O gabinete de estudos económicos do banco português BPI considera que a desvalorização do kwanza vai criar pressão para o aumento da inflação, que subiu 11% no último mês face ao Agosto de 2014.
“A recente desvalorização do kwanza deve colocar uma pressão adicional na taxa de inflação durante os próximos meses”, lê-se numa nota de análise aos mercados africanos que os economistas do banco português enviaram aos clientes.
No documento, os analistas explicam que “a autoridade monetária espera abrandar a pressão inflacionária, dado o aumento da taxa de inflação nos últimos meses” e lembram que só em Agosto os preços subiram 11,01% em Luanda face ao período homólogo, enquanto em Julho tinha subido 10,41% sobre o mesmo período do ano anterior, o que dificulta a meta de 9% definida pelo executivo.
Em Agosto, o Banco Nacional de Angola (BNA) aumentou a taxa de juro de referência pelo terceiro mês consecutivo, para 10,5%.
Devido à crise decorrente da quebra na cotação internacional do petróleo, Angola viu reduzir a receita fiscal para metade, assim como a entrada de divisas no país, agravando o custo das importações e o acesso a produtos, inclusive alimentares.
Os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística angolano indicam que, analisando a situação em Agosto (mas com o total de doze meses), voltou a ser ultrapassado, tal como em Julho, o intervalo (7 a 9%) para a inflação anual previsto pelo Governo angolano no Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2015, revisto em Março precisamente devido à crise petrolífera.
A taxa de inflação a doze meses representa um máximo desde Abril de 2012, tendo em conta os dados do INE.
O mês passado foi noticiado que, segundo o Banco Angolano de Investimento (BAI) Europa, a crise que afecta Angola deverá comprometer as metas do Governo de manter a inflação abaixo dos 9% em 2015.
A situação é explicada no boletim daquele banco sobre o comportamento da economia angolana no terceiro trimestre com as consequências da crise da quebra da cotação internacional do barril de crude.
“É agora expectável, com o maior deslizamento cambial, uma aceleração dos preços, afigurando-se razoável admitir, desde já, a impossibilidade de cumprir o objectivo anual da inflação que, segundo a proposta de Revisão do OGE, não deveria exceder 9%, em média anual”, escrevem os analistas do BAI Europa.
A posição é justificada também com base no conjunto de políticas – orçamentais, cambiais, monetária e outras -, preparado pelo Governo para lidar com as dificuldades, nomeadamente de acesso a divisas.
Dizem os especialistas daquele banco – cujo grupo é um dos maiores em Angola – que “uma das consequências prováveis” destas medidas “deverá fazer-se sentir ao nível dos preços no consumidor, devido ao peso dos produtos importados nas despesas de consumo das famílias”.
Taxa de Circulação em alta
A cobrança dos selos da Taxa de Circulação rendeu aos cofres públicos angolanos, no último ano, mais de 16 milhões de euros, um crescimento de 11%, referente a cerca de 640.000 viaturas.
Segundo números da Administração Geral tributária (AGT) revelados hoje pelo Ministério das Finanças, a campanha de pagamento de 2014 – referente aos selos actualmente em vigor -, ultrapassou os 2,4 mil milhões de kwanzas (16,2 milhões de euros), mas deste total 76% (cerca de 12 milhões de euros) foi cobrado só em Luanda.
A cobrança nacional atingiu em 2013 cerca de 2,2 mil milhões de kwanzas (14,5 milhões de euros), tendo então crescido 47% face ao ano anterior.
A grande novidade no pagamento do chamado “selo do carro” de 2014 consistiu na possibilidade de aquisição do mesmo através dos multi-caixas, a rede ATM angolana, além dos postos e repartições fiscais.
Segundo a AGT, a rede interbancária permitiu o pagamento de 4.419 selos, rendendo apenas 22,9 milhões de kwanzas (pouco mais de 150 mil euros).
De acordo com informação dos concessionários angolanos, circulam no país entre 400 a 500 mil viaturas automóveis, para uma população de mais de 24 milhões de habitantes.
Mais de 40.000 viaturas – viaturas automóveis e motorizadas – tiveram acesso ao selo de isento em 2014, enquanto as cerca de 600.000 restantes pagaram, em função da cilindrada, entre 1.500 e 12.500 kwanzas (entre 10 e 82 euros).
Os números são conhecidos numa altura em que a administração tributária prepara o lançamento da campanha de cobrança de 2015, que estará em vigor até final do ano.