CAVIAR PARA UNS, FARELO PARA A MAIORIA

Em toda a Lusofonia (ainda alguém sabe o que isso é?), os que têm, pelo menos, três refeições por dia têm razões para cantar e rir. E por isso vão comendo, cantando e rindo. E os milhões que nem um prato de pirão têm? Só em Angola são mais de 20 milhões…

A malária continua a matar as crianças angolanas que pertencem a essa “etnia” que o MPLA/Estado/regime considera angolanos de segunda. Ou será de terceira? O que vale, dirá o governo do general João Lourenço, é que esta doença que mais mata no nosso país não atinge todas as regiões. É verdade. O MPLA tem “ilhas” privadas e privativas onde a malária não entra. E se entrar há sempre um avião pronto a deslocar para os EUA, Espanha ou Portugal.

Em todo o Mundo, mais 800 milhões de pessoas sentem todos os dias, a todas as horas, o que é a fome. Quase todas nasceram com fome, sobreviveram com fome e morrem com fome. Neste caso, como noutros, Angola também não deixa os seus créditos por fomes alheias.

Muitas delas pertencem à Lusofonia, apesar de os responsáveis por essa aberração chamada Comunidade dos Países de Língua Portuguesa continuarem a ter (pelo menos) três lautas refeições por dia. O contributo lusófono para esta dramática cifra é relevante, pese a passividade e indiferença criminosa dos países que (des)integram a CPLP.

Mais do que o peixe, os milhões de famintos da Lusofonia precisam de aprender a pescar. Mas quem é que os pode ensinar? Se calhar poderia ser o Estado. No nosso caso, o MPLA que é o Estado há 49 anos. Mas este não o faz porque a mandioca, ou farelo como dizia Kundi Paihama, não se… pescam.

15.000 crianças morrem todos os dias antes de completar os cinco anos, a maioria devido a causas preveníveis; a maior parte destas mortes têm lugar na África Subsariana e na Ásia Meridional;

Em 2016, cerca de 2.600 crianças morreram nas primeiras 24 horas de vida. Para quase 2 milhões de recém-nascidos, a sua primeira semana de vida foi também a última. A ausência de pessoal especializado de saúde durante o parto e nos dias que se seguem é um dos principais factores que contribuem para esta realidade;

156 milhões de crianças sofrem de subnutrição crónica no mundo, comprometendo de maneira irreversível o seu desenvolvimento físico e intelectual;

844 milhões de pessoas não têm acesso a água potável e 2.300 milhões não dispõem de saneamento básico adequado;

61 milhões de crianças em idade escolar primária (dos 6 aos 11 anos) estão fora da escola; mais de metade são raparigas;

Há cerca de 1.000 milhões de crianças em idade escolar do primeiro e segundo ciclos de ensino, mas muitas não beneficiam de uma educação de qualidade devido à pobreza, conflitos, discriminação de género, deficiência ou origem étnica;

Em muitos países, as raparigas enfrentam barreiras sociais e culturais que as impedem de ir à escola, limitando o seu pleno desenvolvimento;

75 milhões de crianças foram forçadas a interromper a sua educação devido a crises humanitárias e conflitos de longo prazo.

Muitas crianças em todo o mundo estão expostas a diferentes formas de exploração, abuso, violência ou exclusão e precisam de protecção.

Ao proteger hoje as crianças mais vulneráveis – dando-lhes uma oportunidade justa – ajudaria a romper o ciclo da pobreza extrema. Investir nas crianças mais vulneráveis pode produzir benefícios imediatos e a longo prazo, tanto para as próprias crianças como para a sociedade. A protecção de todas as crianças é urgente, em especial as mais desfavorecidas:

230 milhões de crianças não são registadas ao nascer, o que as impede de ter um nome, uma nacionalidade, acesso aos serviços de saúde, educação e protecção;

O número de crianças afectadas por conflitos é cada vez maior e mais preocupante. As crianças são vítimas de uma violência extrema, sem que as leis internacionais designadas para as proteger consigam evitar estes abusos;

As crianças estão expostas a doenças infecciosas e a riscos diversos para a sua integridade física e moral, com falta de comida, água potável e cuidados de saúde;

O trabalho infantil existe como resultado da pobreza e da vulnerabilidade infantil. As crianças que trabalham perdem o direito à educação e estão expostas a situações de risco.

A Sida já infectou mais de 60 milhões de pessoas e tirou a vida a um terço destas e a malária mata 2,5 milhões de pessoas anualmente. Esta continua a ser uma outra vertente da Lusofonia e, é claro, de Angola.

Por esse Mundo, 1,6 mil milhões de pessoas não têm acesso a electricidade e a maioria recorre à queima de combustíveis que provocam a poluição do ar e problemas respiratórios. Queiramos ou não, também aqui a Angola dá o seu contributo.

Uma superfície de floresta tropical húmida do tamanho de um estádio de futebol é destruída em cada cinco segundos; e dentro de 30 anos um quarto dos mamíferos terá desaparecido. Novamente encontramos uma quota-parte desta verdade na Lusofonia em geral.

Segundo Judith Lewis, do Programa Alimentar Mundial (PAM) da ONU, cerca de 12 milhões de pessoas poderão morrer de fome em Angola, Botswana, Lesoto, Malaui, Moçambique, Suazilândia, Zâmbia e Zimbabwe se não forem distribuídos toneladas e toneladas de cereais.

Até há pouco, o argumento da guerra (sobretudo em Angola e Moçambique, mas não só) serviu às mil maravilhas para que esse elefante branco que dá pelo nome de CPLP, enquanto organização que congrega os países lusófonos, dissesse que só podia – quando podia – mandar algum peixe. Para ensinar a pescar era imprescindível a paz. E agora?

Segundo declarações de José Eduardo dos Santos, que “só” esteve no poder 38 anos sem nunca ter sido nominalmente eleito, existia a esperança de que “a vontade política que norteia a CPLP, bem como as excelentes relações entre os seus membros dêem lugar a programas concretos que fomentem o crescimento económico, a erradicação da pobreza e a integração social, para que a médio/largo prazo pudéssemos estar todos no mesmo patamar de desenvolvimento”.

E acrescentou: “Deve-se, por isso, pensar muito seriamente na criação de facilidades financeiras para a promoção recíproca do investimento e da cooperação económica”.

Todos estão de acordo. Só que… continua a não fazer sentido pedir aos pobres dos países ricos para dar aos ricos dos países supostamente pobres. Ou será que continua? Pelos vistos os doadores estão de acordo. E, é claro, os reais beneficiados (no caso de Angola, os ricos de um país rico) também alinham. Pudera!

Em vez de se preocupar com o povo que não pode tomar antibióticos (e não pode porque eles, quando existem, são para tomar depois de uma coisa que o povo não tem: refeições), Angola mostra-se agora mais virada para questões políticas, nas quais cabe a punição de quem seja corrupto e de quem branqueie capitais. Isto se forem pilha-galinhas. Se forem donos do aviário a coisa muda de figura. Aí gozam de impunidade garantida pela lei das leis do MPLA/Estado, cujo patrono é um emblemática figura da honorabilidade angolana – o general João Lourenço.

Que adiantará ter uma suposta democracia quando se tem a barriga vazia? Valerá a pena pedir, ou exigir, aos jovens manifestantes angolanos que respeitem a legalidade se o que eles querem é apenas que o povo não morra à fome?

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