Manuel Hilberto de Carvalho, “Ganga”, angolano, jovem militante e dirigente da CASA-CE, foi assassinado. Quem disparou foi um elemento da Guarda Presidencial. No dia 12 de Dezembro de 2013 foi apresentada a respectiva queixa na DNIAP e na PGR. Hoje o julgamento foi adiado “sine dia”. É este o país que a maioria não quer mas que uma minoria mantém acorrentado dentro do cárcere do regime.
Por Orlando Castro
J ustiça? Possivelmente nunca. As autoridades procuram ainda o candeeiro que encandeou o autor dos tiros, originando assim que o tiro para o ar acertasse em cheio na vítima.
Nesse fatídico dia, “Ganga” (um angolano de alma e coração) colava cartazes anti-Governo no âmbito de uma manifestação contra a repressão e em repúdio pelas violações sistemáticas dos direitos humanos por parte do regime. Foi um crime de lesa-majestade punível, como se verificou, com a pena de morte imediata e sem julgamento. Tudo a bem da casta superior que dirige o nosso (mais deles do que nosso, é por enquanto certo) país.
Julgando-se iguais aos restantes angolanos, os jovens que colavam cartazes foram diplomaticamente abordados pelos serviçais da Guarda Presidencial que se apresentaram armados até aos dentes e os convidaram a subir, com a sua ajuda – como é óbvio, para as viaturas de serviço. As testemunhas deste civilizado acto de cidadania e de respeito integral pelos direitos humanos dizem que os guardas proferiram “palavras agressivas e ameaças de morte”. Nada de mais errado. Eles limitaram-se a um cordial “sejam bem-vindos a bordo das nossas viaturas”.
A marcha, quase com características nupciais, não foi bem interpretada pelo “Ganga” que, desconfiado com tanta cordialidade que quase roçava uma declaração de amor, não compreendeu que a chegada ao perímetro do Palácio Presidencial visava uma recepção democrática por parte do Presidente. Vai daí, “Ganga” tentou fugir. Chateados, os homens do Presidente dispararam para o ar mas as balas, teimosas, acabaram por o assassinar.
Tanto quanto se crê, a culpa é apenas das balas que desobedeceram e em vez de irem para o ar foram direitinhas ao corpo do “Ganga”.
“Ganga” foi fisicamente assassinado. No entanto, os seus carrascos (os que dispararam e os que os autorizam a disparar) não conseguiram matar a sua alma e o seu espírito de resistência. Ele é, aliás, o “patrono da juventude patriótica de Angola”.
Para o regime o importante é matar os opositores. O resto é tudo uma questão de formalidades. Se for preciso arranjar bodes expiatórios, eles serão fabricados e punidos. E é por isso que o jornalista Ricardo de Melo foi morto, tal como Nfulumpinga Landu Victor, líder do PDP-ANA.
A guarda do Presidente é que matou, obviamente são os guardas do Presidente da República que podem matar. Mas é o Presidente que dá ordens. Ou não?
Na altura, segundo o porta-voz do Comando Geral da Polícia Nacional do MPLA (que alguns de nós teimam, ingenuamente, em dizer que é de Angola), Aristófanes dos Santos, o grupo, do qual “Ganga” fazia parte “foi detido quando procedia à afixação indevida de cartazes de propaganda subversiva de carácter ofensivo e injurioso ao Estado e aos seus dirigentes, tendo os mesmos sido prontamente neutralizados por uma patrulha da Guarnição do Palácio Presidencial, resultando na sua detenção”.
Simples. Se alguém, que não seja do regime, foge é porque está comprometido com um golpe de Estado e, por isso, é abatido. Se não foge, é preso, torturado e encaminhado para a cadeia de segurança mais do que máxima, ou seja para a cadeia alimentar dos jacarés.