A ideia de que viver num país rico é sinónimo de ser rico é uma falácia amplamente disseminada. Não é a geografia que define a riqueza, mas as oportunidades que se apresentam a cada um. Embora a prosperidade das nações seja frequentemente associada à riqueza individual, a realidade é muito mais complexa.
Por Malundo Kudiqueba Paca
Países considerados ricos, como os da Europa Ocidental ou da América do Norte, abrigam uma vasta diversidade de condições económicas, sociais e culturais que deixam muitas pessoas à margem dessa riqueza. O que frequentemente não é visto é que, dentro dessas nações, a disparidade entre os mais ricos e os mais pobres é profunda, desafiando a noção simplista de que “rico é quem vive nos países ricos”.
Primeiramente, é importante perceber que a riqueza de uma nação não é uniformemente distribuída. O PIB de um país não é a medida da dignidade de sua população. Um país com um Produto Interno Bruto elevado pode ter uma classe dominante imensamente rica, mas também pode esconder uma massa de cidadãos a viver em condições precárias. Nos Estados Unidos, por exemplo, apesar de ser uma das maiores economias do mundo, a desigualdade de rendimento e de acesso a serviços básicos como saúde e educação é alarmante. Milhões de americanos, especialmente em zonas rurais e áreas marginalizadas, enfrentam dificuldades extremas para garantir o acesso a condições de vida dignas, sendo forçados a viver com salários mínimos que mal cobrem as necessidades básicas.
Além disso, a pobreza em países ricos pode ser invisível. A pobreza não é medida apenas pela ausência de riqueza, mas pela distância da possibilidade de ascensão. Muitos vivem com um “baixo rendimento”, mas nunca se encontram abaixo da linha de pobreza definida por um governo, o que pode distorcer a percepção da realidade.
Os que pertencem às classes mais baixas, por exemplo, não têm acesso à mesma qualidade de educação, saúde ou condições habitacionais que as camadas mais abastadas da sociedade. Em países com altos índices de pobreza relativa, como o Reino Unido, o contraste entre os que vivem em bairros de luxo e os que habitam zonas de periferia pode ser brutalmente visível.
Outro ponto a ser destacado é que, mesmo em países ricos, muitos imigrantes e minorias étnicas enfrentam obstáculos que impedem sua ascensão social. Num país rico, ser estrangeiro pode ser uma sentença de pobreza eterna. A discriminação, a falta de redes de apoio e a dificuldade de acesso a direitos básicos limitam severamente as suas oportunidades. Muitos imigrantes são forçados a viver em condições de pobreza extrema, mesmo estando em nações com grande poder económico.
A educação, muitas vezes tida como um veículo de ascensão social, também não é um equalizador universal. A educação pode ser o passaporte para uma vida melhor, mas apenas se o preço dessa viagem for acessível a todos. Embora em muitos países ricos o acesso à educação seja universal, a qualidade desta educação varia significativamente de acordo com a classe social.
As escolas públicas em áreas empobrecidas, por exemplo, oferecem recursos limitados, o que perpetua um ciclo de pobreza e dificulta o acesso dos seus alunos a oportunidades de trabalho bem remuneradas. Em contraste, as elites sociais desfrutam de sistemas educacionais privados de excelência, garantindo uma perpetuação da desigualdade social e económica.
A realidade é clara: a riqueza de um país não garante que todos os seus cidadãos partilhem dessa mesma riqueza. Nações prósperas são feitas de mais do que números – são feitas de pessoas que ainda lutam por suas condições básicas de dignidade. De facto, a globalização e a economia de mercado podem intensificar ainda mais a disparidade entre os mais ricos e os mais pobres, tanto dentro dos países quanto entre eles. A simples associação entre países ricos e cidadãos ricos ignora as múltiplas camadas da sociedade e a complexidade das suas realidades.
Viver num país rico não significa automaticamente ter uma vida rica. A riqueza de uma nação deve ser medida pelo bem-estar de todos os seus cidadãos, não apenas pela abundância de uma elite privilegiada. É essencial que reconheçamos as contradições dentro das nações prósperas e comecemos a debater as verdadeiras causas da desigualdade económica. Sem uma redistribuição mais justa dos recursos e uma política social que leve em conta as disparidades internas, continuaremos a ver que, em pleno século XXI, a pobreza persiste de forma indiscutível, mesmo em países considerados modelos de riqueza.