Luaty Beirão passou a realizar uma alimentação sólida por dia, depois de ter terminado uma greve de fome de 36 dias, e quer reencontrar os restantes 14 colegas activistas no hospital-prisão de São Paulo, em Luanda.
A informação foi prestada hoje, em Luanda, pela mulher, Mónica Almeida, fazendo o balanço de uma semana no processo de realimentação do activista, que permanece internado numa clínica privada da capital, sob detenção, para onde foi transferido a 15 de Outubro devido ao estado de saúde.
“Ele só veio para aqui, para a clínica, porque foi o que esteve mais tempo em greve de fome e estava em risco de vida. Continua a dizer que quer aguardar julgamento em liberdade ou então ir para junto dos colegas, que é o que pode acontecer agora, é natural. Quando for transferido não nos avisam, só o levam”, disse a mulher, que continua a acompanhar Luaty Beirão na clínica.
O director nacional dos Serviços Penitenciários explicou na semana passada que Luaty Beirão está a ser acompanhado por elementos dos serviços médicos prisionais, mas sem adiantar prazos para o seu regresso à cadeia.
“Estamos a tratar disso. Ainda não estamos em condições de dar esse tipo de informação”, disse na altura António Furtado.
Luaty Beirão, que também tem nacionalidade portuguesa, é um dos 15 angolanos em prisão preventiva desde Junho – mais duas jovens aguardam em liberdade provisória – sob acusação de supostos actos preparatórios para uma rebelião em Angola e um atentado contra o Presidente da República.
A greve de fome de Luaty Beirão, cujo fim foi anunciado a 27 de Outubro, visou protestar contra o excesso de prisão preventiva e exigindo aguardar julgamento em liberdade, conforme prevê a lei angolana para este tipo de crime.
Luaty Beirão, de 33 anos, iniciou há uma semana, com o acompanhamento médico e de um nutricionista, o processo de realimentação, inicialmente apenas com líquidos, depois de ter perdido 23 quilogramas.
“Ingere uma refeição sólida, muito leve, por dia, neste programa de dez dias. Está a evoluir bem”, disse ainda a mulher.
O julgamento deste processo arranca a 16 de Novembro, no tribunal de Cacuaco, nos arredores de Luanda, pelo que além da recuperação da condição de saúde, Luaty Beirão ainda tenta participar na defesa, a cargo dos advogados Luís Nascimento e Walter Tondela, que representam 13 dos 17 acusados.
“Ele ainda tem esperança nos recursos que estão pendentes nos tribunais para ser libertado e aguardar, juntamente com todos os outros, o julgamento em liberdade”, apontou Mónica Almeida.
Em concreto, sobre Luaty Beirão, a acusação do Ministério Público diz que o activista “confirmou nas suas respostas” – testemunho cuja autoria foi entretanto negada pelo próprio – que os encontros que este grupo organizava, aos sábados, em Luanda, visavam “a preparação de realização de acções para a destituição do Presidente da República e do seu Governo, ao que se seguiria a criação de um Governo de transição”, recorrendo para tal a manifestações e com barricadas nas ruas.
Na carta em que anunciou o fim da greve de fome, durante a qual perdeu 23 quilogramas, Luaty Beirão avisou que não vai desistir de lutar.
“Estou inocente do que nos acusam e assumo o fim da minha greve. Sem resposta quanto ao meu pedido para aguardamos o julgamento em liberdade, só posso esperar que os responsáveis do nosso país também parem a sua greve humanitária e de justiça”, lê-se na carta de Luaty Beirão.