PETRÓLEO. Angola foi um dos oito países africanos que compraram “combustíveis tóxicos e de baixa qualidade” a empresas suíças, aumentando a poluição do ar e prejudicando a saúde, denuncia um relatório da Organização Não Governamental suíça ‘Public Eye’.
“Muitos países africanos exportam crude de alta qualidade para a Europa, mas recebem em troca combustíveis tóxicos e de baixa qualidade”, lê-se no relatório da ONG Public Eye ‘How Swiss Traders Flood Africa with Toxic Fuels’ (Como os Vendedores Inundam África com Combustíveis Tóxicos).
A conclusão resulta da análise de combustível comprado nas bombas de gasolina em oito países africanos (Angola, Gana, República do Congo, Costa do Marfim, Mali, Senegal, Benim e Zâmbia) e baseia-se nos níveis de enxofre encontrados, que excedem os padrões europeus, e na existência de outras substâncias, como benzina e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, elementos proibidos na Europa.
O relatório explica que os combustíveis com alto nível de enxofre foram encontrados principalmente nas bombas operadas pelas companhias suíças que se aproveitam da fraca qualidade da legislação e da regulamentação deficiente.
O documento, no que diz respeito a Angola, aborda as ligações entre os grandes intermediários ou comerciantes suíços Vitol e Trafigura, que importam o crude, conduzem a transformação em combustível – refinação – e depois vendem-no a vários países africanos.
“A antiga colónia portuguesa [Angola] é particularmente interessante pela magnitude das actividades da Trafigura lá”, diz o documento, pormenorizando que o consultor britânico da indústria petrolífera CITAC afirmou que “a maioria do petróleo angolano é importado pela Trafigura” e que, quando instado a colocar um número, disse: “Não acreditamos que mais ninguém forneça petróleo ao país”.
A Trafigura controla 48,4% da Puma Energy, uma empresa cujos accionistas incluem a petrolífera estatal Sonangol, com 30%, e uma empresa privada chamada Cochan, com mais 15%, cujo director executivo é o general Leopoldino Fragoso do Nascimento ‘Dino’, e que em 2010 foi nomeado ministro de Estado e chefe da Casa Militar.
Para a Public Eye, que contactou a Trafigura sobre este assunto, que não quis comentar, “‘Dino’ é o exemplo perfeito de como os conflitos de interesses podem surgir quando um funcionário público também age como um investidor privado e beneficia de contratos com o Estado”.