QUEM FLUTUA (MESMO QUE SEJA NO VÓMITO) NUNCA SE AFUNDA

7 de Janeiro de 2016. Sob o título “Vómito de luso-angolano”, o órgão oficial do MPLA (Jornal de Angola) publicou o texto que se segue. Alguém disse que quem estiver sempre a falar do passado deve perder um olho. Mas acrescentou: quem o esquecer deve perder os dois…

Por Orlando Castro

Eis o texto em questão: «Há em Portugal uma categoria de gente que se apresenta como angolana. São pessoas que nasceram em Angola, mas esconderam a sua origem. Nunca fizeram nada de positivo por Angola, mas rapidamente se põem em bicos de pés.

Uma dessas personagens é Nicolau Santos, director adjunto do semanário português “Expresso”, homem nascido em Luanda e hoje serviçal do milionário Francisco Pinto Balsemão, dono do império mediático à deriva que dá pelo nome de Impresa.

Posicionado melhor do que ninguém na sociedade portuguesa para ajudar o país onde nasceu, como fazem muitos luso-moçambicanos e luso-cabo-verdianos, Nicolau Santos tornou-se uma vergonha para Angola. Foi dos primeiros a abandonar o navio, como fazem os ratos, quando as coisas se complicaram por altura da independência, silenciou os crimes de guerra de Jonas Savimbi e do apartheid nos jornais por onde passou. Mas quando a paz chegou a Angola, apressou-se a ocupar a fila da frente para beneficiar do sacrifício dos outros. Calou-se e foi cúmplice dos piores crimes contra a terra onde nasceu, que não soube honrar.

Na última edição do semanário “Expresso”, onde subiu apenas por ser luso-angolano, com possibilidades de abrir portas aos negócios do patrão, Nicolau Santos aparece a requentar o vómito que acumulou durante anos contra Angola e a atirar essa podridão contra o país. O texto “José Eduardo dos Santos: O Rei Sol angolano” publicado no passado sábado no “Expresso” é daqueles materiais provocadores lançados frequentemente pela imprensa portuguesa para inquinar as relações angolanas com Portugal, que já para nada servem.

O artigo tem como base a opinião de três outros figurões luso-angolanos da mesma estirpe. O principal desavergonhado que Nicolau Santos usa como fonte no artigo é Xavier de Figueiredo. Trata-se de um antigo e estreito colaborador da tenebrosa “South African Bureau For State Security”, conhecida por BOSS, os serviços secretos do regime do apartheid na África do Sul que foram responsáveis pela repressão a Nelson Mandela e a outros patriotas do ANC.

Durante a guerra em Angola, o torcionário mediático Xavier de Figueiredo destacou-se como o mais fiel colaborador dos serviços de inteligência ocidentais na subversão contra o Governo angolano. O editor do “Africa Monitor” foi o grande legitimador na comunicação social portuguesa da guerra de Jonas Savimbi e da África do Sul em Angola. Foi por isso responsável pela morte e o estropiar de milhares de angolanos.

Apesar das sanções da ONU decretadas contra os mais directos colaboradores de Savimbi, ainda hoje os serviços de informação de Xavier de Figueiredo continuam activos em Portugal e a atacar as autoridades angolanas como se a hostilidade da UNITA continuasse. O seu escritório está mesmo situado num edifício ligado aos serviços secretos portugueses.

Com a paz em Angola, o figurão Xavier de Figueiredo fracassou numa tentativa de lançar uma publicação lusófona, isso porque depois de tanta patifaria e de tanto crime, ninguém lhe deu crédito. A não ser Nicolau Santos e Francisco Pinto Balsemão, que agora o pegam ao colo. É este assassino moral dos angolanos que serve de fonte principal ao director adjunto do “Expresso”.

Outra personagem a que Nicolau Santos recorre como fonte é Manuel Ennes Ferreira, economista angolano de competência duvidosa. Foi também dos primeiros a abandonar o barco a afundar em 1975 e quer hoje dar lições aos verdadeiros lutadores dos direitos humanos que cá ficaram. Ficou conhecido pelas frequentes “gafes” nas análises sobre Angola, devido à sua clara parcialidade política. Promoveu a ideia do “eldorado” e “para Angola rapidamente e em força”, por causa dos elevados níveis de crescimento registado nos últimos anos que empurrou para Angola milhares de portugueses e empresas à procura da árvore das patacas. Durante o conflito armado, Manuel Ennes Ferreira gabava-se nas páginas do “Diário Económico” de se recusar a transportar medicamentos para Angola, numa altura em que a doença lavrava no país. Por aí se vê quem é a pessoa. Nada fez de jeito pelo país, mas quando pequenos problemas batem à porta a Angola, volta a revelar o seu estilo.

Por puro oportunismo, Nicolau Santos cita no seu texto a grande poetisa portuguesa Sophia de Mello Breyner, mãe do insuspeito Miguel Sousa Tavares, e o jornalista e ex-deputado angolano João Melo.

É esta qualidade de gente que Nicolau Santos apresenta como referências dignas para lançar o seu vómito requentado contra os dirigentes angolanos. O que move os luso-angolanos em Portugal, salvo excepções, é ainda, no fundo, o sentimento de diminuir, de maltratar, de magoar. No fundo, os ratos luso-angolanos que abandonam hoje o barco diante da mais pequena vaga são os verdadeiros responsáveis do fracasso da parceria estratégica entre Angola e Portugal, pela incompetência e incapacidade demonstradas. Não sucede o mesmo com os luso-moçambicanos ou luso-cabo-verdianos porque estes são pessoas que não desonram a terra que os viu nascer.»

Na verdade, enquanto Presidente da Lusa (hoje preside à RTP), Nicolau Santos assinou em Dezembro de 2018 com a Edições Novembro (que edita, com dinheiro roubado ao Povo, o órgão oficial do MPLA – Jornal de Angola) um protocolo para acções de formação vocacionado para a área do jornalismo, também direccionado para as estruturas de apoio à publicação de jornais do regime.

“Sentimos necessidade de o acordo entre a Lusa e a Edições Novembro contemplar a vertente da formação, e é essa que assinámos agora; para lá da língua portuguesa que nos une, a formação é essencial, e nós temos algumas debilidades do ponto de vista técnico, e a Lusa tem disponibilidade e experiência nesse aspecto, então temos de juntar sinergias para superar as lacunas que temos no nosso jornalismo”, disse o então presidente do Conselho de Administração da Edições Novembro, Victor Silva, realçando que “só com homens bem formados” é possível “jornalismo de qualidade que possa responder aos desafios que Angola tem”.

O país, acrescentou, “está a viver um momento político não de revolução, mas de semi-revolução, e isso tem de ser acompanhado com uma dinâmica de refrescamento permanente dos jornalistas, que vinham de uma letargia e agora precisam de acompanhar mais de perto e compreender melhor os fenómenos políticos e sociais que estão a ocorrer no país”.

O acordo previa que os profissionais da Lusa se desloquem a Luanda “para dar formação específica sobre vários temas, de conteúdo, de multimédia, e das várias especialidades do jornalismo, como reportagem ou notícia, mas também previa que os jornalistas angolanos das Edições Novembro possam passar aqui pela Lusa fazendo pequenos estágios de reciclagem e formação”, concluiu Victor Silva.

Para o então presidente do Conselho de Administração da Agência Lusa, Nicolau Santos, o acordo assinado inseria-se na nova estratégia da empresa, em que o “aumento da presença em África nos países que falam português é um dos vectores principais”.

“Em Angola, as Edições de Novembro são um parceiro inquestionável, detêm o mais importante jornal angolano, o Jornal de Angola, com uma longa tradição e, nesse âmbito, tudo o que seja possível para ter parceiros de peso na comunicação social é importante”, disse Nicolau Santos.

O objectivo geral – salientou – é “preparar melhor os jornalistas e as redacções para responder aos novos desafios, e nesse quadro há duas vertentes do acordo, que são a troca de conteúdos e a formação, de que Angola precisa, mas de que nós também temos a beneficiar, porque quando damos formação, percebemos melhor as necessidades dos nossos parceiros”.

No final da assinatura do acordo, Nicolau Santos comentou ainda que em Angola “há uma mudança clara da situação do ponto de vista político”, lembrando que “o Jornal de Angola foi durante anos utilizado, para não carregar muito nas palavras, não contribuiu para o melhor entendimento entre os povos portugueses e angolanos, foi crítico em relação a muitas das posições aqui tomadas e hoje verifica-se uma alteração completa nessa matéria”.

O Jornal de Angola, continuou Nicolau Santos, “tenta efectivamente melhorar as relações entre Portugal e Angola e tenta contribuir para que os portugueses em Angola se sintam em casa e que os angolanos em Portugal também se sintam em sua casa”.

Esta mudança, “que está a ser feita sob a égide de Victor Silva, é um aspecto muito importante para o desenvolvimento futuro das nossas relações enquanto instituições e das nossas relações enquanto países”, concluiu o presidente da Lusa.

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