O Presidente da República e líder do MPLA, José Eduardo dos Santos, finalmente poderá, na reunião do Comité Central do dia 3 de Fevereiro (amanhã), anunciar a retirada definitiva do seu nome, como cabeça-de-lista às eleições previstas para Agosto de 2017.
A concretizar-se será o colocar de um ponto final nas especulações e hesitações de um sai que não sai, desabonador de José Eduardo dos Santos, tornando-o vulnerável e refém das mais inverosímeis chacotas.
Para já a única verdade, na reunião, será a indicação formal de João Lourenço, como número 1 (cabeça) na lista de deputados do MPLA às eleições e Bornito de Sousa a dois, segundo fonte de F8.
“Não se espera, pelo menos nós não esperamos, o início de uma transição, como ocorreu, ainda recentemente, na América, entre Obama e Trump”, confidenciou um membro do Comité Central do MPLA, alegando “não termos essa cultura e estarmos muito longe, até de países e partidos como Moçambique e Frelimo, Cabo Verde e PAICV, ou até mesmo São Tomé e Príncipe e MLST, pelo que teremos ainda de caminhar, com a direcção na sombra, da máquina do camarada presidente Eduardo dos Santos, que atravessa o partido, o Estado, as Forças Armadas e a economia do país, calcinada em 37 anos de poder total”.
Não haverá pois, equipas de transição, para a passagem de pastas e o conhecimento prévio sobre os grandes dossiers do Estado, nem se sabe como tal se processará.
A única certeza é da máquina partidária, doravante, capitalizar a favor da imagem de João Lourenço, independentemente do seu carisma, porquanto a “engenharia da batota” já está montada e o número dois da lista, a confirmar-se, Bornito de Sousa, tem o acervo informático do processo eleitoral, capaz de transformar abstenções, votos nulos ou falsos em votos úteis a favor do MPLA.
Assim, nesta chave da transição, apenas uma certeza, enquanto a oposição adormece, anestesiada no ingénuo pressuposto de a lei valer alguma coisa, segue a carruagem da procissão do regime com a “lógica da batata na lei da batota”.
Apesar deste cenário, a indicação de João Lourenço tem estado a criar amuos internos na direcção e não se descarta a hipótese de muitos votos importantes, serem desviados, como sinal de protesto secreto a favor da oposição. Resta no entanto saber, se esta será capaz de capitalizar…
Neste rocambolesco processo, desiludam-se as vozes que pensam que José Eduardo dos Santos se converteu à democracia, ou ter adoptado um princípio de transição ou cidadania, pelo contrário, mantém-se fiel ao “controlismo” ditatorial e esta pequena e forçada inversão, deriva de uma recomendação do médico espanhol que o acompanha de forma contundente: “Ou resigna ao poder (preferiu, agora apenas, uma das funções) ou corre o risco de agravamento da patologia clínica de que padece”.
Isso significa que este cenário nunca se processaria, tanto que ele e a equipa, insistem numa entrega gradual de poder, temerosos de eventuais processos judiciais e ou confisco do seu património económico, dos filhos, familiares e colaboradores mais próximos, mesmo com a indicação de João Lourenço, tanto que não descartam, um plano B, incluindo um país de exílio, num agravamento da situação interna e consequente responsabilização criminal, pelos excessos ao longo de um consulado, conturbado e tenebroso de 37 anos de poder, onde as finanças públicas foram delapidadas até à exaustão, com a falência política de bancos, a passagem do controlo dos fundos e empresas do petróleo, das telecomunicações, da comunicação social aos filhos, e a restrição das liberdades reprimindo os direitos, com prisões arbitrárias, assassinatos selectivos e em massa, que à luz do direito interno e externo, felizmente, para as vítimas, não prescrevem e são insusceptíveis de amnistia.