Hoje é daqueles dias que resolvi escrever sem utilizar os “ismos” habituais de eduardismo, dikotismo, trambiquismo, racismo, amiguismo, familiarismo, bajulismo etc., etc. até porque existe tanta coisa para escrever sem utilizar essas palavras que infelizmente continuarão fazendo parte do nosso vocabulário.
Por Fernando Vumby
Q uando escrevo coisas que aconteceram no passado que vi com os meus próprios olhos, ou que me contaram por pessoas que me merecem credibilidade, faço apenas por me sentir moral e patrioticamente obrigado a não fazer daquilo que sei um monopólio privado.
Não sou de me sentir feliz quando sei tanta coisa que é de interesse público, e me manter calado apenas porque se diz que isto é segredo, quando no fundo este chamado segredo prejudica uma grande maioria ou minoria.
Se temos uma grande parcela da nossa população muito jovem, que não viveu aquilo que nós que já passamos os meio século de idade vivemos, porque razão não partilharmos as nossas experiências com esses jovens e pior num país onde a média de vida apenas é 47 anos de idade?
Fazer isto na minha perspectiva não significa, que eu seja uma pessoa muito presa ao passado ou que não saiba que apesar dos pesares, a vida deve continuar para a frente.
Não faz tempo um grande amigo considerou-me como uma espécie de armazém de lembranças e é verdade que sim, eu recordo-me de muita coisa que aconteceu até quando tinha apenas 4/5 anos de idade e as posso relatar como se isto tivesse acontecido ontem.
Uma vez escrevi sobre um boi furioso que tinha fugido do matador e criou um grande pânico entre a população do bairro Sambizanga, na zona entre a loja do Kabuite e do senhor Armando, comerciante vizinho dos famosos Zeca Pinho, Man 28 e o Caetano, este último hoje conhecido por D. Caetano, por detrás do quintal da Jomar.
Soube depois pela minha mana que um dos kotas do Sambizanga quando leu o texto, quase não parou de lagrimar por essa minha lembrança que ele também se recordava deste boi que por um pouco não foi vitima da sua fúria. Isto foi por aí nos anos 1967/68.
Falando nisto qualquer dia vou escrever sobre o D. Caetano porque já li tantas histórias mal contadas, onde faltou verdades sobre o inicio da sua carreia, quando começou, onde e com quem.
Espero que o mesmo se ler, que acabe por controlar as suas emoções pois vou falar de pessoas e cenas que acredito poucos são os que ainda guardam na memória…
Vou falar do Mordido, do kota Amigo, da Branquinha, da Preciosa, do Zeca Madiabo, do Antoninho Balão, do Urbano de Castro quando “engatou” a sua primeira esposa nas missas do Simão Toko, no quintal daquela que depois se tornou na sua primeira esposa, a Ruty.
E não vou me esquecer do senhor Rufino que nos dava explicações na hora da tabuada, curiosamente pai de um dos grandes amigos do Caetano (o Ninocas) das horas quentes do ensaio por detrás da loja do senhor Zeca.
Mas, viver preso ao passado às vezes faz bem porque nos lembramos de muita coisa boa e má que jamais voltará, como decisões precipitadas e tomadas emocionalmente ontem, escolhas erradas que muitos tinham tomado e acabaram por seguir até que morreram por causa do erro.
E mesmo que o viver preso ao passado não nos traga felicidade, ao menos nos ajuda a aprender com os erros cometidos ontem para não os voltarmos a cometer hoje e, desta forma, perspectivarmos um futuro diferente do ontem.