Os angolanos não devem ficar calados perante o que se está a passar, “porque é preciso começar a resgatar o país das mãos dos que o conspurcam”, defende o jornalista Rafael Marques.
“É fundamental. É preciso começarmos a resgatar o país das mãos daqueles que conspurcam o nome de Angola e fazem de Angola uma coutada privada”, frisa Rafael Marques.
As condenações em tribunal do anterior responsável da “secreta” angolana, general Fernando Miala, e do director do semanário “Angolense”, Graça Campos, e a “arbitrariedade” das autoridades no alegado motim da cadeia de Luanda levam Rafael Marques a considerar que “os angolanos não devem ficar calados”.
“O que deve ser dito de forma clara e inequívoca é que o que está a acontecer em Angola não merece o silêncio dos angolanos. Merece a denúncia, merece a repulsa”, destacou. No caso do general Miala, condenado a quatro anos de cadeia, Rafael Marques confessa que não ficou surpreendido com a decisão do tribunal.
“Angola não se rege pelas regras do Direito. Rege-se pelas normas do poder arbitrário. Logo a sentença não podia ser uma surpresa”, salientou.
“Era preciso eliminar o homem. Um homem que durante muitos anos pensava que estava a servir o país, mas que, na verdade, estava a servir um grupo de indivíduos, encabeçado pelo Presidente da República (José Eduardo dos Santos)”, disse.
“Já não precisavam dele porque já consolidaram o seu poder. O processo do general Miala é similar ao processo de `27 de Maio`, em que as pessoas que defenderam (o primeiro Presidente angolano) Agostinho Neto foram mortas para dar lugar, dar espaço às famílias parasitárias que hoje dominam e privatizam o país a seu bel-prazer”, acusou.
“Tudo o resto é um ardil”, garantiu.
No caso do jornalista Graça Campos, condenado a oito meses de cadeia por injúrias e difamação ao ministro da Justiça, Paulo Tjipilica, Rafael Marques acredita estar perante “mais uma prova de falta de seriedade do sistema jurídico”.
“Temos em Angola um sistema jurídico que continua a ser dominado por figuras que têm um passado duvidoso quanto à promoção do estado de Direito”, acrescentou.
A condenação de Graça Campos é “injustificável”, porque, tratando-se de um caso de difamação dever-se-ia ter aplicado uma pena suspensa.
Instado a dizer se a pena pode traduzir um aviso à restante imprensa angolana, tendo em conta que o país irá em breve a eleições, Rafael Marques acha que não.
Esses avisos têm sido feitos de forma regular. Este não é o primeiro aviso. Mas devo dizer que há vários projectos ligados a figuras do próprio regime, em que se incluem também os filhos do Presidente da República, para a criação de outros órgãos de comunicação social”, vincou.
O objectivo, considerou, “é afastar os escolhos para permitir que esses projectos possam singrar e ocupar o espaço que neste momento foi conquistado pela imprensa privada”.
Rafael Marques considera que “não há abertura que permita vislumbrar alternativas de poder” e essa situação, acredita, “foi feita de forma propositada”.
“Foi feito de forma propositada, aniquilando, manietando e corrompendo os opositores”, afirmou.
“Angola é um país em que se promove a fome, em que se promove a pobreza e em que se promove a luxúria como formas de desagregação do tecido social e da coesão social. As pessoas acabam sempre por se inclinar ou não resistir à corrupção”, acrescentou.
“Sou um cidadão livre. Não temo ninguém porque não cometi nenhum crime e Angola é também o meu país. Sou um patriota e sou tanto angolano como o Presidente da República, José Eduardo dos Santos”, frisou.
Nota: Artigo publicado no Notícias Lusófonas em 5 de Outubro de 2007