Os presidentes de Angola, João Lourenço, da República do Congo, Dennis Sassou Nguesso, principalmente, reuniram-se de emergência em cimeira, para analisar a solidariedade dos povos, para com os militares, considerados, por estes, de revolucionários, rejubilando efusivamente, enquanto estes os consideram golpistas. É a era da revolução de conceitos, em países onde impera a fome, a miséria, a brutalidade eleitoral, a justiça parcial e criminosa, a ausência de soberania económica e a dependência às antigas potências.
Por William Tonet
O que é, afinal, ser patriota, revolucionário e golpista? Eis a questão.
Os ventos da mudança aproximam-se, vertiginosamente, das costas nebulentas e degeneradas de regimes corroídos por dentro, devido a grosseiros erros de estratégia e apego ao poder, através de golpes constitucionais, alterando, para proveito próprio, as Constituições, Leis Eleitorais e Comissões Eleitorais… Isso tem um nome: GOLPE DE ESTADO!
Agora, quando o cheiro da pólvora, qual andarilho, pela mão de militares, entranha palácios adentro para, na reivindicação de iguais direitos, desalojar longevos ou neocolonialistas presidentes, ao serviço de forças ocidentais, declaradamente, anti-desenvolvimento, educação blindada e auto-suficiência alimentar dos países de África, surgem cínicas carpideiras a clamar, por reposição da ordem constitucional, sob pena de sanções.
Ora, não se reclama o que não se tem.
Ordem constitucional; Órgãos de soberania!
É a santíssima e diabólica hipocrisia ocidental, na protecção dos novos e seus continuadores capachos.
Paul Mbia, dos Camarões, Obiang Nguema, Guiné Equatorial, Paul Kagamé, Ruanda, Patrice Trovoada, Marcky Sall, Senegal, Ouatara, Coté D’ivoir, que têm luxuosas mansões no Ocidente e vida luxuosa enquanto os povos definham à fome e miséria, ou ainda, os regimes de Moçambique, Angola, que não permitem alternância do poder, por partidarização dos sistemas de justiça e eleitoral, podem ser catalogados de patriotas e revolucionários?
O que distingue, afinal, os ditadores, dos jovens militares, que saem das casernas, para resgatar os palácios, com uma cartilha advogando a nacionalização da soberania económica, do combate a expansão, pela comida e dinheiro de sangue, do fundamentalismo islâmico e o fim da pobreza e não dos pobres, nos respectivos países? Nada!
Ambos são golpistas, com a única diferença de uns contarem com a repulsa popular e outros com a alegria e sonho (ainda que efémero) num amanhã diferente e melhor.
Na maioria dos países africanos, colonizados pela França, Inglaterra/Reino Unido e Portugal onde ocorreram golpes militares, estes apenas suplantaram pela força do fuzil, os anteriores golpistas.
Os presidentes apegados ao poder, que manietam os órgãos policiais, militares e eleitorais, alterando a Constituição sem escrutínio da maioria da cidadania, dão, aos países, igualmente, golpes de Estado, por subversão à ordem constitucional, acordada e estabelecida antes do apunhalamento desta, para os desígnios ditatoriais.
E, aqui, o ocidente, por se tratarem de neocolonialistas complexados ao seu serviço, calam-se!
Eles subvertem a natureza política, constitucional textualizando democracia e alternância do poder, mas impondo sub-repticiamente e a luz do dia, uma crónica ditadura, transformando os Estados em coutadas particulares e dinásticas, como as do Gabão, Guiné Equatorial, Congo, Ruanda, Camarões, Moçambique, Guiné Equatorial, onde o Presidente de Angola, se deslocará, no 04.09.23, para, eventualmente, “comungamento – preocupativo” face à nova onda revolucionária de rejeição de regimes ditatoriais, avessos a alternância de poder, a plena cidadania e a democracia real participativa.
O modus operandi assenta na completa inversão de valores republicanos, porquanto o lobo, distante das demais espécies, banha-se em perfumes e vestes ocidentais, sob o sangue e lágrimas dos cidadãos assassinados e espoliados, auto proclamando-se vegetarianos.
Ora, por nos últimos três dias, não comerem galinhas, subidos (em visita) nos palanques ocidentais, não se transformam em anti-carne humana. Não! Eles são mesmo os verdadeiros vampiros dos respectivos povos.
A ousadia dos ditadores africanos, trajados em pele de cordeiro, não tem limites, principalmente, tendo eles ciência dos malefícios causados pela inexistência de órgãos de soberania, fortes e independentes.
Os sistemas eleitorais são manietados e comandados por gangues ideológicas, familiares e batoteiras, ao serviço exclusivo de um só homem e partido político.
A justiça inexiste na sua visão geral e abstracta, sendo um mero instrumento de subversão das normas jurídicas, ao serviço da corte, que aplica leis, aprovadas por uma tribo subversiva, colocada no poder legislativo, para beneficiar exclusivamente o regime.
É neste quadro dantesco, previamente, aprovado nas adegas vinícolas e porões ocidentais, que assenta a geometria condutora dos novos golpes militares, uma vez os Estados serem (in)dependentes e conduzidos não por revolucionários ou patriotas, mas por autênticos capachos, complexados cuja missão espúria é o de “decapitarem” a cultura, as línguas autóctones, a economia, as riquezas nacionais, perpetuando os valores ocidentais, como forma da minoria negra, sub-repticiamente, continuarem a explorar, com apoio militar e financeiro, a maioria preta.
É a inversão da lógica. O colonialismo, o mesmo de ontem, agora, desembarca de avião, nos países, como investidor, mantendo a mesma cartilha, exploradora e discriminadora.
E, não é por acaso, que diante de uma gritante contestação social, no 02 de Setembro, o Presidente João Lourenço, ao invés de se referir a um pacote do Executivo, para debelar a fome e desemprego da maioria dos autóctones, causado pelo aumento absurdo, danoso e doloso, do preço da gasolina, preferiu ancorar na defesa e protecção dos especuladores estrangeiros, maioritariamente, fundamentalistas islâmicos.
O bastão de poder, está, aparentemente, na mão de um negro que se proclama presidente, mas a sua geografia mental é gerida por controlo remoto, à partir de Paris, Londres, Lisboa ou Washington.
A agenda é precisa: países devem continuar a ser fonte de exportação de matérias-primas, com preços estabelecidos pelo antigo colonizador/ocidente.
Não podem ter uma indústria transformadora das riquezas naturais, com industriais autóctones.
A agricultura e a auto-suficiência alimentar, devem ser desestimuladas.
A banca comercial e as finanças devem andar na visão ocidental, com juros e inflação elevada, para impedir o emponderamento dos nacionais.
Esta é a dura realidade, não por culpa dos cidadãos ou militares, dos países, mas pelo encarnar de um complexo do colonizado, que acredita, na sua fusca boçalidade, que a sua valoração depende da manutenção dos valores coloniais, contra a rejeição da sua cultura, língua, tradição, religião e história.
Daí, muitos dos nossos dirigentes, designados presidentes da República, para vaidade umbilical, actuarem e serem vistos como verdadeiros chefes de posto, indicados pela antiga Metrópole.
E, é no meio da burralização política na presidência de muitos países que África vê emergir os novos movimentos (civis, militares, radicais islâmicos), hasteando bandeiras de, excesso, radicalismo, nacionalismo, xenofobia e revolução nacionalista.
Muitos ditadores deixaram de dormir. Muitos reforçaram a sua segurança, outros investem milhões em armamento para manutenção do poder.
A liderança do nosso portentoso e maravilhoso, para desgraça colectiva, país teima em não abrir as comportas do diálogo e da gestão participativa dos cidadãos. Assim para o bem e para o mal, o pior é condenar, sem entrar, primeiro, no âmago dos reais problemas dos (outros) povos, porque diante do hercúleo sofrimento, não tentar de alguma forma, alterar o quadro dantesco é um hino ao masoquismo eterno…
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