DIÁLOGO, PAZ E ESPERANÇA? PARA JOÃO LOURENÇO… NÃO!

O destino que se impõe a um povo acaba sempre por vingar-se, pois ao fugir do diálogo, ao matar a esperança dos povos, ao minar a resolução pacífica do conflito em Cabinda, João Lourenço e o MPLA afirmam saber para onde vão, mas todos os angolanos vêem que o país não vai a lado nenhum, mas sobretudo à deriva.

Por Osvaldo Franque Buela (*)

Com João Lourenço e no início do seu consulado, todos nós acreditávamos que finalmente um grande destino aguardava Angola… mas rapidamente percebemos que este destino nem sequer está em transição, pior, certamente não verá o dia.

As suas primeiras acções como presidente foram aclamadas com entusiasmo, porque ele prometeu realizar reformas ousadas para reduzir as desigualdades, prometeu iniciativas inovadoras para estimular a economia, fazer de Cabinda um lugar onde faria bem viver e um compromisso firme a favor da justiça social, mas… tudo isso está agora longe, muito longe da realidade.

Os observadores internacionais começaram a elogiar a sua liderança, que consideravam esclarecida, acreditando que poderia empregar competências para navegar nas águas turbulentas da geopolítica com notável sabedoria e diplomacia. Todos acreditavam que parecia ter todas as cartas nas mãos para inscrever o seu nome em letras de ouro na história da nação angolana, para se tornar um verdadeiro construtor, um guia visionário e reformador do modelo de Deng Xiao Ping, capaz de conduzir o seu povo para um futuro risonho.

O futuro deste grande país e destes dois povos (Angola e Cabinda), que até hoje precisam de paz de corações, desenvolvimento e reconciliação, congelou-se bruscamente, preso em discursos de ódio partidário, de separatismo, de arbitrariedade, do despotismo, da desorganização financeira e da militarização do espaço das liberdades por parte dos “securocratas” às ordens dos generais Fernando Garcia Miala, Lourenço Cerqueira, Matias Bertino Matondo e Francisco Pereira Furtado, que mantêm o país num eterno golpe do estado constitucional, bloqueando-o em quarentena da estratégia do seu gabinete de acção psicológica.

No entanto, uma sombra insidiosa começou a espalhar-se por todo o país. João Lourenço não era capaz de carregar sobre os seus ombros o imenso peso do poder, não tinha a capacidade de assumir os compromissos necessários para manter uma frágil coligação ou transição entre os antigos colaboradores dos seu antecessor, e começou a ouvir as sereias da corrupção dos cortesãos que sussurravam aos seus ouvidos. Lentamente, imperceptivelmente e com segurança, o idealismo de seus primeiros dias pareceu diminuir. As decisões tornaram-se mais hesitantes e confusas, as prioridades menos claras, e uma distância se instalou entre ele e o povo que tanto acreditara nele.

O que aconteceu na cabeça dele e como? Ninguém pode ajudar-nos a entender e responder a essa pergunta, sobretudo porque Eduardo dos Santos que o escolheu já não faz parte deste mundo.

Há razões para se perguntar uma coisa, ou os quatro generais mais influentes do país não ajudam o presidente como deveria, ou é um acordo e uma cumplicidade cordial na incapacidade de construir um país cujo acesso proíbem ao povo soberano, porque a única coisa que conseguiram fazer foi selar o horizonte e o destino do país em seus nomes.

No final, o país não vai a lugar nenhum enquanto transporta as mesmas caras e os mesmos nomes para todos os destinos, neste caos previsível que se torna cada vez mais inevitável.

Como se pode governar com medo da paz?

Após análise, posso afirmar que João Lourenço tem motivos para ter medo da paz por várias razões complexas, muitas vezes enraizadas em experiências passadas, como, por exemplo, algum ódio contra a família Neto e dos Santos profundamente enraizados nele e outros aspectos psicológicos, caso contrário não há nenhuma outra razão para isso.

Tenho notado que para algumas pessoas como ele, todos aqueles que o rodeiam e o seu partido, o MPLA, tendo vivido durante muito tempo em ambientes conflituosos (guerra, violência), que têm uma forte familiaridade com o caos e dificuldade em mudar e virar a página, o caos e a tensão constante tornaram-se uma espécie de “normalidade” ou mesmo paradoxalmente uma zona de conforto, tanto que a paz, com a sua ausência de violência, pode então parecer estranha, até ameaçadora.

Indivíduos como João Lourenço e a sua camarilha de vingadores, que construíram as suas carreiras e identidades em torno do seu papel na guerra, a paz de que o povo necessita, a reconciliação e a harmonia social, podem então pôr tudo em causa e gerar um sentimento de instabilidade, esse medo de perda de poder ou de falta de perspectivas nas suas cabecinhas cobardes e incompetentes.

Conscientes de todas as injustiças que fazem sofrer à oposição e não só aos cabindas mas também aos angolanos, sabem perfeitamente que a transição para a paz implica muitas vezes incerteza quanto ao seu próprio futuro, pelo facto de matar deliberadamente o futuro dos outros.

As estruturas sociais, as relações de poder e os estilos de vida que podem mudar radicalmente geram em si a incerteza, a ansiedade e o medo do que pode acontecer.

O medo da traição ou da vulnerabilidade que ele fez sofrer a Eduardo dos Santos e sua família nunca vai deixar de assombrá-lo. Ciente de tudo isso, João Lourenço vive agora numa espécie de desconfiança persistente para com certos velhos amigos, tornados novos inimigos, e neste clima insalubre mantido pelos seus generais, a paz pode ser vista como uma abertura à vulnerabilidade ou a uma potencial traição futura.

Nosso João Lourenço pode sofrer de um dos factores psicológicos individuais, embora raro, chamado “cherofobia”, que não é outra coisa senão o medo irracional da felicidade. Pessoas como ele, com “querofobia” eu tenho certeza, farão de tudo para evitar inconscientemente ou não as situações que podem trazer paz e alegria para ele e para o seu próprio país, porque associam a felicidade com algo negativo que pode arrancar-lhes tudo.

É por isso que ninguém compreende o facto de como João Lourenço, mesmo à cabeça da União Africana, propugna o diálogo e a negociação nos outros mas não em si mesmo em Angola, apesar das boas intenções da verdadeira oposição encarnada na UNITA. Não esqueçam que ele conta também com a passividade de uma população faminta, desempregada, pobre e doente que assiste passivamente a todas as leis retrógradas que ele impõe em seu parlamento dos submissos como uma luta que diz respeito pessoalmente à UNITA e aos outros, não de todos nós como povo.

A iniciativa da UNITA pela paz em Cabinda que de alguma forma expôs sua imagem desastrosa de chefe de guerra diante da imprensa do mundo inteiro, teve como solução ir comprar alguns desertores famintos do FLEC que a Miala e os outros vão usar para iniciar uma grande ofensiva militar em Cabinda, para acabar com as FAC que eles disseram não representar uma ameaça.

Agora é da responsabilidade daqueles que querem a paz saltar o muro da dignidade, abandonar a luta pela felicidade coletiva e passar para o outro lado da barreira onde os lugares do banquete para 2027 já estão abertos e sem desculpas para os atrasados, basta baixar as calças, curvar-se e lamber as botas do imperador para ter um lugar de honra nesta mesa sem dignidade, ter o estômago cheio, e andar num carro de luxo.

Quando os outros que se dizem democratas, amantes da paz de justiça, a dita paz vos espera no cemitério depois de terem recebido alguns doces e chocolates da parte da polícia, se não é em uma ravina perdida na floresta do maiombe e por que não no rio Bengo no fundo do estômago de um jacaré

A Paz e o diálogo não é um luxo para o MPLA, é para os outros países, longe de Angola…

(*) Escritor, pan-africanista, refugiado politico em França

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