Hoje, 21 de Março, é Dia Mundial da Árvore e Dia Internacional da Floresta. É também, entre outros, Dia Nacional para a Eliminação da Discriminação Racial, Dia Internacional da Astrologia, Dia Universal do Teatro, Dia Mundial da Poesia e Dia Mundial da Marioneta.
As minhas crianças de barriga vazia
passam ao lado de todos os natais,
esquecidas pelos que fazem poesia
para ser cantada nos seus funerais.
Os abutres do regime lá comem tudo,
esquecem que o povo morre à fome.
O poeta, esse mantém-se bem mudo
e tem como musa aquilo que come.
Na frente de um prato de lagosta cheio
nunca vê a fome que ao seu lado toca,
e por isso permanece absorto e alheio
aos que, ao lado, só comem mandioca.
O poeta é hoje apenas um mercenário
ao serviço do dono que o povo trama,
assume-se como um reles e ordinário,
escravo que chupa em qualquer mama.
Curva-se, aceita e amplia a ordem dada,
lambe sempre as botas do novo patrão.
Arrota, pois claro!, postas de pescada,
abomina de peito cheio o prato de pirão.
Cumpre ordens do dono e nada o abala
nessa sofreguidão de ter a barriga cheia.
Atirá-los, a todos, do alto da Tundavala
ainda seria pouco para uma tal alcateia.
Já não se lembram dos 30 angolares,
e trocaram o peixe podre por caviar.
Agora a colonial porrada se refilares
é para o Povo que querem escravizar.
Poema “Angola (não) tem poetas?”, de Orlando Castro, dedicado aos seus dois manos, William e António