Uma missão empresarial brasileira, liderada pelo ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, vai estar em Angola na próxima semana para avaliar o potencial do país na produção de grãos, cereais e sementes, revelou fonte da embaixada brasileira em Luanda.
A missão terá como objectivo conhecer o ambiente local de negócios para a produção agrícola e procurar áreas disponíveis para potenciais investimentos brasileiros em projectos agro-pecuários e agro-industriais, disse o conselheiro económico da embaixada do Brasil, Eduardo Lessa.
Carlos Fávaro, que estará em Angola entre 5 e 10 de Maio, vem acompanhado de cerca de 20 produtores dos sectores de grãos, cereais e sementes, para “avaliar a possibilidade de eventuais parcerias ou instalação de algumas empresas”, adiantou.
Cerca de 70% das exportações brasileiras para Angola são do sector do agro-negócio, com destaque para o açúcar e carnes de frango, bovino e suíno, perfazendo 340 dos 493 milhões de dólares exportados para o país no ano passado.
O Brasil está particularmente atento às oportunidades associadas à crescente procura por sementes, já que produz sementes certificadas e melhoradas com uma genética adaptada às condições de Angola, sublinhou Eduardo Lessa.
A iniciativa dá seguimento da visita de Carlos Fávaro a Luanda em Dezembro de 2024, durante a qual foi assinada uma Carta de Intenções com o ministro da Agricultura e Florestas de Angola, Isaac dos Anjos.
O programa da missão contempla encontros com representantes governamentais e do sector privado angolano, assim como visitas a empreendimentos agrícolas nas províncias de Malanje e do Cuanza Norte.
Numa iniciativa inédita, os Emirados Árabes Unidos (EAU) e o Instituto Brasil África (IBRAF) firmaram uma parceria para fortalecer as competências técnicas de jovens profissionais. A edição deste ano do Youth Technical Training Program (YTTP), uma das principais iniciativas do Instituto Brasil África voltadas para o empoderamento da juventude africana, vai beneficiar 50 participantes de Angola e Guiné-Bissau com capacitações avançadas e especializadas nas cadeias produtivas do cacau e da castanha de caju, respectivamente.
A acção representa um modelo de cooperação triangular, unindo quatro países de três continentes – Ásia, África e América do Sul. Alinhado aos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, especialmente os de número 2 (Fome Zero), 4 (Educação de Qualidade) e 8 (Trabalho Decente e Crescimento Económico), o programa promovido pelo IBRAF busca suprir lacunas de conhecimento e habilidades técnicas, respondendo às necessidades específicas dos países africanos seleccionados.
A iniciativa carrega relevância económica significativa por dois motivos. Primeiro, a castanha de caju representa mais de 90% das exportações da Guiné-Bissau, sendo vital para sua economia. Segundo, o cacau foi classificado como o produto mais valioso de 2024, com países africanos – especialmente os da costa ocidental, como Angola – liderando a produção global e com grande potencial de impacto no mercado internacional.
Os profissionais de Angola já iniciaram a primeira etapa da capacitação na Unidade Mista de Pesquisa e Inovação em Cacau (UMIPI), localizada em Ilhéus, na Bahia, que terminou a 18 de Abril. Já os participantes de Guiné-Bissau receberão treinamento prático na Embrapa Agro-indústria Tropical, em Fortaleza, Ceará, em Maio. Na segunda fase do programa, as actividades ocorrerão em instituições estratégicas nos Emirados Árabes Unidos, que têm papel essencial na implementação do programa, colaborando na definição do currículo, no treinamento de especialistas e no suporte financeiro.
Reem Bint Ebrahim Al Hashimy, Ministra de Estado para Cooperação Internacional dos EAU, declarou: “Esta parceria reflecte o compromisso dos Emirados com o desenvolvimento sustentável e com o empoderamento de comunidades por meio da transferência de conhecimento e capacitação. Ao investir em educação e qualificação em sectores importantes como a agricultura, estamos contribuindo para o crescimento económico de longo prazo e a resiliência das nações africanas. Iniciativas colaborativas como esta fortalecem laços internacionais e são essenciais para enfrentar desafios globais como a segurança alimentar e a desigualdade económica, abrindo caminho para um futuro mais próspero para todos.”
O Sheikh Shakhboot bin Nahyan Al Nahyan, Ministro de Estado dos EAU, destacou que a iniciativa faz parte dos amplos esforços dos Emirados para apoiar países africanos em seu pleno desenvolvimento económico, educacional e humano.
“Os Emirados adoptam uma abordagem dinâmica no continente africano, com foco em desenvolvimento internacional, assistência humanitária e investimentos. Estamos fortemente comprometidos com o enfrentamento de desafios como segurança alimentar, mudanças climáticas, desenvolvimento económico e melhorias na saúde. Esta iniciativa demonstra o potencial transformador da cooperação internacional, promovendo um futuro mais integrado e colaborativo para o continente”, afirmou o Sheikh Shakhboot bin Nahyan.
O Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, ressaltou a importância das acções do IBRAF na aproximação entre o Brasil e os países africanos por meio de programas de capacitação.
“Gostaria de fazer menção ao Instituto Brasil-África, que, no papel de facilitador da aproximação entre o Brasil e o continente africano, desenvolve um ecossistema de formação técnica com diversos programas voltados para o treinamento de jovens profissionais africanos. Um deles é o “Programa de Treinamento Técnico de Jovens” (“Youth Technical Training Program”), que utiliza metodologia e materiais voltados para o desenvolvimento profissional e com foco na transferência de conhecimento, habilidades e tecnologias nas quais o Brasil é referência mundial”, afirmou o ministro.
O Presidente do IBRAF, João Bosco Monte, acrescentou: “O YTTP adopta estratégias de formação profissional adaptadas às necessidades dos países africanos. Ao aproveitar a expertise brasileira em sectores estratégicos, garantimos que os participantes adquiram não apenas conhecimento técnico, mas também habilidades práticas que geram impacto real em suas comunidades. A iniciativa representa um compromisso com o desenvolvimento sustentável, por meio da capacitação de jovens profissionais com ferramentas para transformar economias locais. É um exemplo marcante de como o treinamento direccionado pode abrir novas oportunidades económicas e fortalecer cadeias produtivas no campo.”
Por sua vez, o Ministro das Relações Exteriores de Angola, Teté António, também destacou a relevância do programa para os objectivos de longo prazo da agricultura angolana, enfatizando o papel das parcerias internacionais para o desenvolvimento sustentável. “Este projecto está alinhado com a estratégia do governo angolano para garantir segurança alimentar e soberania, ao mesmo tempo que atende a demandas mais amplas de desenvolvimento por meio da agricultura. A colaboração com o Brasil e os Emirados Árabes Unidos reforça a capacidade de Angola para modernizar seu sector agrícola, aproveitando a expertise internacional para gerar impacto duradouro. O programa reafirma o papel de Angola como porta de entrada para iniciativas que promovem o conhecimento científico e o desenvolvimento sustentável.”
M’bala Fernandes, Embaixador da Guiné-Bissau no Brasil, também reforçou a importância da iniciativa: “A castanha de caju não é apenas um produto agrícola para a Guiné-Bissau – ela é um pilar da nossa economia e símbolo da nossa resiliência. Fortalecer esse sector requer investimentos na produção local e no desenvolvimento de uma indústria de processamento. Os Emirados Árabes Unidos mantêm uma relação diplomática sólida com a Guiné-Bissau, e sua participação no Programa de Treinamento Técnico de Jovens, em parceria com o Instituto Brasil África, é um passo significativo para aumentar a produção de castanha e a competitividade do nosso país no mercado internacional.”
Apresentado durante a cimeira da União Africana de 2024, em Adis Abeba, a edição actual do programa tem como meta capacitar mil jovens africanos até o final de 2026, preparando a nova geração de profissionais do agronegócio para impulsionar o crescimento económico e a inovação em seus respectivos países.
Em Abril de 2022 também foi notícia que a Mota-Engil estava a apostar na agricultura em Angola, desenvolvendo um projecto sustentável de produção de cacau em Cabinda, com o qual ambicionava levar aquela região aos lugares cimeiros da rota mundial do cacau.
João Magalhães, o responsável do projecto desenvolvido pela Mamaland, falou com entusiasmo desta “semente” que estava a ser plantada em Cabinda, enquanto atravessava o que seria o futuro campo clonal e as fazendas que irão receber o cacau num total de seis mil hectares.
E explicou como a Mamaland, conceito que a Mota-Engil desenvolveu e que privilegia a sustentabilidade e as populações, pretende gerar rendimento a nível local, com um mínimo de impacto para o ambiente.
“Para a Mamaland, a prosperidade é fundamental e tem de ser partilhada por todos, por isso queremos envolver as populações locais neste projecto que liga planeta, pessoas e prosperidade”, disse durante a visita.
O projecto, desenvolvido na mesma região que viu nascer a então Mota e Companhia, em 1946, é também um regresso às origens agro-florestais da empresa que se tornou, entretanto, a maior construtora portuguesa em África.
Ainda em fase inicial, os primeiros pés de cacau foram plantados no Centro de Desenvolvimento Clonal do Cacau, em Chiela, usando o material genético local numa versão melhorada por Ricardo Souza, especialista em cacau e director técnico do projecto.
“Vamos usar plantas de cacau autóctones, já aclimatadas, nas quais vamos enxertar material genético melhorado. Estamos a tentar localizar o que será melhor para aperfeiçoar o já existente, permitindo obter melhor rendimento”, explicou, adiantando que a busca pela variedade ideal iria passar, em breve, por São Tomé e Príncipe.
Como o cacau demora cerca de três anos até atingir a primeira produção e cerca de 20 a 30 anos para ser melhorado, a ciência ajudou a produção agrícola a evoluir para uma agricultura de alta precisão, permitindo aumentar a produtividade do cacau, minimizando o impacto sobre o ambiente.
“Poupamos dinheiro e recursos”, disse João Magalhães, adiantando que estavam também a fechar contratos com ‘start ups’ que iriam apoiar a previsão meteorológica e o uso eficiente da água no projecto, que contava com um investimento de 20 milhões de dólares (18,6 milhões de euros).
Ao todo, estava prevista a plantação de quase sete milhões de pés de cacau, de forma faseada, distribuídos por 6.000 hectares de sistemas agro-florestais. O projecto estava dividido em quatro fases e em cada ano deveriam ser plantados 1500 hectares, com 1.160.000 pés de cacau divididos em três partes de 387.000 plantas cada, adiantou Ricardo Souza.
Uma plantação que disse ser “pioneira no mundo”, já que, normalmente, as fazendas de cacau são de pequena dimensão. Prevê-se que o pico de produção seja atingido em cinco anos, com um incremento de 20% a cada colheita.
“O facto de se usar material melhorado permite que o cacau seja produzido durante todo o ano. De três em três semanas teremos colheita”, salientou o especialista.
Costa do Marfim e Gana eram, na altura, os maiores produtores africanos de cacau, mas João Magalhães ambiciona ver Angola entrar na lista.
“Queremos pôr Cabinda no mapa do cacau e mostrar às populações que o petróleo não é a sua única riqueza. Queremos aprender com os mais velhos, mas também trazer-lhes ciência”, disse o responsável da Mamaland. Na altura, o ‘core business’ era o cacau, mas o campo clonal iria receber mais experiências da Mamaland.
“Chiela terá um projecto piloto de tudo o que e se pretende fazer nas outras fazendas”, que somam um total de 16.000 hectares, adiantou João Magalhães.
É aqui que serão ensaiadas as culturas a desenvolver no futuro e para as quais a empresa está também a recolher material genético nas aldeias.
“Queremos recolher material biológico e genético para perceber o aproveitamento que pode ter toda esta biodiversidade. Podemos ter plantas medicinais, quem sabe super-alimentos. O que não queremos, é actividades que entrem em conflito com o ambiente”, sublinhou João Magalhães.
Os primeiros ensaios foram feitos com cacau, banana, coco e mogno, para fazer aproveitamento da área e gerar renda, mas poderão ser acolhidas quaisquer culturas da região.
As bananeiras serviriam para fazer o sombreamento inicial das plantas de cacau, que será assegurado mais tarde, à medida que planta cresce, pelos coqueiros.
Os pés de cacau, já aperfeiçoados, seriam depois replantados nas fazendas da Mota-Engil, quase todas situadas junto ao rio Chiluango, o principal rio de Cabinda.
João Magalhães insistiu nos benefícios para as populações locais, a quem estão a ser ensinados métodos de cultivo mais produtivos e até novas técnicas de construção das tradicionais casas em adobe, e previa que no pico de produção, cinco anos depois, tenham sido recrutados e formados até 1.200 trabalhadores.
“A ideia é contratar as pessoas localmente, e não impedi-las de fazer a sua lavra. As pessoas estão nas aldeias e vão continuar a estar e a circular”, garantiu.
Quanto ao destino das cerca de 15.000 toneladas que se espera produzir já em 2030, não está definido para já. “Vamos ver como vamos usar”, afirmou, indicando que o cacau pode vir a ser comercializado em cápsulas, amêndoas ou sob a forma de pasta. Poderá até vir a ser produzido chocolate ou criados subprodutos.
Como João Magalhães realçou, o projecto Mamaland é como uma semente num livro em branco.