O governo que temos há 42 anos, como mandam os manuais (mais hoje do que ontem, é certo), garante de forma categórica a lisura e a transparência nas próximas eleições de Agosto em Angola. Como árbitro, jogador, dono da bola e do campo e, ainda, com poder para escolher como alinha a equipa adversária, o MPLA pode garantir tudo o que bem entender. Pode até, como no passado, estabelecer o resultado final antes de o jogo começar.
Por Orlando Castro
Esta realidade, visível até por quem for cego, é legitimada desde sempre por uma coisa abstracta que dá pelo nome de comunidade internacional. Enquanto o Povo, a bem ou a mal, não transformar o bandido bestial em besta, essa coisa abstracta continuará a dizer que o bandido é bestial.
Todos, sobretudo os que estão do lado de fora amamentando-se do que está do lado de dentro, parecem acreditar que há um remédio milagroso para, por exemplo, combater a corrupção em Angola. E esse remédio é manter no Poder os corruptos.
Em Angola as supostas eleições livres e democráticas são, mais ou menos, como querer curar a ferida do pai dando antibióticos ao filho. Mas se é isso que a tal entidade abstracta quer, assim será. E os angolanos (sobretudo os 20 milhões de pobres) que se lixem.
É claro que, em Angola como em qualquer outro país, a razão da força impõe as suas regras. E, perante isso, os angolanos têm duas opções: ou aceitam… ou aceitam.
Os angolanos sabem que, com José Eduardo dos Santos ou com João Lourenço, a ditadura será a mesma. Também sabem que os seus votos, mesmo que dados a outros partidos, serão convertidos em votos no MPLA. Também sabem que poucos estão preocupados com essa situação. Por isso é que um Povo faminto não decide… obedece.
Convenhamos, contudo, que a estratégia da comunidade internacional, claramente hipócrita e criminosa, não se alterará. Continuará e estar com quem tem o Poder, seja corrupto ou não, seja criminoso ou não, seja terrorista ou não. Aliás, existem terroristas bons e terroristas maus. Para passarem de bestas a bestiais basta conquistarem o Poder.
Portanto, nada de precipitações. Esperemos todos calmamente. O MPLA vai continuar a ser clara e inequivocamente maioritário, a comunidade internacional vai continuar a aplaudir e os angolanos vão continuar a ser gerados com fome, a nascer com forme e a morrer pouco depois com fome.
Eleger um novo/velho presidente da República só é meio caminho andado para que o escolhido seja o continuador da desgraça do país. Eleições a sério poderiam ser a solução para o problema de Angola. Estas, contudo, serão o problema para a solução de que Angola carece.
Não adianta, porque a casa mete água, substituir o telhado sem cuidar de ver que o problema está nas paredes ou até mesmo nos alicerces. A comunidade internacional teima em impor modelos políticos ocidentais sem ver se, de facto, eles são aplicáveis no país.
Não adianta enviar toneladas de antibióticos para os doentes se, antes, não se criarem outras condições basilares. É que se estes medicamentos são para tomar depois das refeições, é relevante saber se os doentes têm alguma coisa para comer.
Alguém se preocupou em saber qual é o ponto de vista dos angolanos, dos tais que são gerados com fome, nascem com fome e morrem pouco depois com fome?
Não. A comunidade internacional quer apenas dormir descansada depois, é claro, de algumas boas refeições. Para isso quer eleições (mesmo que fictícias), como se eles fossem só por si sinónimo de democracia. E é por estas e por outras similares que os votos geram ditadores e que as supostas democracias têm o poder que lhes é dado pelos canos das metralhadoras.
Os pessimistas sofrem por antecipação, por não terem esperança alguma na melhoria que se avizinha em variados sectores no país. A vinda ou não de observadores internacionais em Angola nada irá influenciar o resultado das eleições, nem tão pouco estes terão legitimidade para impôr condições no país.
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