Adalberto da Costa Júnior é o presidente da UNITA. Venceu folgadamente pela livre escolha dos delegados da UNITA. E isso é quanto basta. Não é semelhante a nenhum dos dois anteriores líderes. Nem isso se esperava. Quanto a Jonas Savimbi, esse foi uma espécie única que nunca terá quem se lhe assemelhe. A UNITA que o Mais Velho dizia não se definir mas, apenas e só, sentir-se, é cada vez mais uma ténue lembrança.
Por Orlando Castro
Dizem alguns que “quem vai para o mar avia-se em terra”. Em Angola, mesmo ainda com Savimbi a comandar a luta, foram muitos os seus generais-pigmeus que se aviaram, que se venderam, ao MPLA.
Jonas Savimbi deve estar a dar voltas e voltas na campa. Afinal, ao contrário do que juraram muitos dos seus generais, bem como muitos dos seus políticos de elite, mais vale ser escravo e comer lagosta do que livre e alimentar-se de mandioca.
No seio do Galo Negro todos parecem esquecer que a UNITA, por incapacidade dos seus mais altos dirigentes, assinou a sua própria certidão de óbito logo a seguir à morte de Jonas Savimbi, no dia 22 de Fevereiro de 2002.
E se a assinou com a morte em combate do seu líder, já a tinha rubricado quando alguns dos seus generais não só passaram para o outro lado, como aceitaram dirigir a caça a Jonas Savimbi. Foi o caso do general Geraldo Sachipengo Nunda. A verdade dói, mas só ela cura. Que disso se lembre o actual líder da UNITA.
Não adianta por isso continuar a dizer que a vitória seguinte começa com a derrota anterior. Isso faria sentido se o Mais Velho ainda andasse por cá. Como não anda e como os seus discípulos o que querem é apenas lagosta, ao povo que se alimenta da mandioca só resta passar também para o outro lado, mesmo ficando do mesmo lado…
É claro que Adalberto da Costa Júnior goza, terá de gozar, do benefício da dúvida. Será difícil acreditar que quem se alimenta regularmente de lagosta possa, de um momento para outro, render-se aos encantos da mandioca. Mas nunca se sabe. Agora que não pode desculpar-se com quem manda, veremos a ementa oficial e, sobretudo, se não vai à cozinha comer às escondidas.
Apesar de todas as enormes aldrabices do MPLA, os simulacros eleitorais acabaram sempre por derrotar em todas as frentes não só a estratégia mas a sua execução, elaboradas pelos “generais” da UNITA, nas quais Adalberto teve a sua quota de responsabilidade.
Esperando (santa ingenuidade!) que a Direcção da UNITA, esta ou qualquer outra, prefira ser salva pela crítica do que assassinada pelo elogio, de vez em quando ainda muitos pensam que é possível ver o Galo Negro voar.
O sacrificado povo angolano, mesmo sabendo que foi o MPLA que o pôs de barriga vazia, não vê na UNITA a alternativa válida que durante décadas lhe foi prometida. Será Adalberto capaz de fazer o Povo voltar a acreditar? Hum! Partido que ganha eleições e aceita ser segundo… se calhar não é de confiança.
Terá sido para ver a UNITA de Adalberto que Jonas Savimbi lutou e morreu? Não. Não foi. É pena que os seus ensinamentos, tal como os seus erros, de nada tenham servido aos que, sem saberem como, herdaram o partido e a ribalta da elite angolana.
É pena que os que sempre tiveram a barriga cheia nada saibam, nem queiram saber, dos que militaram na fome, mas que se alimentaram com o orgulho de ter ao peito o Galo Negro. Se calhar também é pena que todos aqueles que viram na mandioca um manjar dos deuses estejam, como parece, rendidos à lagosta dos lugares de elite de Luanda.
Em síntese, se Adalberto se recordar de Savimbi e desta sua frase, “eu estou sempre acordado porque estou em constante movimento. Vocês é que estão a dormir… por isso é que o MPLA está a aldrabar-vos”, talvez um dia destes os angolanos (sobretudo os 20 milhões de pobres) olhem o céu e vejam o Galo Negro a voar.
O meu Amigo e velho companheiro dos bancos da escola, Paulo Lukamba Gato, raramente se engana. Mas ao comentar o plano estratégico do regime para combater o líder da UNITA, enganou-se. O Mais Velho dele, e também meu, continua a ter razão. De facto, “estamos a dormir e o MPLA está a enganar-nos”.
«O que me deixa tranquilo no entanto, é que no contexto actual já não há partidos políticos armados. Hoje os instrumentos de luta são a argumentação política e a justiça para arbitrar caso haja conflito», afirma Paulo Lukamba Gato.
Afirmação errada, como todos os dias se vê e sente. Muito errada e perigosa. Em Angola existe um partido, o MPLA, fortemente armado. Desde logo, e de forma inequívoca, porque as FAA, a Polícia Nacional, o SIC etc. são um instrumentos bem armado do Estado e o Estado é do MPLA. Ou, como diz o partido que nos governa desde 1975, o MPLA é Angola e Angola é do MPLA. Portanto…
A UNITA de hoje tem medo, continua a ter medo, de exigir que o Estado/MPLA reconheça que Savimbi não só lutou pela independência de Angola como foi signatário (entre outros) do Acordo de Alvor que levou o país à independência, pelo que – conjuntamente com Agostinho Neto e Holden Roberto – deve figurar como um dos três fundadores do país independente.
E se antes foi o tempo dos contratados e escravos ovimbundus ou bailundos irem para as roças do Norte, agora é o enxovalho (mesmo que mitigado e maquilhado) ao dizer aos dirigentes da UNITA que ou se portam como o Estado/MPLA determina, ou terão de transportar pedras à cabeça para ter “peixe podre, fuba podre… e porrada se refilarem.”
Talvez (sejamos ingénuos) os dirigentes da UNITA não tenham ouvido o clamor do Povo quando Jonas Savimbi morreu: “Sekulu wafa, kalye wendi k’ondalatu! v’ukanoli o café k’imbo lyamale!”. Ou seja, morreu o Mais velho, agora ireis apanhar café em terras do norte como contratados, ou ser escravos na terra que ajudaram a, supostamente, libertar.
É verdade que Savimbi nem sempre tinha razão. Quando dizia “Ise okufa, etombo livala” (prefiro antes a morte, do que a escravatura), estava muito longe de saber que a sua mensagem não faria escola entre os principais dirigentes da UNITA que, hoje, preferem a escravatura de barriga cheia e não trocam a lagosta (que o MPLA lhes dá com fartura) pela mandioca, ou farelo, que mantém milhões de angolanos mais ou menos vivos.
Desde 2002 o Galo Negro deixou de voar. O visgo do MPLA mantém-no colado às bissapas. Os angolanos de segunda, que não os seus dirigentes, estão apanhar café às ordens dos novos senhores coloniais.
Com a chegada à Presidência de Adalberto da Costa Júnior, a UNITA resolveu o problema do visgo. Calculou-se então que o Galo iria voar. Ledo engano. O MPLA/Estado tinha-lhe cortado as asas.
De uma forma geral a memória dos angolanos, neste caso, é curta. Como aqui foi escrito várias vezes, todos sabíamos que se não fosse o MPLA a cortar as asas ao Galo Negro, alguém da própria UNITA se encarregaria de o fazer. E assim aconteceu.
Ao aceitar ganhar mas… perder, a UNITA mostrou que não está preparada para ser governo e quer apenas assegurar alguns tachos e continuar a ser o primeiro dos últimos.