PÉS (DE BARRO) DA CPLP ESTÃO A RUIR

O primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, reiterou a condenação à invasão russa da Ucrânia e considerou “ideal” que a CPLP pudesse ter uma posição, mas admitiu que essa não é a missão da comunidade e pode haver interesses divergentes.

Ulisses Correia e Silva, que falava num encontro com órgãos de comunicação social no Mindelo, ilha de São Vicente, para balanço de três anos do segundo mandato de governação, afirmou: “O nosso posicionamento foi muito claro e reiteramos: nós condenamos a invasão da Rússia à Ucrânia”, reflectida em votações nas Nações Unidas, e Cabo Verde tem “parcerias muito fortes” que faz questão de manter.

“A CPLP é uma comunidade de países de língua portuguesa, não tem como objectivo definir a concertação única relativamente a relações externas. O ideal era que, de facto, houvesse um posicionamento que pudesse reflectir a posição da CPLP, mas não é essa a sua natureza e missão: são países livres e independentes”, referiu.

A comunidade integra estados “com interesses políticos que às vezes são convergentes e outras vezes divergentes”, acrescentou.

Alinhando-se com os aliados de Kiev, o líder do Governo classificou a parceria de Cabo Verde com a União Europeia (UE) como “estruturante” em matérias sociais, económicas e também de defesa e segurança, além da forte diáspora em solo europeu.

Da mesma forma, classificou como “muito forte” a ligação com os EUA, país onde o arquipélago tem também uma grande diáspora e com o qual tem “valores partilhados”.

“A integração com a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO)” rege-se “pelos mesmo princípios”, acrescentou. “As nossas opções são claras, as nossas acções são consistentes”, concluiu.

Portugal manifestou a São Tomé e Príncipe “estranheza” e “apreensão” pelo acordo de cooperação técnico militar assinado com a Rússia, revelou, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Paulo Rangel.

O secretário executivo da CPLP afirmou, também que “não há dramas” sobre o assunto, enquanto o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, considerou importante “salvaguardar a unidade da CPLP”, recordando que “quando começou a invasão pela Federação Russa da Ucrânia [em 2022] houve votações nas Nações Unidas e nalgumas das votações a CPLP dividiu-se, e dividiu-se muito”.

A notícia do acordo com São Tomé e Príncipe surgiu a par de uma visita do Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, à Rússia, durante a qual o chefe de Estado guineense garantiu ao homólogo russo, Vladimir Putin, que pode contar com a Guiné-Bissau “como aliado permanente”.

Embaló disse ter “mais de 100 oficiais militares em formação na Rússia”, tendo pedido formação também para as forças especiais guineenses.

Recorde-se que o Comando Conjunto para as Operações Militares ao nível da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) acolheu, entre 29 de Abril e 3 de Maio de 2024, a Conferência Final de Planeamento (CFP) do exercício militar FELINO 2024.

Este exercício, que decorrerá de 17 a 28 de Junho de 2024 em Portugal com forças no terreno, contará com a participação de militares das Forças Armadas de países da CPLP.

O objectivo do FELINO 24 é potenciar a interoperabilidade das Forças Armadas dos Estados-Membros da CPLP, nos níveis operacional e táctico, de modo que, sob a égide da Organização das Nações Unidas, possam realizar missões de Apoio à Paz e de Ajuda Humanitária.

Na CFP estiveram presentes representantes das Forças Armadas de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Equatorial, Portugal, São Tomé e Príncipe, e Timor-Leste.

Os exercícios militares conjuntos e combinados da série FELINO constituem-se como um dos vectores fundamentais da Componente de Defesa, designadamente promovendo a interoperabilidade das Forças Armadas dos Estados membros da CPLP, através do treino para o seu emprego em operações de paz e de assistência humanitária, sob a égide da Organização das Nações Unidas.

Os exercícios FELINO têm, assim, como objectivo central a preparação de um Estado-Maior de uma Força de Tarefa Conjunta e Combinada (FTCC), no âmbito da CPLP, para atingir, manter e optimizar a capacidade de participar em missões de Apoio à Paz e de Assistência Humanitária, aos níveis operacional e táctico.

São executados com uma periodicidade anual, alternando a versão de Exercício na Carta (EC) com a de Forças no Terreno (FT). No ano em que se realize na modalidade EC, esta será planeada e executada com o mesmo cenário que irá ser aplicado no formato FT do ano seguinte.

Os Exercícios FELINO dispõem de normativo que regula a sua organização e funcionamento.

No EC, a acção ocorre por meio de rede de computadores, ao estilo “jogo de guerra”. Já no formato FT, as actividades desenrolam-se em campo, com tropas no terreno da nação hospedeira, que deverão cumprir o planeamento que foi elaborado pelo Estado-Maior Conjunto Combinado.

A Componente de Defesa da CPLP foi edificada com o intuito de promover e facilitar a cooperação no domínio da Defesa entre os seus Estados Membros, constituindo-se como um verdadeiro instrumento para a manutenção da paz e da segurança.

A Componente de Defesa da CPLP rege a sua actividade pelos valores e princípios da solidariedade, igualdade soberana e o respeito pela integridade territorial, independência política e não ingerência nos assuntos internos de cada Estado-Membro.

A Componente de Defesa da CPLP constitui-se como uma plataforma para a partilha de conhecimentos e experiências, contribuindo para o desenvolvimento de capacidades internas que fortaleçam as Forças Armadas dos países da CPLP, e promovendo uma política comum de cooperação nas esferas da Defesa e Militar.

Folha 8 com Lusa

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