Com uma boa transformação do café solúvel Angola terá mercado para exportar a sua produção principalmente, para os países da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral ( SADC), disse hoje, em Luanda, a ex-secretária da Organização Inter-Africana do Café (OIAC), Josefa Sacko.
A ngola tem vantagem comparativa em termos económicos em relação aos países da região. Só na nossa região podemos fazer uma indústria transformadora como a que é feita em outros sectores , disse Josefa Sacko em entrevista à Angop.
Segundo referiu, Angola neste momento está a ditar a sua própria sorte, pois está diante de um mercado com 160 milhões de habitantes (África do Sul e RDC com 80 milhões de habitantes cada), sem contar com os restantes membros da SADC. Angola pode aproveitar este momento para implementar um bom programa e reactivar o sector.
Por outro lado, disse, Angola tem também boas relações com a China e pode aproveitar este mercado para vender o café solúvel que é muito prático para ser confeccionado.
A titulo de exemplo, fez referência ao Vietname que há cerca de 20 anos não produzia café e que depois do conflito armado que o pais viveu o Banco Mundial financiou a produção e hoje é o segundo produtor mundial.
Ao referir-se aos caminhos-de-ferro reabilitados no país e aos espaços que se pretende abrir a nível regional, apontou a produção do café como uma das grandes culturas que deverá originar um negócio entre Angola e os restantes países, a exemplo do negócio activo praticado na África Ocidental entre a Nigéria e o Senegal.
Quanto à produção do café especial em Angola (chamado café nicho), referiu que este tipo de café existe normalmente em certas economias com um grande volume de produção.
Este tipo de café que Angola já teve quando a sua produção era considerável (café Ginga), tem um prémio, mercado e é cotado no mercado internacional. É um café comprado ou pelos EUA ou pelo Japão, enquanto os outros tipos de café podem atingir todos os mercados.
Entretanto, a especialista é de opinião que, para um país como Angola com potencial enorme e terras de grandes dimensões, produzir este tipo de café traria um pouco de desequilíbrio em relação aos outros produtores podendo até mesmo criar problemas sociais.
Por este facto, sublinhou, a saída para Angola neste momento seria primeiro a organização do sector e a produção.
“O grande problema do café especial é que o mesmo passa pela certificação e no continente africano existem grandes debates em relação a quem deve pagar esta certificação que é muito cara”, sublinhou.
Entretanto, frisou, “se Angola quer apostar num mercado nicho deve primeiro organizar o mercado nacional e quando chegar no mínimo em 50 mil toneladas pode dizer que já é um país médio e então ver onde se produz e onde pode fazer o café de especialidade”.
Informou ainda que Angola vai em Dezembro próximo, na qualidade de presidente da OIAC, albergar a 55ª sessão da organização, altura em que o país deverá aproveitar para lançar as bases do projecto de fomento já elaborado pelo OIAC, e começar a trabalhar com o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) , para validar o projecto e se conseguir o financiamento.
Por isso, referiu-se a necessidade de se sensibilizar os jovens que estão nesta área bem como os desempregados dando-lhes parcelas de terra para o fomento da produção já que são uma mão de obra que se deve aproveitar.
A nível do mercado mundial do café, neste momento o grão está bem cotado no mercado internacional. O “arábica” está a ser comercializado 4 dólares o quilo, enquanto o “robusta”, dependendo da sua qualidade, custa entre 2, 5 a três dólares o quilo.
Em termos de procura, na campanha 2014/2015 a projecção de consumo estava estimada em 145 milhões de sacos enquanto a produção estava à volta de 123 milhões de sacos. O que indica que, neste momento, há um défice de 2 a 4 milhões de sacos que poderá aumentar para 20 milhões até 2020.
Por isso, sublinhou, “se Angola lançar as bases em Novembro para a reabilitação da nossa cafeicultura, já que o ciclo vegetativo do café é de três anos e o seu rendimento começa em cinco anos, estaremos em condições para abastecer algum mercado , sublinhou Josefa Sacko.
Recorde-se que, em Novembro do ano passado, o Governo aprovou a privatização e venda de 100% do capital da empresa pública de produção de café Liangol à Angonabeiro, unidade do grupo português Nabeiro que trabalha em Angola há 15 anos.
A decisão consta de um decreto executivo conjunto dos ministros da Economia, Abrahão Gourgel, e da Indústria, Bernarda da Silva, de 13 de Novembro de 2014.
Aquele grupo português já tinha sido convidado pelo Executivo angolano a colaborar na reactivação da antiga fábrica de café Liangol, em Luanda, uma unidade produtiva agora com a marca Ginga. Esta será retirada à estatal Empresa de Liofilização e Moagem de Café (Limoca), conforme estabelece o mesmo decreto, e vendida à Angonabeiro.
Angola já foi o quarto maior produtor mundial de café, com 200 mil toneladas anuais, antes de 1975. Essa produção está hoje reduzida a menos de 10%, fruto do abandono do cultivo durante a guerra civil angolana.
O Executivo angolano justifica a privatização desta fábrica com um programa económico nacional para “valorizar as unidades industriais com elevado potencial de crescimento e geradoras de divisas”.
A actual fábrica Liangol foi inaugurada a 25 de Maio de 2001 e assegura a torrefacção de café, com a recuperação da marca angolana Ginga.
O mesmo decreto recorda que a Angonabeiro “pretende expandir a produção e comercialização, no mercado nacional e internacional, do café de marca Ginga, com a injecção de capitais adicionais, tecnologia e ‘know-how’ na cadeia produtiva e nos canais de distribuição”. Reconhece ainda o “impacto” que o processo de privatização da Liangol terá na economia nacional, “particularmente ao nível das contas nacionais e sobre o mercado de trabalho do país”.
O Executivo aprova desta forma a privatização daquela fábrica, a 100%, “por ajuste directo a favor da Angonabeiro – Comércio e Indústria de Café”, refere o decreto.
A Angonabeiro é uma empresa do grupo Nabeiro, fundado em 1961 pelo comendador Rui Nabeiro, com sede em Campo Maior. Desde 2000 que a Angonabeiro actua no mercado angolano, na área do comércio e da indústria, através das marcas de café Ginga e Delta, entre outros produtos.