O Folha 8 existe desde 1995. Se lhe pedíssemos, caro leitor, um depoimento sobre o nosso trabalho, o que nos diria? Foi essa pergunta que foi colocada a algumas personalidades angolanas que vivem no país e na diáspora. Iniciamos hoje a publicação desses depoimentos com José Luís Mendonça. “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus” (Mateus 4:4), começou por escrever o jornalista, escritor, director e editor-chefe do jornal Cultura, quinzenário angolano de Artes & Letras.
Por José Luís Mendonça
O jornal Folha 8 é o mais pequeno periódico informativo angolano, pelas suas dimensões de micro jornal. No entanto, pelos seus conteúdos, é, provavelmente, o maior jornal privado surgido na era da independência que se mantém invicto desde a sua fundação em 1995, sempre apostado na luta contra a grande injustiça. Que se mantém invicto numa estrada cheia de ameaças várias e perigos evidentes que levaram outros jornais à extinção.
A história do Folha 8 é, portanto, uma história de sucesso informativo, de luta pela dignidade da classe sem voz, e de coragem jornalística, que honra a história da Comunicação Social angolana, pois representa e mantém vivo o ideal não continuado de congéneres como Imparcial Fax, Semanário Angolense, Angolense e alguns outros, ofuscados pela vã glória de impor ao povo angolano um sistema político feudal e anacrónico que deixará, por longos anos, marcas de instabilidade social, não só nas famílias da plebe, mas até nas famílias dos intelectuais proletários, a quem nunca foi permitido ascender à categoria de classe média.
Vinte e quatro anos passados sobre a sua fundação, sinto-me honrado por ter pertencido um dia, embora de forma efémera, ao naipe dos colaboradores desse projecto informativo surgido quando ainda a guerra fratricida campeava no país e, portanto, a liberdade de expressão ainda era assunto tabu.
Vinte e quatro anos depois do início dessa séria aventura informativa que já provocou dissabores judiciais ao seu fundador, William Tonet, cumprimento de kandando forte o William com o seu chapéu tradicional na cabeça, e congratulo-me pelo esforço sempre renovado da sua equipa de redacção.
O Folha 8 continua uma pequena folha e continua uma grande página informativa, que não esquece a Cultura, a alma de uma Nação, um aspecto, para nós, homens de cultura, muito crucial no campo da Comunicação Social.
Espero que o William Tonet saiba preparar o herdeiro à altura de conservar esta património informativo, para que, passados outros vinte, trinta, quarenta ou cinquenta anos, o Folha 8 continue vivo, renovado e actuante, mesmo que nós, desta geração de alma estilhaçada pelas bombas da prolongada guerra e pelas bombas do assédio político-administrativo, já não façamos parte deste mundo.
À direcção e à equipa editorial, sugiro que estude formas de, nesta era dita de abertura, obter apoios do ministério da Comunicação Social para a renovação da apresentação do jornal (imagética), copy desk, Cultura Nacional e destaque da semana e a sua inserção diária num espaço online, com mais flashes informativos nacionais sobrepostos à grande marca opinativa deste jornal.
Apoios de outras fontes são igualmente imprescindíveis para melhorar a circulação e distribuição, sempre conotada com a revisão do custo de capa, para o tornar acessível ao bolso daqueles que mais ousa defender.