Uma mulher foi morta a tiro por um agente da polícia nacional, no município de Caluquembe, província angolana da Huíla, na sequência de disparos efectuados para responder a um alegado apedrejamento feito por populares, disse hoje fonte policial. O habitual. Pouco antes de morrer a mulher estava… viva.
Uma nota de imprensa da Polícia local refere que o incidente ocorreu no sábado, na altura em que a polícia tentava dispersar os comerciantes de um mercado irregular, no bairro Campo da Aviação.
“Na tentativa de conter a violência e dispersar os cidadãos revoltados com os disparos para o ar, o agente ter-se-á desequilibrado na viatura de patrulha em movimento e o disparo veio atingir na região do tórax a cidadã, de 32 anos […] tendo-lhe causado morte imediata”, explica a nota.
Segundo a polícia, foi contactada a família e junto com a administração serão prestados os devidos apoios para o funeral e foi aberto um processo de averiguação para apurar as circunstâncias do disparo.
A anteceder este incidente, há o relato da morte de outros cidadãos pela polícia, nas províncias de Luanda, Benguela e Lunda Norte, esta última envolvendo um soldado das Forças Armadas Angolanas, em acções de tentativa de dispersão de populares.
O ministro do Interior, Eugénio Laborinho, avisou com antecedência que a polícia ia reagir de forma adequada ao comportamento dos cidadãos, mas não ia “distribuir chocolates e rebuçados” perante os actos de desobediência.
Por alguma razão, numa inequívoca prova da sua modéstia, no curriculum apresentado no site do Ministério do Interior pode ler-se sobre Eugénio Laborinho: “Com o vasto currículo, no domínio de defesa e segurança, foi a aposta certa para assumir os desígnios do Ministério do Interior”.
“Temos estado a actuar em conformidade com a lei e as próprias medidas que vamos tomando dependem do grau de intervenção de cada caso e somos criticados [por isso]”, disse em Abril o governante, acrescentando: “A polícia não está no terreno para servir rebuçados, nem para dar chocolates, ela vai actuar conforme o comportamento de cada cidadão ou de cada aglomerado”.
“A Polícia Nacional, deve continuar a garantir a manutenção da ordem e da segurança pública através da melhoria e da ampliação da rede policial em todo o território nacional, aperfeiçoar e alargar o policiamento de proximidade, estreitando-se a relação de confiança com os cidadãos, devolvendo assim, o sentimento de segurança pública”, referiu Eugénio Laborinho.
Por sua vez, no dia 8 de Maio, o ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança do Presidente da República, general Pedro Sebastião, reafirmou que nada deverá justificar excessos cometidos por polícias contra cidadãos.
O general Pedro Sebastião falava na Assembleia Nacional, que aprovou, por unanimidade, o terceiro pedido do Presidente João Lourenço de prorrogação do estado de emergência, decretado pela primeira vez a 27 de Março passado.
Nas suas intervenções, os deputados manifestaram preocupação com a actuação da Polícia, nomeadamente o líder da bancada parlamentar da CASA-CE, Alexandre Sebastião, que alertou que o excesso por parte das forças de defesa e segurança não pode fazer, como já fez, mais vítimas que o novo coronavírus.
O auxiliar do Chefe de Estado, Presidente do MPLA e Titular do Poder Executivo frisou que o Governo tem recebido chamadas de atenção “para a atitude, por vezes, de alguns elementos da Polícia Nacional, que, agindo à margem daquilo que está orientado, cria algum desconforto aos cidadãos e até mesmo, em alguns casos, à sociedade”.
Então, quando o ministro Eugénio Laborinho afirma que as forças de segurança (polícias e militares) não estão nas ruas para distribuir rebuçados e chocolates está a contrariar – citando Pedro Sebastião – aquilo “que está orientado”?
“Em sede própria, o ministro do Interior referiu-se a isso e agiu em conformidade, e por isso estamos aqui para também reafirmar esse aspecto, de que nada, mas nada, deverá justificar a utilização desproporcional dos meios que possuímos, no que concerne à ordem e à tranquilidade das populações”.
O general Pedro Sebastião (que foi militar do exército colonial português), igualmente o coordenador da Comissão Multissectorial de Prevenção e Combate à Covid-19, enalteceu todo o percurso feito pelo país desde “aqueles primeiros dias de alguma incerteza”, acrescentando que é consensual entre a população a necessidade de acatamento das orientações das autoridades.
“Daqueles primeiros dias, em que não sabíamos muito bem como abordar algumas questões, para hoje [verificamos] o quão gratificante é que os cidadãos, de uma forma geral, compreendem a necessidade de usar a máscara, de lavar as mãos, de ficar em casa”, sublinhou, indicando que “foi longo o caminho percorrido”.
Folha 8 com Lusa