“A política, como actividade individual, exerce-se – em princípio – ao serviço da comunidade e de um ideal, desinteressadamente e, como a história demonstrou, com inúmeros riscos pessoais. Mas pode ser, também, uma manifestação de ambição pessoal: ou seja, o fascínio do poder pelo poder, sem escrúpulos éticos. No primeiro sentido, a política é uma das mais nobres actividades do ser humano. Se não for a mais nobre…” (Mário Soares, ex-Presidente da República Portuguesa)
Por William Tonet
A assertiva acima é de um dos maiores combatentes portugueses da luta contra o regime ditatorial fascista de Salazar e Caetano, que fez, chegado aos mais altos patamares do poder, da acção política, um verdadeiro sacerdócio, trabalhando para melhorar as condições sociais de vida dos seus cidadãos.
De Mário Soares não se conhece a multiplicidade de relações promíscuas com o vil metal, como ocorre, em relação a muitos políticos, que vegetam na mais alta corte do poder do MPLA, auto designados marimbondos, caranguejos, trungungueiros, larápios, corruptos, maldosos e entregacionistas anti-Angola.
Hoje os angolanos estão carentes de referências, muito pela falta de humildade, sentido de Estado e de bom serviço público.
Um professor é selvaticamente violentado, no 13.10.22, pela Polícia Nacional, diante dos alunos por, sentimentalmente, partilhar os seus sentires e gemeres face ao aumento dos calos no rabo, causados pelos “bancos de pedra”, latas de leite e paus, instalados, ao longo dos 47 anos de independência, nas escolas do MPLA. Bernardo Diavava conheceu as fedorentas masmorras do regime, com uma mentirosa acusação de destruição de carteiras. Inexistentes pois alunos, meninos de 8 anos acordam às 4h00 da madrugada, esgueirando-se por entre os becos, para se distanciarem do alvo dos bandidos.
Noutro extremo, os meninos e o país viram emergir a raiva e a irresponsabilidade política da ministra da Educação, ao ordenar a suspensão do professor que pensou libertar os calos nos rabos dos filhos dos pobres, expressamente, excluídos da Constituição.
No 19.11, em pleno fecho, toca a campainha. A Polícia Nacional, uma vez mais, brutalizando na actuação, espanca jovens manifestantes por, desarmados, gritarem por justiça: Liberdade já, para Luther Campos!; Liberdade já, para Tanaice Neutro!; Liberdade já, para Alexandre!
Neste clamor alguém vaticina crime contra a Segurança de Estado? Contra a integridade da Presidência da República? Não! Não!
Este grito justifica a acção musculada de um oficial da Polícia, ao ponto de arrancar à força o megafone das mãos de Adolfo Campos, atirá-lo ao chão, para o despedaçar… Não! Então, porque o fez? Simples, por a Polícia Nacional ter sido transformada num órgão com comportamento fascista e ditatorial, distante do republicano…
O portador (AC) e o megafone não comete nenhum crime, salvo o de ser considerado cidadão de segunda por uma clique de energúmenos, trajados com farda de autoridade, que atenta contra a Constituição Atípica, por eles aprovada.
A ditadura policial espancou, partiu os instrumentos de som e arrastou nas suas sanguinárias carroçarias, 12 (doze) jovens, que passaram pela Esquadra do Cazenga e, depois, encaminhados para a zona do rio Dande.
“Tememos que possam estar a levá-los para os atirar aos jacarés, como fizeram com Cassule”.
É a barbárie no seu máximo esplendor.
A transmissão aos cidadãos de controlo das Forças Armadas, Polícia Nacional, Segurança de Estado e todo poder judicial é uma estratégia planeada para transmitir o temor em todas as hostes da sociedade. Resistirá, por muito tempo?
João Lourenço sabe ter 100 dias para mostrar capacidade de inverter a forma musculada de gestão política, com base num rosário de humildade e alianças com os adversários, distanciando-se da lógica de subjugação e controlo de todos órgãos de soberania.
O segundo mandato, trilhando o caminho sinuoso do primeiro, poderá, em 2027, ter resultados político-eleitorais piores, para o regime.
O descavilhar da granada contra Fernando da Piedade Dias dos Santos “Nandó”, longe de mostrar a força do Presidente da República, indicia uma fraqueza incubada, capaz de fazer dos estilhaços, uma arma de arremesso de consequências imprevisíveis, na reputação de João Lourenço.
A nacionalização ostensiva das acções (25%) de Isabel dos Santos e do grupo de Leopoldino do Nascimento, na UNITEL, bem como a emissão, no dia 17.11.22, de um Mandado de Captura Internacional da primogénita de José Eduardo dos Santos, denotam uma caçada impiedosa, na reserva de caça da avenida Ho Chi Min (sede do MPLA).
“Isso é uma acção persecutória doentia, pois não tem sentido essa perseguição contra José Eduardo dos Santos, a filha, Isabel dos Santos e outros, bem como daqueles que lhe são próximos”, denuncia o politólogo José Guerreiro.
Uma fonte do Folha 8 acredita ter a PGR recebido orientações políticas para viabilizar, nos próximos tempos, mandados de prisão contra Leopoldino do Nascimento e Manuel Hélder Vieira Dias “Kopelipa”, como forma de mostrar força e falta de receio de qualquer consequência, depois de ter imposto a política do medo, através dos exércitos militares e de bajuladores autómatos.
No campo económico, o país está a viver, nos últimos cinco anos, uma nova colonização devido ao pernicioso programa económico neoliberal de Manuel Nunes, que escancarou as portas da soberania comercial, à máfia do fundamentalismo islâmico, dos chineses e ocidentais.
A fome, miséria e desemprego aumentam, na casa dos angolanos, enquanto no sentido inverso, os lucros dos especuladores estrangeiros, crescem exponencialmente, ante a cumplicidade e covardia governamental
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A venda de empresas públicas ou a sua desvalorização, como estão a fazer com a TAAG ou ainda com alguns segmentos da SONANGOL, vendidos aos franceses a preço de banana.
A lógica de se impor a privatização de todos e todas as empresas públicas, herdadas do colonialismo, pelos países recém independentes e subdesenvolvidos, sem uma classe empresarial forte, adoptando, de atacado, a lógica do FMI e Banco Mundial é, verdadeiramente, uma demissão da soberania económica do país(es) independente e um regresso, sub-reptício, ao domínio e padrão colonial.
O antigo dominador não se demite, apenas muda de designação de colonizador passa a investidor, mas com o mesmo “modus operandi”: explorar a mão-de-obra autóctone, ter o domínio e controlo da economia, ditar as regras da inflação e distribuir umas migalhas aos senhores da corte, como assimilados e seus fiéis representantes. Vender e privatizar as melhores minas, poços de petróleo, terras aráveis, fontes de água mineral, licença de pesca ilimitada, nos mares e rios, controlo da banca, das telecomunicações e, até do espaço aéreo, não é ECONOMIA DE MERCADO É CRIME DE MERCADO.
Os responsáveis angolano, têm uma obsessão doentia e submissa às políticas do Fundo Monetário Internacional, acreditando cegamente serem capazes de inventar novas equações.
O objecto desta instituição e de outras ocidentais é a de manter todos os países africanos, no patamar de eternos exportadores de matérias-primas e subdesenvolvidos.
Se fosse o inverso, teríamos, em África, um país padrão, depois de adoptar as famosas fórmulas do FMI. Infelizmente, a realidade leva-nos ao seguinte cenário: se um país tem uma economia média, depois do FMI fica pobre; se era pobre, fica miserável, logo compete aos dirigentes do MPLA aferir o que melhor devem fazer, para a verdadeira autonomia e independência de Angola.
Como sempre ocorre, a falta de humildade e arrogância do lourencismo continua a desferir ataques contra tudo e todos, sem muita criatividade, mas de uma letalidade, prejudicial ao próprio país, cada vez mais imobilizado e sem lianas comunicacionais, entre os principais actores da tribo política.
Adalberto da Costa Júnior denunciou, no 17.11, o distanciamento da relação institucional entre o Presidente da República e o líder do maior partido da oposição, para dentre outros assuntos resolverem o excesso de trungungu, da bancada do MPLA, na Assembleia Nacional, quanto à violação ostensiva do regimento interno.
A incompetência da CNE (Comissão Nacional Eleitoral) que não ditou a verdade eleitoral, não pode indiciar uma aparente rendição do líder da UNITA, nem cegar o líder do MPLA, quanto a realidade eleitoral de 24 de Agosto de 2022, que ditou um claro distanciamento do eleitor as políticas e estratégia do partido no poder.
O desfile militar de 15 de Setembro de 2022, por altura da tomada de posse presidencial, foi uma clara ameaça e demonstração de força, alertando a navegação que a suspeição de derrota, está blindada, além da CNE, pelas forças armadas e, juridicamente, pelo Tribunal Constitucional, indiferente a todos argumentos da oposição, esta “não desistiu”, de reivindicar vitória nas eleições.
É este braço-de-ferro envolto numa relação de cinismo entre os políticos, que ditarão os 100 dias, do último mandato (será?) de João Lourenço, pelas confusas prioridades do Presidente da República, que ao invés de resolver a greve dos professoress do ensino geral e do universitário, dos enfermeiros, dos oficiais de Justiça, do Ministério Público e da descaracterização criminosa da TAAG, com um PCE espanhol, que ganha 68 milhões de Kwanzas/mês (150 mil euros), para afundar a companhia, desmanchando os aviões de passageiros, foi para a Noruega contrair mais dívidas, começando com os 500 autocarros.
O poder presidencial hoje é considerado legal, mas não legítimo, e deveria abraçar mais a harmonia e não inaugurar focos de incêndio, por ser impossível controlar a mente de todos os militantes do MPLA, da oposição e das forças de Defesa e Segurança, capazes de abandonar o “bunker” da omissão, cumplicidade e silêncio, principalmente, com a passagem compulsiva de muitos a reforma.
A CNE concedeu ao MPLA, ante a força do voto popular, que rompeu o “programa fonte” informático da INDRA, uma bancada parlamentar mais do que insuficiente para prolongar o mandato presidencial ou alterar a Constituição, como o fez em mandatos anteriores, mas os cidadãos não podem adormecer. Devem ter os olhos, permanentemente, abertos, como um dever cívico, de não esquecerem os momentos tortuosos vividos, que tanto mal fizeram a vida, a liberdade e a democracia.