MASSAN(G)O CHEGOU, O ARROZ  CRESCEU!

O ministro de Estado para a Coordenação Económica, José de Lima Massano, liderou hoje, no município do Luquembo, Malanje, a abertura da Campanha Agrícola 2023-2024. Presume-se que o ministro da Agricultura vá liderar a campanha da saúde, e a ministra da Saúde a da cultura…

Luquembo, com uma superfície de 10.971 quilómetros quadrados, está situado a uma altitude média de 1.098 metros acima do nível do mar, contando com uma população estimada em 70.099 habitantes, que se dedicam, fundamentalmente, à agricultura, incluindo a produção de arroz.

De acordo com uma fonte ligada à Direcção Municipal da Agricultura, Pecuária e Pescas, citada pelo sempre bem informado órgão oficial do MPLA (Jornal de Angola), apesar das limitações financeiras, o Plano Integrado de Desenvolvimento Local e Combate à Pobreza (PIDLC) é o que mais se evidencia, permitindo a criação e legalização de cooperativas, preparação de terras, aquisição de “inputs” agrícolas e distribuição de terras preparadas para o cultivo, no âmbito do projecto Mosap II.

Na Campanha Agrícola 2022-2023, Luquembo lavrou um total de 13.750 hectares, com destaque para cerca de sete mil hectares de mandioca e 1.700 hectares de arroz.

A região também tem uma assinalável produção de feijão, milho, batata-doce, ginguba, banana, pepino, cenoura e beterraba, além da criação de gado um pouco por toda a extensão do município, constituído por cinco comunas, nomeadamente a sede, Rimba, Dombo wa Zanga, Cunga Palanca, Quimbango e Capunda.

Diz o MPLA que as autoridades municipais juntaram-se aos esforços dos camponeses para a legalização, em curso, de 13 cooperativas, com vista a viabilizar o acesso ao Programa de Apoio ao Crédito (PAC), o braço financeiro do Programa de Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição das Importações (Prodesi).

Esses esforços estão a ser intermediados pela Associação dos Comerciantes Industriais e Prestadores de Serviços de Viana, onde nove cooperativas estão na fase final da subscrição de financiamentos, aguardando pelo contacto da banca.

Outras quatro cooperativas, prosseguiu a fonte do MPLA, estão na fase inicial de constituição e legalização, com acções que no cômputo geral representam a criação de 170 postos de trabalho.

Recentemente, o governador provincial, Marcos Alexandre Nhunga (famosíssimo ex-ministro das couves com a raiz para cima), referiu-se ao potencial agrícola de Malanje pela vocação para a produção de arroz na região do Luquembo, considerando que a província, “pelos seus níveis de produção, está a demonstrar que pode participar com êxito” no Plano Nacional de Fomento à Produção de Grãos (Planagrão).

O Planagrão é um programa de 43 mil milhões de kwanzas em preparação pelo Governo, que visa alcançar uma produção nacional combinada de 3,14 milhões de toneladas de arroz, feijão, soja e milho.

Entretanto, o Ministério da Agricultura e Florestas vai apresentar as perspectivas do seu sector para impulsionar a economia nacional, bem como apreciar a dinâmica de desenvolvimento nos domínios agro-pecuário e florestal durante o Conselho Consultivo, a decorrer na próxima quinta-feira, dia 26 de Outubro, na província de Malanje.

No evento, sob o lema, “Agro-pecuária: aposta certa para o garante da segurança alimentar e nutricional”, o Ministério da Agricultura e Florestas vai também fazer o balanço das acções realizadas e abordar vários temas em diferentes painéis.

No programa consta, igualmente, a apresentação dos relatórios do ano agrícola 2022/2023 e do estado de preparação do ano agrícola 2023/2024, bem como a apresentação do ponto de situação e perspectivas das acções realizadas e por se realizar nas 18 províncias do país.

Temas relacionados com as acções de extensão e desenvolvimento rural, produção de sementes no país e formalização da actividade agro-pecuária serão ainda apresentados pelo Instituto de Desenvolvimento Agrário (IDA), Ministério da Indústria e Comércio e pelo Instituto Nacional Apoio às Micro, Pequenas e Médias Empresas (INAPEM), respectivamente.

Estão ainda reservados outros debates sobre a contribuição do sector agrícola familiar, empresarial e dos prestadores de serviços na produção agro-pecuária e sobre casos de sucesso de produtores de trigo e arroz no país.

O Conselho Consultivo vai também discutir temas sobre financiamentos e seguros agrícolas, com intervenções do Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Agrário (FADA), Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA), Fundo de Garantias de Créditos, Agência Angolana de Regulação e Supervisão de Seguros (ARSEG) e do Fundo Activo de Capital de Risco Angolano (FACRA).

No passado dia 3 de Fevereiro, o director nacional da Agricultura e Pecuária do Ministério da Agricultura, Manuel Dias, explicou que a produção angolana de trigo, arroz e cevada regista um défice de 80%, sendo a oferta insuficiente para atender à procura de mercado. Por mera curiosidade registe-se que, enquanto província ultramarina de Portugal, até 1974, Angola era auto-suficiente em termos agrícolas, entre outros.

Manuel Dias foi orador no painel “O Desafio da Auto-suficiência”, apresentando o tema “Planagrão e Planapecuária”, no 1.º Fórum Nacional da Indústria e Comércio, organizado pelo Ministério do Comércio e Indústria.

Segundo Manuel Dias, a produção total actual de trigo, arroz e cevada atinge as 30 mil toneladas, sendo a importação superior, representando um “défice enorme” para o país.

“Quer o trigo, quer o arroz, quer a cevada, o défice anda por volta de 80%, quer dizer, o que nós produzimos não chega, 10 mil toneladas não é nada”, frisou.

O responsável salientou que face a este quadro, o Governo pensou na produção em grande escala, com uma maior produtividade, com maior profissionalismo.

“As necessidades são imensas, nós temos desafios, temos choques da pandemia, climáticos, e precisamos de avançar o mais rapidamente possível”, frisou o responsável, indicando que 80% da farinha usada para a produção de pão é importada.

Por sua vez, o moderador do debate, Fernando Pacheco, considerou que o que está previsto no Planagrão 2023-2027 para o trigo “é inviável”.

“Não há nenhuma hipótese de nós atingirmos essa meta, porque nós não temos experiência suficiente de produção de trigo, que nos permita atingir essa meta. O Brasil que está muito mais adiantado que nós – não há comparação sequer -, só agora começa a ter resultados na produção de trigo, de modo a acabar com a importação nos próximos anos”, referiu o agrónomo angolano.

“Nós dificilmente conseguiríamos fazer isso e a minha opinião: o esforço quer técnico quer financeiro a fazer no trigo deveria ser dado à produção de milho e arroz”, opinou Fernando Pacheco.

De acordo com o Planagrão, a produção de milho entre 2017 e 2021 terá aumentado 25%, já o arroz teve uma produção, em 2017, de 8 mil toneladas, ficando um pouco abaixo deste valor em 2021.

Na sua apresentação, Manuel Dias destacou que a importação de milho, nos últimos quatro anos, registou uma taxa de redução de 25%, por outro lado, o arroz, o trigo e a soja verificaram aumento.

Em 2021, Angola gastou cerca de 73 milhões de dólares (67 milhões de euros) na aquisição de milho, 263 milhões de dólares (241,7 milhões de euros) para importar arroz, 305 milhões de dólares (280,3 milhões de euros) para o trigo e 149 milhões de dólares (136,9 milhões de euros) para a compra de soja.

Manuel Dias informou ainda que o défice de milho, na campanha agrícola 2020/2021, situou-se em 16%, de arroz 89%, trigo 81% e soja 84%.

Relativamente ao Planapecuária 2023-2027, Angola tem um efectivo bovino de cerca de três milhões, seis milhões para o caprino, dois milhões de suínos e três milhões de aves de capoeira.

O executivo aprovou em 2022, o Plano Nacional de Fomento da Produção de Grãos em Angola (Planagrão) para o aumento significativo de arroz, trigo, soja e milho sobretudo nas províncias do leste do país, prevendo recursos avaliados mais de três mil milhões de dólares (2,7 mil milhões de euros).

Também foi aprovado mais recentemente o Plano Nacional de Fomento da Pecuária (Planapecuária), que visa o aumento da produção nacional de carne bovina, caprina, suína e a produção de ovos e leite, no valor de cerca de 300 milhões de dólares (275,7 milhões de euros).

Por mera curiosidade registe-se que, enquanto província ultramarina de Portugal, até 1973, Angola era auto-suficiente, face à diversificação da economia.

Era o segundo produtor mundial de café Arábico; primeiro produtor mundial de bananas, através da província de Benguela, nos municípios da Ganda, Cubal, Cavaco e Tchongoroy. Só nesta região produzia-se tanta banana que alimentou, designadamente a Bélgica, Espanha e a Metrópole (Portugal) para além das colónias da época Cabo-Verde, Moçambique, Guiné-Bissau e Sã Tomé e Príncipe.

Era igualmente o primeiro produtor africano de arroz através das regiões do (Luso) Moxico, Cacolo Manaquimbundo na Lunda Sul, Kanzar no Nordeste Lunda Norte e Bié.

Ainda no Leste, nas localidades de Luaco, Malude e Kossa, a “Diamang” (Companhia de Diamantes de Angola) tinha mais 80 mil cabeças de gado, desde bovino, suíno, lanígero e caprino, com uma abundante produção de ovos, leite, queijo e manteiga.

Na região da Baixa de Kassangue, havia a maior zona de produção de algodão, com a fábrica da Cotonang, que transformava o algodão, para além de produzir, óleo de soja, sabão e bagaço.

Na região de Moçâmedes, nas localidades do Tombwa, Lucira e Bentiaba, havia grandes extensões de salga de peixe onde se produzia, também enormes quantidades de “farinha de peixe”, exportada para a China e o Japão.

Assim, Angola em 1974 era o terceiro maior produtor mundial de café; o quarto maior produtor mundial de algodão; era o primeiro exportador africano de carne bovina; era o segundo exportador africano de sisal; era o segundo maior exportador mundial de farinha de peixe; por via do Grémio do Milho tinha a melhor rede de silos de África;

Assim, Angola em 1974 tinha o CFB – Caminho de Ferro de Benguela, do Lobito ao Dilolo-RDC, o CFM – Caminho de Ferro de Moçâmedes, do Namibe até Menongue, o CFA – Caminho de Ferro de Angola, de Luanda até Malange e o CFA – Caminho de Ferro do Amboim, de Porto Amboim até à Gabela;

Angola em 1974 tinha no Lobito estaleiros de construção naval da SOREFAME; tinha pelo menos três fábricas de salchicharia; tinha quatro empresas produtoras de cerveja, de proprietários diferentes; tinha pelo menos quatro fábricas diferentes de tintas; tinha pelo menos duas fábricas independentes de fabricação ou montagem de motorizadas e bicicletas; tinha pelo menos seis fábricas independentes de refrigerantes, nomeadamente da Coca-Cola, Pepsi-Cola e Canada-Dry, bebidas alcoólicas à base de ananás ou de laranja. E havia ainda a SBEL, Sociedades de Bebidas Espirituosas do Lobito;

Angola em 1974 tinha a fábrica de pneus da Mabor; tinha três fábricas de açúcar, a da Tentativa, a da Catumbela e a do Dombe Grande; era o maior exportador mundial de banana, graças ao Vale do Cavaco.

E falta falar da linha de montagem da Hitachi, dos óleos alimentares da Algodoeira Agrícola de Angola, e da portentosa indústria pesqueira da Baía Farta e de Moçâmedes, e da EPAL, fábrica de conservas de sardinha e de atum, e…, e….

Artigos Relacionados

Leave a Comment