Em Maio, o presidente russo, Vladimir Putin, demitiu o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, nomeando o vice-primeiro ministro, Andrei Belousuv, para o lugar. Ao contrário do “esperado”, ainda não foi desta que o general João Manuel chegou ao governo russo.
Por Orlando Castro (*)
De acordo com a agência Associated Press, depois de propor a demissão de Sergei Shoigu, Vladimir Putin assinou um decreto a nomeá-lo secretário do conselho de segurança nacional da Rússia, substituindo Nikolai Patrushev.
Esta remodelação surgiu numa altura em que Putin iniciava o seu quinto mandato presidencial e a guerra na Ucrânia dura há mais de três anos. Recorde-se que João Manuel previa que, dois meses depois da invasão, Putin iria passear em Kiev.
Além disso, a mudança aconteceu semanas depois de o vice-ministro da Defesa russo Timur Ivanov, responsável por projectos de construção militares, ter sido detido e acusado de aceitar subornos em grande escala.
O angolano general João Manuel, perito dos peritos em quase tudo, apesar de falhanços crassos no que respeita à guerra da Rússia contra a Ucrânia, ainda não foi “abatido”. Continua a ter lugar cativo em algumas televisões, em alguns casos sem existência de qualquer tipo de contraditório.
São insondáveis os critérios que levam alguns canais televisivos a eleger «especialistas em questões militares».
O principal motivo de escolha devia ser a capacidade de qualquer deles para descodificar e contextualizar as manobras bélicas em curso na Ucrânia, Palestina etc., deixando considerações políticas de fora. Até porque comentadores não faltam nesses canais.
O segundo – e fundamental – critério seria a capacidade desses convidados para antever o que iria passar-se no terreno.
Acontece que alguns destes supostos especialistas acorreram aos ecrãs, tendo falhado em quase tudo quanto disseram. Além de usarem as questões militares como mero pretexto para fazer considerações políticas, benevolentes até à náusea face à potência invasora.
Nem uma coisa nem outra conseguiram removê-los da pantalha, onde persistem em revelar enorme incapacidade para acertar no alvo. Enquanto se sucedem notícias das atrocidades de todo o tipo.
Um dos casos mais notórios é o do general João Manuel. A 28 de Fevereiro (de 2022), quatro dias após o início da agressão decretada por Vladimir Putin à Ucrânia, este alegado especialista enalteceu os russos, criticou os dirigentes ocidentais e disparou tiros de pólvora seca contra a resistência ucraniana.
Sobre o secretário-geral da NATO, disse algo do tipo: Está a resultar, a invasão russa. Onde anda a NATO? O senhor Stoltenberg amanhã devia entrar como governador do Banco da Noruega. Já tem emprego.
Sobre Josep Borrell, responsável máximo da União Europeia para a Defesa e Negócios Estrangeiros, afirmou que quem decide a política externa da Europa não são os europeus. Os europeus não decidem nada.
O senhor Putin é um jogador de xadrez. E lá não é como cá. O senhor Shoigu, o ministro da Defesa, é um homem de barba rija, disse João Manuel.
Também opinou que o senhor Zelensk já não está lá em Kiev. Senão a gente via-o na rua. Já não está lá. Está certamente em Lviv.
Entre críticas ao Ocidente por lançar gasolina na Ucrânia e a certeza de que neste país há armas a ser entregues a bandidos, garante que Putin vai conseguir.
A 8 de Abril, o mesmo general viu-se forçado a concluir que os objectivos que os russos alcançaram em 44 dias de campanha são nitidamente poucos, nitidamente insuficientes, tendo em conta todo o aparato inicial, explicando que houve um excesso de confiança russo logo no início.
Ah, o exímio jogador de xadrez afinal falhou. Ah, o tal homem da barba rija viu-se forçado a abandonar o cerco a Kiev. Ah, Zelenski mantém-se firme na capital, não fugiu para Lviv. Cobrindo de ridículo aqueles que no conforto de um qualquer climatizado estúdio, tentaram lançar-lhe lama.
Que alguns sejam militares não constitui atenuante: é agravante. Para eles e para quem continua a dar-lhes guarida.
E, apesar das previsões do general João Manuel, as forças antiaéreas russas abateram – por exemplo – ao início da manhã de hoje (23.06) um total de 33 ‘drones’ (aeronaves não tripuladas) de asa fixa ucranianos sobre quatro regiões fronteiriças da Rússia, informou o Ministério da Defesa.
“Uma tentativa do regime de Kiev de realizar ataques terroristas com ‘drones’ de asa fixa contra alvos no território da Rússia foi abortada”, indicou aquele departamento governamental russo, confirmando as teses do general João Manuel.
Segundo o Ministério da Defesa, 28 ‘drones’ foram “interceptados e eliminados” na região de Bryansk, dois na região de Smolensk, dois na de Lipetsk e um na de Tula.
As forças ucranianas atacam regularmente as regiões fronteiriças russas e a península anexa da Crimeia com o objectivo de danificar as infra-estruturas petrolíferas e os alvos militares russos, tendo sexta-feira, num dos ataques mais maciços desde o início da guerra, envolvido um total de 113 ‘drones’.
No entanto, os drones ucranianos atingem por vezes áreas tão distantes da Ucrânia como a própria Moscovo, a região de Leninegrado, a Ossétia do Norte e o Tartaristão, algumas das quais a mais de 1.000 quilómetros da fronteira ucraniana.
Exemplo disso foi o ataque ucraniano a um posto de comando russo em Belgorod junto à fronteira, com as forças Armadas da Ucrânia a indicar terem derrubado dois dos três mísses lançados pela Rússia contra a região de Kiev.
O Estado-Maior do Exército ucraniano reivindicou hoje que a força aérea, em cooperação com outras componentes militares, atacou sábado à noite, “com sucesso”, o posto de comando de uma brigada russa de espingardas motorizadas, localizado em Nekhotiivka, na região de Belgorod.
“O alvo foi atingido com sucesso”, refere-se no relatório militar, que adianta terem sido registadas “várias explosões”.
A força aérea informou ao mesmo tempo que dois dos três mísseis russos ‘Kalibr’ foram abatidos sobre a região da capital, Kiev, que o comandante da mesma força, Mikola Oleschuk, disse terem sido lançados a partir do Mar de Azov.
De acordo com o chefe da administração militar regional, Ruslan Kravchenko, duas pessoas ficaram ligeiramente feridas pelos fragmentos dos mísseis abatidos, mas não necessitaram de ser hospitalizadas.
Numa outra localidade na região, causaram também danos materiais a seis blocos de apartamentos e a mais de 20 casas particulares e instalações públicas.