariedade, como também deforma o futuro da pessoa humana.
Nesta tentativa de vender gato por onça, o MPLA esquece-se que só se pode perder o que se tem. Ora os valores referidos nunca foram uma característica de um partido cuja única divisa é: quero, posso e mando.
Numa outra dissertação sobre “socialismo democrático e a acção económica e social”, o secretário do Bureau Político para a Esfera Económica, Manuel Nunes Júnior, declarou que o socialismo democrático é a via para o alcance da verdadeira independência económica de Angola e a elevação do bem-estar e da qualidade de vida do povo angolano, de Cabinda ao Cunene.
Com cada vez mais angolanos de barriga vazia, falar do bem-estar e da qualidade de vida do povo angolano, ou do povo amordaçado de Cabinda, é não só gozar com a chipala de quem é gerado com fome, de quem nasce com fome e de quem morre pouco depois com… fome, como aviltar a inteligência dos que sabem que o regime angolano é, mesmo sendo benevolente, autocrático.
“Alcançado o programa mínimo com a proclamação, a 11 de Novembro de 1975, da independência nacional, a grande tarefa é a satisfação dos anseios do povo angolano, quanto ao bem-estar e a qualidade de vida, mediante um sistema em que o Estado assume o papel de agente regulador e coordenador de toda actividade económica e social”, declarou Manuel Nunes Júnior, recitando a teoria política da sua família, a Internacional Socialista.
De uma coisa temos a certeza. O Comité Central do MPLA, liderado por José Eduardo dos Santos, recomendou ao Governo, liderado por José Eduardo dos Santos, a adopção de medidas que permitam execução do programa nacional de habitação e o combate à fome e à pobreza, com vista ao bem-estar do povo do MPLA. Consta que o Presidente da República, José Eduardo dos Santos, está de acordo.