Um grupo de jovens concentrou-se em frente ao Consulado angolano em Lisboa para exigir a libertação imediata dos activistas presos em Angola. E já se preparam mais protestos deste género em Portugal e em Angola.
Por Manuel Ribeiro
DW África
O protesto simbólico que teve lugar na tarde desta sexta-feira, na capital portuguesa, procurou ser o precursor de mais acções por parte da sociedade civil portuguesa no sentido de se acabar com a repressão existente em Angola.
O protesto foi convocado por um grupo de cidadãos que estão preocupados com as constantes violações de direitos humanos registadas em Angola.
“É uma chamada de atenção”, explica a portuguesa Margarida Lima, uma das impulsionadoras desta vigília simbólica que quis “trazer este problema que está a acontecer em Luanda para as ruas, para a frente dos representantes do Governo angolano em Lisboa”.
Segundo Margarida Lima, “é uma mensagem de solidariedade, de muito respeito e de muita admiração por estas pessoas que estão presas em Luanda”. A maioria dos portugueses, “até mesmo activistas”, acrescenta, “não tem bem a noção do nível de repressão vivido em Angola”.
A portuguesa, que faz parte de um jornal independente, diz que este protesto não foi convocado por nenhuma associação, mas por um grupo de jovens – alguns dos quais ligados a espaços culturais alternativos – que se auto-organizaram tal como os jovens activistas detidos em Luanda.
Fotografados por funcionários consulares
Pouco depois de ter começado o protesto, Margarida Lima descreveu via telefone à DW África como estava a decorrer a vigília em frente ao Consulado de Angola em Lisboa. “Muita polícia, muitos agentes do consulado a fotografarem-nos, mas estamos tranquilos. Temos faixas e estamos a distribuir folhetos com informação”.
Segundo a jovem manifestante, a própria polícia avisou-os que os funcionários do Consulado não tinham autorização para lhes tirar fotografias. “E pediram-lhes para que parassem de nos fotografar.”
João Paulo Batalha, o director executivo da organização não-governamental Transparência e Integridade – Associação Cívica (TIAC), considera importante que “a sociedade civil em países como em Portugal se mobilize em defesa dos presos políticos angolanos”.
Para o representante da TIAC, é “inqualificável do ponto de vista dos direitos humanos” que os jovens activistas estejam presos pelo crime de se reunirem e por terem opiniões críticas sobre o regime.
Silêncio “complacente” de Portugal
“Angola está rapidamente a deixar de ser um país democrático e está a transformar-se aceleradamente numa ditadura, em que o poder político é cada vez mais forte com os cidadãos”, sublinha ainda João Paulo Batalha.
O director executivo da TIAC critica o silêncio do Governo português por não tomar posições acerca destes actos de repressão registados em Angola.
“Os sucessivos governos em Portugal têm uma atitude de absoluta subserviência com o poder angolano e de complacência com a corrupção”, acusa.
Têm de ser os cidadãos em Portugal e em Angola a protestar e a denunciarem estes “negócios políticos”, diz João Paulo Batalha, porque “há falta de vontade dos responsáveis políticos”.
A DW África apurou que já estão a ser preparados mais protestos desta natureza tanto em Portugal como em Angola. Para 29 de Julho está agendada para a capital angolana uma manifestação para denunciar “detenções arbitrárias” e “perseguições políticas”. E também para exigir a libertação dos activistas detidos recentemente.
Finalmente, a luta contra o regime ditatorial angolano começou fora de Angola! O começo não será só começo, espero. Agora, nunca mais vai haver medo de falar. Que o mundo oiça e veja!