O primeiro satélite angolano, construído por um consórcio russo, sob a égide do Presidente José Eduardo dos Santos, que também nesta matéria vai ficar nos anais de actividade espacial do país e do mundo, será colocado em órbita em Novembro de 2016, segundo as novas e sempre proteladas garantias dadas pelo Secretário do Estado das Telecomunicações, Aristides Safeca.
Por Orlando Castro
Ogovernante precisou que a construção do satélite deverá estar concluída em dois anos, decorrendo “dentro dos prazos estabelecidos”, para depois ser lançado no espaço. De acto, e é de enaltecer tal precisão. Não faria sentido lançar o satélite antes de ele estar concluído. Mas, reconheça-se, com o regime actual tudo é possível.
A construção do satélite, avaliada em 37 mil milhões de kwanzas (294 milhões de euros), decorre em Angola, a cargo de um consórcio russo liderado pela RSC envolvendo também um financiamento russo, conforme anunciado em 2013.
O atraso no financiamento do projecto tem vindo a fazer derrapar o lançamento do Angosat, que já esteve previsto para 2015, depois para 2017 e regressa agora a 2016. Mas, por determinação do Presidente da República, agora o satélite vai mesmo levantar voo.
O executivo prevê, com a entrada em funcionamento deste satélite, que o país possa fornecer serviços de suporte às telecomunicações electrónicas, incluindo a prestação de banda larga e de televisão.
Ao contrário do que pensavam os angolanos, não vai trazer comida, nem medicamentos, nem casas, nem escolas, nem respeito pelos direitos humanos. Importa, contudo, compreender que há prioridades bem mais relevantes. E o satélite é uma delas.
O Angosat terá um período de vida de 15 anos e 22 ‘transponders’, dispositivos de comunicação electrónica. Incluirá a construção de duas estações de rastreio, em Angola e na Rússia.
Para o responsável pela pasta das telecomunicações no Governo, Aristides Safeca, o Angosat marca a entrada do país “numa nova era das telecomunicações, o que pressupõe a condução de um programa espacial que inclua, futuramente, o lançamento de satélites subsequentes”.
Recorde-se que foi no Conselho de Ministros de 25 de Junho de 2008 que foi aprovado o projecto de criação do satélite “Angosat”.
Em comunicado, o Conselho de Ministros referiu nesse dia que foram aprovadas as minutas do contrato a celebrar entre o Ministério dos Correios e Telecomunicações de Angola e o consórcio russo liderado pela empresa “Robonex-sport”, tendo em vista a construção, colocação em órbita e operação do satélite angolano.
O projecto permitirá, já se dizia na altura, a disponibilização de serviços e o acesso internacional, de suporte e expansão da Internet de banda larga, de transmissão para os operadores de telecomunicações e também a disponibilização para suportar serviços de rede de televisão e de radiodifusão.
Por mera curiosidade refira-se que no mesmo Conselho de Ministros foi feito um reajustamento nos salários da função pública, sendo que – segundo o Governo – a alteração estava em consonância com o Programa Geral do Governo que previa como medida de política salarial o reajustamento dos vencimentos dos funcionários públicos, tendo em vista a reposição do poder de compra dos salários devido à inflação esperada de 10 por cento.
Em Dezembro de 2012, Aristides Safeca anunciara o lançamento para 2015, dizendo que o projecto seria financiado por um sindicato de bancos russos liderado pelo Ruseximbank e VTB.
Na altura foi dito que a construção estava a cargo de um consórcio russo liderado pela RSC, multinacional apresentada como tendo “larga experiência na produção de satélites e foguetões propulsores em programas internacionais como o Soyuz-Apollo”.
“Este Satélite é o primeiro e marca a entrada de Angola numa nova era das telecomunicações, o que pressupõe a condução de um programa espacial que inclua, futuramente, o lançamento de satélites subsequentes,” referiu em 2012 Aristides Safeca, coordenador do projecto. Exactamente o mesmo discurso que agora repete.
“O projecto do Angosat vai bem. Está dentro dos prazos estabelecidos e em Setembro de 2016 teremos o satélite pronto e princípios de 2017, o mais tardar no primeiro trimestre, teremos o satélite no ar”, afirmou recentemente Aristides Safeca, referindo que o Executivo está, no domínio dos telecomunicações, a efectuar a procura e buscas de soluções adequadas para as telecomunicações, não só no meio urbano, mas também no meio rural. Agora corrigiu a pontaria, habitualmente desfasada da realidade, e avança com Novembro de 2016.
Ao que tudo indica, com o Angosat, o nosso país deixará de ter 68% da população afectada pela pobreza, ou uma taxa de mortalidade infantil que é a terceira mais alta do mundo, com 250 mortes por cada 1.000 crianças.
Será também graças ao satélite que não mais se dirá que apenas um quarto da população tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade, ou que 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalações, da falta de pessoal e de carência de medicamentos.
Do mesmo modo, com o Angosat não mais se afirmará que a taxa de analfabetos é bastante elevada, especialmente entre as mulheres, uma situação agravada pelo grande número de crianças e jovens que todos os anos ficam fora do sistema de ensino. Ou que 45% das crianças sofrerem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos.
Também se acabará com essa realidade de 80% do Produto Interno Bruto ser produzido por estrangeiros; de mais de 90% da riqueza nacional privada ser subtraída do erário público e estar concentrada em menos de 0,5% da população.