CAFUNFO? ISSO FICA ONDE?

Uma estrada impraticável, onde nem os camionistas querem ir, falta de energia e de água são algumas das dificuldades apontadas pelos empresários da vila mineira de Cafunfo, na província angolana da Lunda Norte, que condicionam o investimento local. Parabéns MPLA. 46 anos no Poder e ainda não teve tempo para fazer algo mais do que ser o partido com mis corruptos por metro quadrado.

Os empresários juntam-se assim aos cerca de 170 mil moradores de Cafunfo, a vila mineira da Luanda Norte onde, a 30 de Janeiro de 2021, dezenas de pessoas foram assassinadas pelo Polícia (do MPLA) durante uma manifestação, nas denúncias sobre a falta de infra-estruturas que agravam a pobreza extrema da região, apesar de esta ser uma das mais ricas do país devido à abundância de diamantes.

No topo da insatisfação está a ausência de uma estrada digna desse nome que, apesar das promessas, continua a faltar, sendo um dos motivos que levou ao protesto do ano passado, mobilizado pelo Movimento do Protectorado da Lunda Tchokwe, cujo líder, entre outros participantes se encontra actualmente a ser condenado (o MPLA chama-lhe julgamento) no tribunal da comarca de Chitato, no Dundo (capital da Luanda Norte).

Ângela Moisés, comerciante de frescos, explicou à Lusa como trazer os produtos, provenientes essencialmente de Benguela, Namibe ou de Luanda, àquela localidade de difícil acesso, se tornou uma verdadeira aventura.

“É difícil, é mesmo sofrimento”, diz. “Os camionistas não aceitam vir para aqui e se tiverem de vir [cobram] uma margem um bocado mais elevada, o frete é mais elevado por causa da estrada, a estrada é péssima”, explica.

Quando chove “não passa nenhum camião” e a localidade fica isolada, o que pode chegar a uma semana, “até o chão secar”. E há mesmo quem se negue a vir, salienta Ângela Moisés.

São necessárias pelo menos 12 horas para transpor os 700 quilómetros de distância entre a capital, Luanda, e Cafunfo, sendo o troço final, entre a vila mineira e o município do Cuango, com cerca de 40 quilómetros, o mais penoso.

A estrada pública não passa de um caminho esburacado e praticamente intransitável, dividida por ravinas, onde apenas as motos circulam. Como alternativa, moradores e visitantes têm apenas a via que atravessa a concessão mineira do Cuango, sujeita a restrições e limitações de horário.

O governo local diz que a reabilitação da estrada está em curso, mas para os habitantes de Cafunfo são ainda promessas. É assim há 46 anos. “Estamos à espera que nos dêem uma solução. De concreto, ainda não vimos nada”, desabafa Ângela Moisés.

Totalmente dependentes de geradores para a energia, os comerciantes apontam também os custos do combustível, aliados à escassez e irregularidade do abastecimento, entre as dificuldades que enfrentam, como Rosa Teixeira, proprietária de uma hospedaria e restaurante.

“Nós usamos os nossos geradores e há momentos em que a hospedaria fica sem luz porque não temos combustível”, lamenta.

Quando este chega às bombas, “é luta” para comprar, relata Rosa Teixeira, lembrando que o combustível é também transportado em camiões e estes nem sempre chegam. Ao longo do percurso, carroçarias enferrujadas de camiões de transporte de mercadorias, tombadas aqui e ali e deixadas ao abandono, atestam os obstáculos da viagem.

“A estrada nacional não existe, só tem ravina. Nós queremos, pelo menos, que arranjem a estrada, queremos água, queremos energia, escola, hospitais, é só isso que nós queremos”, pede.

Bento Pedro, filho da terra e proprietário de uma hospedaria, corrobora. “Pensar em investir aqui não foi fácil, foi preciso amor à pátria para fazer um investimento destes”, diz, sublinhando que as dificuldades são “enormes” por falta de infra-estruturas.

A residencial, com mais de 20 quartos, é totalmente auto-abastecida, dependendo de gerador para ter electricidade e de uma captação própria de água.

“Fiz a minha captação para puxar água para aqui, e não foi barato. E nem imaginas qual o meu consumo de luz aqui. Tenho três geradores e diariamente devo gastar quase 150 mil kwanzas [cerca de 250 euros] só para manter a casa acesa, é um problema sério”, lamenta.

Bento Pedro fala também sobre a complexidade em aceder aos produtos de que necessita, do mobiliário à alimentação.

“Às vezes, mesmo tendo o dinheiro não encontramos o produto, por causa das estradas. Há dificuldades graves para os camiões chegarem ao Cafunfo. Há quem nem aceite alugar os camiões, há quem diga ‘não vou para lá por que lá não há estrada’, e os produtos quando chegam já vêem com um preço muito alto”, desabafa o empresário.

“Mas com as nossas dificuldades estamos no Cafunfo. Sem problemas, com problemas, estamos aqui”, prossegue Bento Pedro, apelando à intervenção das autoridades para melhorar a situação, o que viabilizaria também novos investimentos na localidade.

GOVERNO FAZ O QUE SEMPRE FEZ… PROMESSAS

O governo da Lunda Norte reforçou as verbas para reabilitar a Estrada Nacional 165, principal via de ligação à vila mineira de Cafunfo, estimando a abertura do primeiro troço até finais de Abril.

O mau estado da estrada, esburacada e dividida por ravinas, é uma das maiores preocupações dos mais de 160 mil moradores da vila, que são obrigados a usar como alternativa a via que atravessa a concessão mineira do Cuango, sujeita a restrições.

A falta de acessos, agravada pela pobreza extrema, tem sido um foco de conflitualidade no Cafunfo. Em março de 2021, o governador provincial da Lunda-Norte, Ernesto Muangala, visitou o local e anunciou a reabilitação da estrada, cujo avanço tem sido dificultado pela complexidade técnica das obras e a situação de pandemia, entre outros constrangimentos, segundo explicou à Lusa.

A terraplanagem de Estrada Nacional 165, 200 quilómetros que ligam Cuango, Cafunfo e Loremo, é, segundo o governador, um “projecto estruturante em termos das vias de comunicação” que irá “minorar constrangimentos de mobilidade” e melhorará o bem-estar das populações locais, tendo sido terraplanados até à data mais de 33 quilómetros no troço que liga a sede (Cuango), à vila de Cafunfo.

“O troço é complexo e apresenta desafios de especialidade técnica de engenharia, sendo que os constrangimentos havidos na execução dos trabalhos têm origens híbridas, as constantes quedas pluviais típicas da região e a situação da pandemia da Covid-19, que levaram o empreiteiro a reduzir a força de trabalho”, justificou Ernesto Muangala, por escrito, em resposta enviada à Lusa.

O responsável salientou que o projecto, inicialmente orçado em 2,1 mil milhões de kwanzas (3,5 milhões de euros) irá beneficiar de um reforço orçamental que irá garantir a execução cabal da empreitada, sem especificar a verba.

“Acreditamos que, até finais de Abril, o primeiro troço, sede à Vila de Cafunfo, será concluído, o que seguramente garantirá uma melhor circulação de pessoas e bens”, assegurou Ernesto Muangala.

O governador apontou também soluções que permitirão, no futuro, resolver os problemas de abastecimento de água, energia e saneamento na localidade.

“Estão previstas a curto/médio prazo, a implementação de três centrais de produção de energia fotovoltaica para a sede do município, Comuna do Luremo e Vila de Cafunfo, projetos este da alçada do Ministério da Energia e Águas”, adiantou o responsável.

No âmbito do Plano de Segurança Energética 2025, o executivo angolano autorizou a celebração de um memorando de entendimento entre o Ministério da Energia e Águas e um consórcio constituído pelas empresas ELEKTRA – Electricidade e Águas de Angola, Limitada, e Angola Hydro Holdco, Lda., visando a realização de estudos de viabilidade para construir e operar projectos hidroeléctricos independentes de raiz ao longo do rio Cuango, denominados Vuka I, Vuka II e Vuka III, que irão produzir 305 megawatts de energia.

Decorrem também negociações para implementação de projectos ligados à construção de três sistemas de abastecimento de água naquelas localidades, inseridos numa linha de financiamento externo, acrescentou.

Quanto ao saneamento básico, “operam no município duas empresas que prestam serviços de limpeza e saneamento no âmbito do Plano Integrado de Intervenção nos municípios, cujas acções incidem na sede do município e nas demais localidade”, segundo o governador.

“De salientar que a administração municipal, ainda nas acções do PIIM, adquiriu máquinas e equipamentos para o saneamento básico, o que tem permitido a recolha de resíduos sólidos ao nível do município”, referiu igualmente, sublinhando que “o Governo da Lunda-Norte trabalha e trabalhará sempre para garantir o bem-estar da população”.

Folha 8 com Lusa

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