O rei do Bailundo, Ekuikui V, desloca-se ao Brasil no próximo mês, a convite do Instituto Latino Americano de Tradições Afro Bantu, cujo responsável, Walmir Damasceno, esteve na corte do reino em Fevereiro último.
Por Orlando Castro
E m declarações à Angop, o soberano mostrou-se feliz com o convite, realçando que a sua ida ao Brasil representa a revitalização da herança cultural africana, por ser a primeira visita oficial de um rei bantu, após a abolição da escravatura, em 1850.
Informou que o convite que lhe foi feito inscreve-se no quadro dos objectivos da Década Internacional dos Afrodescendentes, criada por resolução da Assembleia Geral da ONU, em 23 de Dezembro de 2014, com o tema “Afrodescendentes: reconhecimento, justiça e desenvolvimento”.
Ekuikui V disse que o Instituto Latino Americano de Tradições Afro Bantu idealizou a visita para diversos estados brasileiros, para manter contacto com acultura afro-bantu brasileira.
O reino do Bailundo, localizado a 75 quilómetros a norte da cidade do Huambo, é um dos mais respeitados do país, pela sua resistência na luta contra a ocupação colonial, nos longínquos anos de 1500.
O mesmo foi fundado pelo rei Katiavala I, proveniente da vizinha província do Cuanza Sul, e actualmente funciona com 35 sobas, oito dos quais em regime permanente, por residirem na corte. Ekuikui V, cujo nome verdadeiro é Armindo Francisco Kalupeteka, foi entronizado em 2012, sendo o 38º rei, sucedendo Ekuikui IV.
Ekuikui IV que morreu a 14 de Janeiro de 2012, aos 94 anos, na cidade do Huambo, vítima de doença.
Segundo o Jornal de Angola, “o anúncio (da morte de Ekuikui IV) foi feito em comunicado pelo bureau político do MPLA, partido do qual era militante e que representou, como deputado, na Assembleia Nacional”.
Vamos lá puxar um pouquinho pela memória. No dia 30 de Abril de 2008, uma viatura de marca Land Rover, foi entregue ao rei Ekuikui IV “Katehiotololo” do Bailundo, na sede comunal do Alto Hama, município do Lunduimbali, província do Huambo.
O carro foi entregue pelo coordenador adjunto para a campanha eleitoral do MPLA, João Lourenço, “à margem de um acto político de massas, na sequência do realizado no dia anterior na cidade do Huambo, ao qual o soberano fez questão de assistir”.
“O rei Ekuikui IV do Bailundo, acompanhado por uma das suas esposas, agradeceu o gesto de José Eduardo dos Santos, ao mesmo tempo expressou a sua satisfação pela reabilitação das estradas e progressiva melhoria das condições de vida das populações do Bailundo”, salientou então a agência oficial do regime, ou seja, do MPLA e do seu presidente, José Eduardo dos Santos.
O soberano anunciou então, em declarações à imprensa, que em Setembro desse ano, por ocasião das eleições legislativas, diria algo importante aos angolanos.
Nessa altura ficou a dúvida se o rei iria ao volante do seu Land Rover fazer as anunciadas importantes declarações e. igualmente, uma certeza – o rei não iria cuspir no prato de quem lhe ofereceu a viatura. E foi isso que aconteceu. Ekuikui IV, também conhecido pelo soba dos sobas, manifestou o seu apoio ao MPLA.
De acordo com o comunicado do bureau político do MPLA, “o partido que serviu durante vários anos reconhece nele um exemplo de resistência tenaz contra o colonialismo português, de amor à pátria, de trabalho e de muita devoção à causa da paz, da unidade e reconciliação nacional, da liberdade e desenvolvimento do país”.
Com tantas qualidades só poderia ser do MPLA. Aliás, Ekuikui IV só passou de besta a bestial quando, para além do Land Rover, aceitou filiar-se no partido que governa Angola desde 1975.
Ainda em termos de memória, com a morte do líder da UNITA, Jonas Savimbi, em 2002, e o fim da guerra, Ekuikui IV passou a ser o dono do trono.
E foi depois de 2002 que o até então poderoso, respeitado e honorável reino do Bailundo entrou na sua fase mais descendente com uma inaudita vassalagem ao rei do MPLA, José Eduardo dos Santos.
Vassalagem que, de acordo com a estratégia o MPLA e com a colaboração activa de Ekuikui IV, levou em 2008 à eliminação física do rei Utondossi II.