Violência eleitoral ensombra Moçambique

O presidente da Comissão Nacional de Eleições de Moçambique (CNE) considerou hoje que os incidentes de violência durante a campanha para as eleições gerais mancharam o processo eleitoral, alertando para o possível crescimento da tensão antes da votação.

“Foram incidentes feios e maus que serviram para manchar este processo tão bonito, que todos pretendíamos que fosse. O povo moçambicano não quer mais situações de instabilidade, de violência. As pessoas não querem ver e viver violência”, afirmou Abdul Carimo (foto), durante um encontro com líderes religiosos moçambicanos.

Conflitos envolvendo militantes da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder  desde a independência, e do Movimento Democrático de Moçambique, nas províncias de Gaza (sul) e de Nampula (norte) foram registados durante o primeiro mês da campanha para as eleições presidenciais, legislativas e das assembleias provinciais, sobrepondo-se, segundo o presidente da CNE, aos aspectos positivos do processo.

“Alguns militantes dos partidos políticos não compreendem e entram em actos de vandalismo puro. Aquelas imagens [de violência] não são só transportadas para todo o povo moçambicano, mas também para o estrangeiro, e fica-se com a imagem negativa de que o povo moçambicano é violento, quando são três ou quatro incidentes”, lamentou o responsável.

No encontro que manteve hoje com cerca de cinco dezenas de líderes religiosos, Abdul Carimo traçou um balanço sobre todo o processo eleitoral, cujo início ficou marcado pela alteração da revisão da lei eleitoral, no quadro das negociações entre o Governo moçambicano e a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), maior partido da oposição, com vista à cessação das hostilidades militares entre as partes, que abalaram o país durante cerca de um ano e meio.

Atendendo ao histórico de acções de violência registadas em actos eleitorais no país, muitas vezes fomentadas por partidos que “usam crianças e jovens, dando-lhes bebidas alcoólicas para que causem distúrbios”, a CNE, referiu Abdul Carimo, empreendeu uma ampla acção de consciencialização das estruturas partidárias, da comunicação social e da sociedade civil, procurando evitar que estes incidentes ocorressem no actual processo.

“A prática demonstrou o contrário e, apesar de todos os apelos e exortações, de todos os encontros com os vários representantes partidários, houve situações tristes de violência”, afirmou perante os vários líderes religiosos, exortando-os a apelarem aos “crentes” para que não se envolvam em conflitos.

“Juntem-se a nós para apelarmos e exortarmos ao povo moçambicano, de um modo geral, e das lideranças partidárias, de um modo particular, no sentido de eles colaborarem e cooperarem connosco, realizando uma campanha pacífica, sem desobedecer aos ditames da lei”, disse.

Abdul Carimo alertou para o facto do “ato da votação e do apuramento dos resultados” tender “normalmente” para a “exaltação dos ânimos”, o que leva as “pessoas a ficarem mais tensas”, reforçando assim a pertinência do seu apelo às várias confissões religiosas.

“Apoiem-nos [igualmente] na divulgação da mensagem de apelo para uma maior participação dos cidadãos eleitores, porque temos constatado que o nível de participação para as eleições gerais tem estado a decrescer”, destacou.

As eleições gerais moçambicanas realizam-se a 15 de Outubro, estando na corrida às presidenciais os candidatos Filipe Nyusi (Frelimo), Afonso Dhlakama (Renamo) e Daviz Simango (MDM), e concorrendo às eleições legislativas e das assembleias provinciais 30 partidos políticos.

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