O Jornalista João Fernandes morreu esta terça-feira aos 81 anos. Pelos sítios por onde tenho andado, e quando me falam de Jornalismo, conto como tudo isto me aconteceu. Tal como recordo algumas das grandes figuras do Jornalismo angolano que na altura, 1972/73, me serviam de referência, de exemplo, e que por isso “apadrinharam” o amor que – apesar de tudo – ainda tenho a esta, e por esta, profissão.
Por Orlando Castro
Se na rádio recordo, entre outros, Alexandre Caratão, Carlos Sanches, Ribeiro Cristóvão, Fernando Antunes (Congo), Norberto de Castro, Sebastião Coelho, na Imprensa (a que mais me atingiu) falo de Carlos Morgado e José de Almeida (responsáveis pela delegação do Huambo do diário “A Província de Angola”) mas, sobretudo, de João Charulla de Azevedo, João Fernandes e Jaime de Saint Maurice, da revista “Notícia”.
De facto, foram estes três enormes profissionais da “Notícia” e do Jornalismo angolano, sobretudo os dois últimos, que mais me influenciaram e que me levavam a dizer: Quando for Jornalista quero ser como eles (João Fernandes e Jaime de Saint Maurice).
Recordo (permitam-me este regresso) que o Zé Pedro, empregado aprumado e sempre eficiente, nunca me servia só o café. Ia bem mais longe. Ainda eu estava a entrar no Himalaia (um dos mais conhecidos bares de Nova Lisboa) e já a bica, o jornal («A Província de Angola») e um maço de cigarros («AC») entravam em cena na mesa habitual. A tudo isto, uma vez por semana, o Zé Pedro juntava algo mais: a revista «Notícia» e, reparem, já aberta na página de «A chuva e o bom tempo», do João Fernandes.
Passados estes (muitos) anos, não creio que tenha chegado aos calcanhares do João Fernandes e do Jaime de Saint Maurice. Continuo, contudo, a tentar, mesmo sabendo que é uma missão impossível.
O Jornalista João Fernandes, fundador do “Jornal de Macau”’ e colunista do semanário “O Diabo”, morreu esta terça-feira aos 81 anos, vítima de doença prolongada, informou fonte familiar. Natural de Lisboa, João Fernandes fez traduções literárias e, sob pseudónimo, publicou dois livros, um policial e um de ficção.
Em 1964, mudou-se para Angola onde foi redactor de “O Comércio de Luanda”. Meses depois, transitou para a revista “Notícia”, onde foi redactor, chefe de redacção, director-adjunto e director.
Entre 1975 e 1976, o jornalista seguiu para o Brasil onde colaborou como director do “Estado de São Paulo”.
De regresso a Lisboa, João Fernandes viria a ser chefe de redacção do jornal “O Dia”, enquanto mantinha a famosa coluna ”A chuva e o bom tempo” no jornal “O Diabo”, semanário fundado por Vera Lagoa. Durante alguns meses foi ainda adjunto de um ministro do Governo de Sá Carneiro.
Em 1982, o jornalista rumou a Macau onde fundou e dirigiu o diário “Jornal de Macau”. Mais de dez anos depois, em 1996, João Fernandes publicou o livro “Macau aos Quadradinhos”.
A partir do ano 2000, João Fernandes regressou a Portugal, onde viria a deixar de escrever depois de adoecer.
(*) Com Jornal Sol
A revista Notícia nº 792 de 15 de Fevereiro de 1975 traz um artigo assinado por João Fernandes, intitulado ” O que fazer dos brancos” , um texto premonitório do que viria a acontecer…