A tarefa não parece fácil na FNLA, porquanto Lucas Ngonda é acusado de não pretender manter o partido histórico como referência no xadrez da democracia em Angola.
“E le quer afundar o partido”, disse um antigo combatente, confirmando ter participado na marcha de pressão, “para haver um entendimento entre os dois maiores. Se alguém não quiser deixar que sejamos nós a escolher o líder, estaremos dispostos a dar as nossas vidas, pelo nosso partido”, assegurou, acrescentando: “desta vez tem de haver entendimento e menos traição, para honrarmos a memória do nosso presidente fundador, Holden Roberto, ou então vão conhecer quem são os verdadeiros antigos combatentes”.
Entretanto um homem da ala de Lucas Ngonda diz: “ele sempre esteve disposto a dialogar, existem é alguns pontos divergentes entre as duas alas, difíceis de ultrapassar, mas quando existe uma vontade séria entre as partes tudo se resolve”.
E face a este desaguisado e o subir de tom dos militantes, o actual presidente da FNLA terá cedido às pressões, principalmente, dos antigos combatentes aceitando a criação de uma comissão preparatória conjunta, visando que todos os militantes possam participar no congresso, afastando o cepticismo de Ngola Kabangu, quando se dirigiu na reunião da Comissão Política aos seus partidários: “Se nada for feito ainda em Janeiro poder-se-á assistir a morte da FNLA”.
Todos em uníssono disseram não e que tudo farão para “convencer os outros irmãos a abandonarem o caminho do receio, do medo e da traição, pois este não é nobre. A FNLA só é forte unida, não dividida para ser extinta. O irmão Lucas quer ser o coveiro do partido? Como ele vai encarar os antigos combatentes? A situação é cr+itica, temos de ser patriotas e verdadeiros militantes”, disse um histórico.
As posições extremas e a dupla liderança, têm estado na base do fraco desempenho do mais antigo partido de Angola, que poderá agora ver realizado um congresso conjunto no dia 13 de Fevereiro. E se isso acontecer mérito seja dado aos históricos, que obrigam os dois líderes a deixar os caprichos de parte e optarem para uma solução nobre.
“A manifestação do dia 21.01, foi apenas um alerta do que nós somos capazes de fazer. Chega de palhaçada. Honrem a memória dos que morreram para que hoje se pudesse falar de FNLA e de Holden Roberto. Nós estamos a passar fome e morrer com vergonha, não continuem a fazer esse teatro. Se hoje o Ngonda está no parlamento é por nós termos lutado, então, já que não respeitou o nosso mais velho em vida, seja homem de palavra e deixe de ambição. Vamos para o congresso e quem tiver a melhor proposta que ganhe. Aí ninguém vai sair derrotado, pois a FNLA ganhará. Depois, se um fica no parlamento outro trabalhe na mobilização do partido, para as próximas eleições, temos muito a fazer, poucas inteligências e recursos”, disse Mbuila João.
A manifestação diante da sede de Lucas Ngonda no Maculusso, teve a exibição de cartazes, dísticos e cânticos, apelando ao fim da divisão e à realização de um Congresso de Reconciliação Interna da Grande Família da FNLA, sem exclusão.
“Quem tem medo de um congresso conjunto é traidor! “
“É lacaio do governo!”
“É assassino contratado para matar a FNLA”
“FNLA oyé, Holden Oyé”
“Um congresso para todos e de todos”.
Estas palavras e determinação parecem ter calado fundo e, para não ser acusado de ter medo, Lucas Ngonda reuniu por mais de três horas com uma delegação mandatada por Ngola Kabangu, chefiada por Maria Margarida Cardoso, que defende “ter andado mal o Tribunal Constitucional, com a grave interferência na vida dos partidos políticos, que é regulada pela Lei dos Partidos Políticos. O Tribunal Constitucional deve ater-se a questões da violação das normas constitucionais, não preocupar-se com quem deve ser o presidente de um partido, no caso da FNLA. Nós não vamos mais reconhecer um candidato imposto por uma instância estranha ao partido. Se isso voltar a acontecer não iremos respeitar. A decisão tem de ser dos militantes genuínos da FNLA”.
No entanto, Margarida Cardoso não deixou de estar optimista, reconhecendo que Lucas Ngonda prometeu responder no mais curto espaço de tempo, às questões postas à mesa pela outra parte visando um congresso de unidade.
“Do nosso lado está tudo pronto e já temos a comissão negocial constituída”, disse a porta-voz de Ngola Kabangu, que defende a realização de “um congresso conjunto”.
A grande novidade, saída do encontro foi a integração dos mais de 380 antigos membros do Conselho Político Nacional que haviam sido expulsos de forma anti-estatutária, nas listas como potenciais delegados ao próximo congresso.
Para Laiz Eduardo, coordenador da comissão preparatória do congresso as bases estão lançadas, tanto que já há um compromisso de ao invés de Janeiro ser realizado o congresso no dia 13 de Fevereiro.
“Foi um encontro produtivo, franco e aberto e travado entre irmãos”, reconheceu Laiz Eduardo, que havia abandonado Lucas Ngonda para se filiar na extinta Nova Democracia, entretanto extinta e que agora regressa à casa.
“Nós já criamos um quadro em que todos os 321 membros do ex-Conselho Político Nacional participam como delegados ao congresso”, confirmou o velho, novo homem forte de Ngonda, corroborada por Margarida, a dama de ferro de Kabangu: “do nosso lado está tudo pronto e já temos a comissão negocial constituída”.
Agora resta esperar pelos próximos desenvolvimentos.