Não sei bem como manifestar o meu sentimento de pesar pela falência patente do nosso tão amado país. Como foi possível ter este regime chegado tão baixo; no fundo do poço; no precipício, arrastando consigo a esmagadora maioria dos autóctones angolanos.
Por William Tonet
Mesmo depois de tantos assassinatos, onde a palavra de ordem foi e é: “não vamos perder tempo com julgamentos”, a incompetência não conseguiu mais do que sitiar, pela força de um poder periclitante e pela vaidade de um chefe megalómano, na cloaca das Nações, os diferentes povos de Angola.
Para justificar, em Angola, o maior genocídio depois da II Guerra Mundial, protagonizado por Adolph Hitler, cerca de 80 mil assassinatos, o autodenominado líder do MPLA, Agostinho Neto, nas suas elucubrações político-ideológicas, longe de reconhecer a má gestão e incompetência do seu regime, responsabilizou, Nito Alves, Zé Van-Dúnem e pares, pela falta de bens alimentares, nas lojas, dinheiro na banca e má gestão pública. Hoje, 39 anos depois (1977-2016), o quadro sombrio de desgovernação, lupenagem económica, roubo desenfreado dos cofres do erário público, peculato e corrupção institucional, por parte da mesma elite governativa continua, mostrando a natureza perversa do regime.
Em 2016, com o mesmo MPLA, na liderança o País está no lamaçal, a fome espreita a maioria dos lares, a saúde está no caos, os hospitais e postos médicos não têm medicamentos e cerca de 500 crianças more, todos os dias, numa das maiores calamidades, cuja responsabilidade é da governação.
Tudo isso, em 1977, o comandante Nito Alves chamou a atenção para que se pusesse um travão numa casta dirigente, que se nada fosse feito, transformaria Angola numa “república da corrupção”, hoje comprovadamente.
Passa pela cabeça de alguém, que se Alves Bernardo “Nito Alves” estivesse na Presidência da República, numa situação de crise extrema, onde a fome campeia, não há medicamentos nos hospitais, os bancos não têm dinheiro, a sua filha mais velha, fosse com o marido, à Mónaco, exibir o maior diamante, extraído na Lunda, gastando cerca de 8 milhões de dólares, convidando a socialite europeia?
Não o faria!
Alguém, no seu juízo perfeito, nesta situação de crise e de bancarrota financeira, acreditaria que Nito Alves, enquanto Presidente da República, permitiria que a sua filha ofendesse a honra dos angolanos estando a negociar a compra de uma marca de roupa inglesa: BHS, com mais de 11 mil trabalhadores, por uma quantia a rondar mais de 180 milhões de dólares? Não! Seria importante que, para o povo não se rebelar, soubesse que esse dinheiro, não mais sairia dos cofres do banco central e da Sonangol.
Infelizmente, não é Nito Alves que está no poder, mas José Eduardo dos Santos, cuja omissão, enquanto coordenador da Comissão de Inquérito, em 1977, que deveria apurar se havia ou não fraccionismo, contribuiu para o seu bárbaro assassinato.
Uma morte cruel que catapultou o que havia de pior para a estrutura do país e o estão a destruir, bem como as empresas mais emblemáticas; Sonangol, etc.
Hoje falta tudo, absolutamente, tudo, até mesmo seringas e as empresas comerciais não conseguem importar bens e serviços. Os pais, não conseguem igualmente, enviar dinheiro para a manutenção dos filhos em formação no exterior.
Como se não bastasse a desgraça que se abateu sobre a nossa prosápia petrolífera, financeiramente, desfalcada pelo clã presidencial, o principal órgão de comunicação social do Estado; “bajulador-mor”: Jornal de Angola, também conhecido como “Pravda”, chegou a ter ruptura de papel.
Não me vou aqui debruçar sobre o desaparecimento de biliões de dólares retirados em linha recta do erário público, nem sobre a dramática falta de medicamentos no país, nem a propósito dos mortos a tiro em Benguela por ousarem projectar uma manifestação pacífica. Vou simplesmente denunciar a imunda bandalheira reinante na administração angolana em geral e na Justiça em particular. Não me repugna saber o quanto roubaram no Fundo Soberano de Petróleo, mas apenas saber quanto sobrou, para que com um pouco de sensibilidade e humanismo, o Titular do Poder Executivo, o canalize para a compra de medicamentos para salvar milhares de vidas de crianças inocentes.
A justiça? Mas qual justiça? Não existe, num reino de demónios. Não indo mais longe do que o caso Fernando Garcia Miala, ex-chefe da polícia secreta externa, acusado em 2006 de tentativa de golpe de Estado sem fundamento algum, ao que se deve acrescentar os numerosos atentados a jornalistas, aos jovens revolucionários 15+2 por estarem a ler um livro, ao caso de Arão Tempo e Marcos Mavungo condenado a 4 anos de prisão por pedir autorização para organizar uma manifestação pacífica nas ruas da cidade de Cabinda, as escandalosas maléficas e ditatoriais condenações dos jovens revús e de José Julino Kalupeteka, são a demonstração da banalização do direito e da justiça por parte do TPE (titular do poder executivo).
Noutro extremo encontramos a asquerosa finta do general Manuel Helder Vieira Dias Júnior Kopelipa, o bilionário, chefe da Casa de Segurança do Presidente da República, no julgamento de Rafael Marques, o que não podemos esquecer, o facto do poder reinante proteger, com a cumplicidade dos tribunais e juízes, os mafiosos em detrimento da severidade com que condena inocentes e alguns ladrões de frangos, tomates e limões.
É mister ainda recordar o facto de um juiz, no meio desta balbúrdia enveredar francamente pelo surrealismo tendo, no final de Março, ordenado a prisão de um cadáver… A esposa do falecido, o qual estava a responder a um caso de abuso de confiança em um caso de herança, apareceu diante do juiz com o certificado de morte do marido. Nada funcionou e a 08 de Abril, o juiz entregou à viúva um outro mandado igualzinho ao primeiro. Em Angola, a morte não é motivo suficiente para escapar à justiça. Os vivos não estão em melhor situação e alguns podem morrer na prisão por causa da lentidão da administração judicial.
Eis alguns casos absurdos denunciados por jornalistas do Folha 8 e Maka Angola. Domingos Manuel Filipe Catete, 32 anos, está preso desde 16 de Maio de 2008. Seu crime? Foi apanhado a dormir bêbado num carro que não era dele. Encontra-se desde há oito anos em prisão preventiva a aguardar julgamento…
Dois outros homens, suspeitos de “roubar roupas usadas” passaram, respectivamente, sete e cinco anos de prisão, mas desta vez a denúncia apresentada pelo Maka Angola pagou e eles foram libertados.
Mas há pior em termos de absurdo: em Maio de 2015, o Presidente José Eduardo dos Santos (JES) assinou o Decreto nº 101/15, nomeando um alto funcionário da Polícia Nacional o vice-comissário André Kiala. Problema grande, ele estava morto o que não impediu o Presidente, alguns dias mais tarde, de pedir ao ministro do Interior para organizar a cerimónia de posse do falecido. Como este, por uma boa razão, não pôde comparecer, escapou a ser sancionado por via de medidas disciplinares.
Alguns meses antes, em Janeiro de 2014, foi apresentado com a assinatura do presidente, um decreto administrativo que concedeu a patente de brigadeiro a António Vieira Lopes “Tó”, o ex-delegado do SINSE Luanda (Polícia Secreta), num momento em que respondia em tribunal pelos crimes de praticados contra José Kamulingue e Isaías Cassule, dois opositores assassinados pelas autoridades em 27 e 28 de Maio de 2012.
Por tudo isso e por esta danosa e dolosa governação, acredito que se os homens de Maio tivessem tido a magnanimidade de varrer do poder a escória que lá estava alojada em 1977, com Agostinho Neto e Cª à cabeça, Angola hoje seria um país melhor, diferente e nunca haveria tanta pobreza, mortes e tristeza na maioria dos angolanos, devido uma elite dirigente com as mãos manchadas de sangue e corrupção.
Tenho vergonha, como patriota angolano de Maio, por isso não comento mais esta assassina forma de gerir o país, carente de uma verdadeira varredura. Os povos precisam de acordar e ter noção que País MUDO não MUDA!