O Governo angolano (do MPLA há 48 anos) arrecadou 18,2 milhões de dólares (16,5 milhões de euros) com a venda, hoje, de oito diamantes, num leilão onde participaram 25 empresas das principais praças diamantíferas mundiais, anunciou a Sodiam. País rico com 20 milhões de pobres e o regabofe dos donos do reino continua em grande.
Num comunicado de imprensa, a Empresa Nacional de Comercialização de Diamantes (Sodiam) referiu que foram licitadas produções de diamantes especiais das Sociedades Mineiras do Lulo, Somiluana, Chitotolo e Uari.
A empresa realçou que, das 20 pedras anunciadas inicialmente a 22 de Novembro, apenas 12 foram licitadas, tendo oito pedras da Sociedade Mineira do Uari sido retiradas por decisão da mina.
A empresa pública (leia-se do MPLA) destacou que este leilão foi realizado numa altura em que as condições macroeconómicas e a demanda no mercado internacional de diamantes são ainda de recuperação.
As sessões de avaliação decorreram entre os dias 4 e 7 deste mês, nas instalações da Sodiam, em Luanda, tendo a apresentação de propostas sido feita até às 10:00 de hoje por via electrónica.
Do conjunto dos 12 diamantes licitados, foram vendidas oito pedras especiais, o correspondente a 646,52 quilates, das quais quatro da Sociedade Mineira do Lulo, que renderam cerca de 17 milhões de dólares (15,4 milhões de euros), duas da Sociedade Mineira do Somiluana, que renderam 843,3 mil dólares (767,7 mil euros) e duas da Sociedade Mineira do Uari, que renderam 289,5 mil dólares (263,5 mil euros).
De acordo com a nota, as restantes quatro pedras em licitação foram retiradas por iniciativa das Sociedades Mineiras do Chitotolo e Uari, porque as ofertas estavam muito abaixo do preço de reserva, em cumprimento do Regulamento Técnico de Comercialização de Diamantes em vigor.
“Caso tivessem sido atingidos os preços de reserva, representariam uma receita adicional de 1,6 milhões de dólares (1,4 milhões de euros)”, salientou a Sodiam no comunicado.
O presidente do Conselho de Administração da Sodiam, Eugénio Bravo da Rosa, citado no comunicado, disse que “o mercado e a indústria diamantífera global continuam em clima de recuperação da demanda, sendo que as principais praças diamantíferas têm começado a reagir de forma mais positiva”.
“Contudo, Angola vai realizando vendas regulares apesar dos baixos preços. O presente leilão vem efectivamente permitir-nos aferir o sentimento do mercado, que apresenta uma ligeira melhoria no preço médio por quilate, para determinadas categorias de pedras com valor e características excepcionais”, frisou.
Há cerca de três meses, o presidente do Conselho de Administração da Endiama, diamantífera angolana, prognosticou 2023 para sector diamantífero angolano um ano “muito mau”, com o mercado da Índia, receptora de mais de 90% da produção nacional, encerrado até o mês em curso.
“Esta é a nossa realidade, estamos a produzir, não parámos, não estamos a vender conforme devíamos, mas temos que ser resilientes e aguentar, por isso é que os resultados este ano não vão ser muito bons”, vincou.
48 ANOS = 20 MILHÕES DE POBRES
O MPLA, partido que só está no poder desde a independência, saudou – recorde-se – os angolanos (os 20 milhões de pobres não são angolanos) pelo 48.º aniversário da proclamação da independência (mais exactamente da troca dos colonos portugueses pelos colonos do MPLA) do país, apelando a que contribuam “com actos de cidadania e elevado patriotismo” (ou seja, que continuem a aprender a viver sem comer) para que Angola se torne uma nação de referência.
O MPLA encorajou também o seu Presidente, igualmente Presidente da Re(i)pública e Titular do Poder Executivo (não nominalmente eleito), João Lourenço, “a continuar a implementar medidas de políticas que visam melhorar o Índice de Desenvolvimento Humano, impulsionar o aumento da produção, o crescimento económico e a prosperidade da nação”.
Ou seja, fazer tudo o que não conseguiu fazer ao longo dos últimos 48 anos, 21 dos quais de paz total.
“O MPLA expressa-se optimista com as acções empreendidas pelo executivo angolano, que visam intensificar os esforços para a materialização do direito ao emprego digno e de qualidade, a qualificação profissional e o estímulo ao empreendedorismo especialmente para a juventude, tendo como base a aposta séria num Sistema Nacional de Formação Profissional”, dizem os sipaios do regime.
O MPLA homenageia igualmente os que pagaram “com a própria vida o empenho directo e abnegado na luta de libertação” e reafirma-se como “vanguarda da promoção e reinserção política, económica e social de todas as forças vivas da nação, combatendo as várias formas de injustiça e discriminação”.
“Neste dia jubiloso, marcado pela libertação do povo angolano da dominação colonial portuguesa, o MPLA, em nome dos militantes, simpatizantes e amigos do Partido, apela todos os cidadãos a celebrarem o 48.º aniversário da independência nacional com manifestações de incontida alegria, que reforçam a crença na elevação dos níveis de unidade nacional e de coesão interna”.
Alguém ouviu alguma vez o general João Lourenço (Presidente da República não eleito, Presidente do MPLA, Titular do Poder Executivo e Comandante-em-Chefe das Forças Armadas) reconhecer que 68% da população angolana é afectada pela pobreza, que a taxa de mortalidade infantil é das mais altas do mundo, com 250 mortes por cada 1.000 crianças? Alguém o ouviu dizer que apenas 38% da população angolana tem acesso a água potável e somente 44% dispõe de saneamento básico?
Alguém ouviu alguma vez o general João Lourenço (Presidente da República não eleito, Presidente do MPLA, Titular do Poder Executivo e Comandante-em-Chefe das Forças Armadas) reconhecer que apenas um quarto da população angolana tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade? Alguém o ouviu dizer que 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalações, da falta de pessoal e de carência de medicamentos?
Alguém ouviu alguma vez o general João Lourenço (Presidente da República não eleito, Presidente do MPLA, Titular do Poder Executivo e Comandante-em-Chefe das Forças Armadas) reconhecer que 45% das crianças angolanas sofrerem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos? Alguém o ouviu dizer que, em Angola, a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou seja, o cabritismo, é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos?
Alguém alguma vez o general João Lourenço (Presidente da República não eleito, Presidente do MPLA, Titular do Poder Executivo e Comandante-em-Chefe das Forças Armadas) reconhecer que, em Angola, o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder?
Alguém ouviu alguma vez o general João Lourenço (Presidente da República não eleito, Presidente do MPLA, Titular do Poder Executivo e Comandante-em-Chefe das Forças Armadas) reconhecer que Angola é um dos países mais corruptos do mundo e que tem 20 milhões de pobres?
Também a propósito desta efeméride, o Folha 8 emitiu o seguinte “comunicado”.
“Muitos governantes que têm grandes carros, numerosas amantes, muita riqueza roubada ao povo, são aparentemente reluzentes mas estão podres por dentro”. Esta foi e é, por muito que nos custe, a realidade do nosso país.
Alguém do MPLA se recorda, por exemplo, o que D. José de Queirós Alves, arcebispo do Huambo, afirmou em Julho de 2012 na comuna de Chilata, município do Longonjo, a propósito das eleições?
O prelado referiu que o povo angolano tinha muitas soluções para construir uma sociedade feliz e criar um ambiente de liberdade onde cada um devia escolher quem entender.
“Temos de humanizar este tempo das eleições, onde cada um apresenta as suas ideias. Temos de mostrar que somos um povo rico, com muitas soluções para a construção de uma sociedade feliz, criar um ambiente de liberdade. É tempo de riqueza e não de luta ou de murros”, frisou.
”Em Angola, a administração da justiça é muito lenta e os mais pobres continuam a ser os que menos acesso têm aos tribunais”, afirmou em 2009 (nada de substancial mudou até agora), no mais elementar cumprimento do seu dever, D. José de Queirós Alves, em conversa com o então Procurador-Geral da República, João Maria Moreira de Sousa.
D. José de Queirós Alves admitia também (tudo continua na mesma) que ainda subsiste no país uma mentalidade em que o poder económico se sobrepõe à justiça.
O arcebispo pediu maior esforço dos órgãos de justiça no sentido das pessoas se sentirem cada vez mais defendidas e seguras: “O vosso trabalho é difícil, precisam ter atenção muito grande na solução dos vários problemas de pessoas sem força, mas com razão”.
Importa ainda recordar, a bem dos que não têm força mas têm razão (e que, por isso, não são do MPLA), que numa entrevista ao jornal português “O Diabo”, em 21 de Março de 2006 (16 anos depois tudo continua na mesma), D. José de Queirós Alves disse que “o povo vive miseravelmente enquanto o grupo ligado ao poder vive muito, muito bem”.
Nessa mesma entrevista ao Jornalista João Naia, o arcebispo do Huambo considerou a má distribuição das receitas públicas como uma das causas da “situação social muito vulnerável” que se vive Angola.
D. Queirós Alves disse então que, “falta transparência aos políticos na gestão dos fundos” e denunciou que “os que têm contacto com o poder e com os grandes negócios vivem bem”, enquanto a grande massa populacional faz parte da “classe dos miseráveis”.
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