Os autóctones, a maioria, orgulhosa dos seus reinos, tribos e etnias, olham, olham, olham e de nada vislumbrar não sabem onde têm os olhos fixados. Ainda assim, forçam o olhar, uma vez mais, não vislumbram o horizonte, nem os sinais de liberdade, democracia, equidade, numa esquina qualquer do hoje, que é futuro dos milhões de pobres, que auguram por três refeições ao dia, num dia em que o regime seja capaz de poetizar doze, patriótica e republicanamente.
Por William Tonet
O mês é Dezembro! Carrega euforia, loucuras, consumismo exacerbado, alegria para uns poucos que gastam milhões de dólares dos milhões de pobres, hospedados nas esquinas, passeios, viadutos, alimentados à luz do dia, com comida de contentores ou monturos de lixo.
A engenharia da fome transforma as espinhas, os ossos, os restos de pirão, os sobejos, numa gigantesca árvore de natal, tão grande que cobre os presépios estomacais, de meninos, jovens, mulheres e velhos, por mais algumas horas, dias e semanas… Nunca, nunca, como nos últimos cinco anos, se viu tanta mulher e crianças “trepar” em contentores de lixo, para se alimentar…
Infelizmente, para desgraça colectiva, ao invés de manifestação de solidariedade e repulsa, para com a pobreza extrema, o executivo rejubila com falsos números estatísticos de estabilidade, mas de ser apenas nas despensas e cozinhas ministeriais, enquanto nas estatísticas do lado oposto (pobres), o gráfico apresenta uma espiral de tristeza, miséria, fome, desemprego vividas por milhões, que não consegue ter uma refeição ao dia…
Eu, tu, eles, nós, todos, sonhávamos ouvir, ao menos, do Presidente da República, legalmente empossado no 15 de Setembro de 2022 (pela presidente do Tribunal Constitucional, Laurinda Cardoso, membro do bureau político do MPLA), que a partir do cristão dia 25 de Dezembro de 2022, terminaria a coisificação do pobre, passando este a estar no centro do Orçamento, com direito a três refeições, ainda que básicas, ao dia.
Ledo engano.
João Lourenço, mais uma vez, optou pela lei da insensibilidade e da força, investindo, a partir de Washington, milhões e milhões de dólares, em armas americanas, nos supermercados da fé e em pastores, evangelicamente, comprometidos com satanás, a corrupção e a miséria popular.
Resta, desta feita, aos pobres a resiliência para enfrentar a política do mal, mobilizando intelectuais, partidos revolucionários, padres e bispos católicos autóctones, ainda maioria (religião), que o islão permite, que continuem, a sê-lo, em Angola, para se travar a lei da injustiça, discriminação, corrupção e Fundo Monetário Internacional, que controla a soberania económica, dominada a 99,9% pelos novos colonialistas, sob capa de investidores estrangeiros.
Neste final de ano, o quadro é dantesco e para o MPLA não há outra solução porque, de poder conquistado, com a sub-repção da CNE (Comissão Nacional Eleitoral) e do Tribunal Constitucional, João Lourenço não abdica.
Mais a mais, com o crescimento de um exército de bajuladores, que sub-repticiamente tenta temperar as mentes, para imposição “contra legis” de um elástico visando a perpetuação do Titular do Poder Executivo, através de revisão constitucional, alterando o n.º 2 do art.º 113.º da CRA: “Cada cidadão pode exercer até dois mandatos como Presidente da República”.
É este país que transporta um Dezembro/22, vertiginosamente, em sentido contrário, as lianas de justiça, imparcialidade, tolerância, perdão e conciliação, que abraçarão, na turbulência, 2023.
PACIFICAÇÃO OU CAMINHO PARA O FOGO
O desnorte paira. O ar está poluído. O país navega ao sabor de birras umbilicais, quando a humildade deveria cobrir as nuvens. Angola é, pese, alguns prémios que dizem comprados e a retórica do combate à corrupção, mais para agradar à comunidade ocidental é, visto como pária continental e internacional.
O afastamento da região, quer no COVID, único país que seguiu a Europa cortando relações aéreas com a África do Sul e demais países africanos e a compra de milho à Argentina, quando poderia fazê-lo em África, no Zimbabwe, Zâmbia, etc..
O executivo não está bem, a sua política económica, “canina” ao FMI, atende aos interesses ocidentais de subjugação de Angola, para se despojar da sua economia, mandando-a vender empresas públicas, terras, minas, aeroportos, portos, tudo para o grande capital.
Isso tem danos directos ao colocar no desemprego e a fome milhões de angolanos, que se vêem despojados do sonho de ser livres e independentes, ante o danoso e doloso programa económico neoliberal.
A aposta de João Lourenço no género começa a ser questionado, se é pela competência ou submissão das mulheres ao “chefe” considerado “mau”.
As duas vice-presidentes não têm muita notoriedade nos sectores partidário (vice-presidente do MPLA – Luísa Damião) e no Executivo (vice-presidente da República – Elsa Costa).
Esta última para mostrar ter mais consideração que o antecessor, tem um orçamento de mais de 7 mil milhões de Kwanzas, contra pouco menos de 3 mil milhões, que tinha Bornito de Sousa, “camaradamente” humilhado e discriminado.
No poder judicial, Laurinda Cardoso, membro do bureau político do MPLA é a presidente do Tribunal Constitucional, no Tribunal de Contas é Exalgina Gamboa, que preside. Na Assembleia Nacional, Carolina Cerqueira preside o órgão.
Na Procuradoria-Geral da República fala-se na pretensão de nomear uma mulher, para acelerar, sob o peso da pressão psicológica, acusar a qualquer preço, os inimigos do sistema, por sinal, maioritariamente, do MPLA, cada vez com a imagem mais beliscada de um partido corrupto, denunciado pelo próprio presidente.
No mais existe ainda a blindada acusação de os órgãos da Presidência da República, com a Casa de Segurança à cabeça, terem um orçamento secreto, que corrompe tudo e todos…
Além de que, muitos destes recursos, vindos de empresas públicas: SONANGOL e ENDIAMA vazarem para o MPLA, que exige, mais e mais fundos para a sua implantação nas grandes províncias, com destaque para Luanda. O dinheiro é distribuído segundo critérios de proporcionalidade quanto ao tamanho dos municípios, dos CAP’s e das igrejas, maioritariamente, evangélicas e muçulmanas, vinculadas à ideologia do MPLA.
É chegada a hora da humildade e unidade de todos amantes da liberdade, para se vencer as barreiras da discriminação e opressão da maioria e colocar-se um fim as graves distorções e imoralidades, atentatórias aos fundamentos constitucionais, como a transparência, a impessoalidade, a moralidade entre outros.
As práticas do regime, não se alterando, ameaçam um conflito, em 2023, entre os vários poderes; partidário, executivo, legislativo, judicial, capaz de resvalar para a sociedade.
A actuação musculada do presidente do MPLA e Titular do Poder Executivo, iniciada, neste segundo mandato, contra os camaradas de partido; Bornito de Sousa e Fernando da Piedade Dias dos Santos, depois destes abandonarem os pelouros, longe de indiciar força, demonstra uma fragilidade, capaz de resvalar para rupturas capazes de obstaculizarem quer a unidade interna, como o futuro apoio ao líder.
Não foi uma boa solução, no final de ano, já carregado com mais uma humilhação a Augusto Tomás (MPLA), ao ver rejeitada, sem razões jurídicas cabíveis, a liberdade condicional.
Finalmente, o congelamento sem fundamentação das acções de Isabel dos Santos, em vários países, indiciam uma perseguição “most mortium” ao seu pai. Era necessário saber-se o “quantum” Isabel delapidou o Estado, sem o qual, goste-se ou não da primogénita de Dos Santos, não podemos aplaudir as injustiças e barbaridades jurídicas. Afinal, João Lourenço prometeu, em 2017, acabar com o que chamou de excrescência e alta corrupção, mas hoje vê-se o contrário com a repartição das verbas roubadas ao Estado a serem divididas, com respaldo numa lei espúria, entre procuradores, juízes e políticos.
Um verdadeiro hino à barganha!