“O jornalista, principalmente, de países africanos e em vias de desenvolvimento, comprometido com a esquerda social, as liberdades, os direitos fundamentais, a justiça, não tem como objecto embalar um governo, fundamentalmente, se assimilado e complexado, ante a colonização ocidental. Mais, não pode fazer apologia, diante de um “oceano de pobreza” a um sistema político de extrema-direita e economia neoliberal, comprometido com organizações de Bretton Woods, talhadas para a eterna pobreza de África e de Angola.
Por William Tonet
Hoje, um jornalista angolano, diante do mar de sangue, “produzido” pela polícia, militares, tribunais e Executivo, ao assassinar sem o mínimo pudor, cidadãos desarmados, não pode ficar indiferente e noticiar, como causa justificativa: “manifestação não autorizada”, numa clara boçalidade constitucional, contrário ao art.º 47.º CRA: “sem necessidade de qualquer autorização e nos termos da lei”.
Aplaudir métodos de inquisição, por motivações partidocratas, desde 1975, torna o jornalista da esfera pública, siamês do criminoso, cujas impressões mancham os carreiros republicanos da comunicação social do Estado. Desde a implantação da “República Partidocrata de Angola”, que estes órgãos têm aplaudido a barbárie, foi assim com os fuzilamentos, os 80 mil em 1977, a sexta-feira santa e tantos outros genocídios.
No dia 18 de Julho de 2024, dois jovens na Huíla, um no Huambo, quatro em Luanda foram assassinados diante dos familiares, acusados de serem delinquentes altamente perigosos.
Se o art.º 59.º da Constituição proíbe a pena de morte, porque razão os agentes dos Serviços de investigação Criminal, assassinam descaradamente e contam com a mais alta protecção do ministro do Interior e do Titular do Poder Executivo.
Eu condeno da forma mais veemente esta barbárie policial, mesmo que me roubem mais um imóvel ou incendeiem, de novo, as instalações do Folha 8 e da TV8, por estar comprometido com o bem vida e ser um profissional livre e independente.
Num clima de adversidade, como Angola está a viver, o jornalista enfrenta as mais duras intempéries, mas deve estar focado na bússola dos factos e verdade dos acontecimentos, denunciando, ímpios, ladrões e assassinos, escondidos por trás de gravatas, alojados nos corredores do poder, onde ainda se permitem delapidar o erário público. Não é missão do jornalista a omissão ou a cumplicidade com os entes públicos, principalmente, quando responsáveis pela falta de caderno, lápis, borracha de milhões de meninos, ansiosos em transformar, no soletrar e conjugação de palavras e frases, os recursos humanos e riquezas do país.
O jornalista é cúmplice de práticas dantescas, criminosas quando não noticia a falta de medicamentos, seringa, pensos e camas, nos hospitais. E aplaude a violência policial, que a luz do dia, assassina cidadãos inocentes ou já controlados, como fizeram com os manifestantes desarmados de Kafunfu; Joana Cafrique; Monte Sumi; Raquel Kaluque; Hilbert Ganga; Cassule; Kamulingue; Inocêncio da Mata; Laurindo Vieira e tantos outros, ao arrepio do art.º 59.º da CRA.
Agora, no dia 18 de Julho, João António Malangue foi um dos jovens assassinados no Cazenga, alegadamente, confundido com um bandido, quando era estudante de engenharia. Puro masoquismo da polícia de Investigação Criminal. Nesta esquina não haver indignação, denunciando estas práticas dantescas, torna os jornalistas siameses de “assassinos”, escondidos em uniformes policiais.
A submissão a partidocracia e as mordomias não pode levar um profissional a esconder por debaixo da mesa, práticas ignóbeis como a morte de inocentes.
Um jornalista democrático, quando confrontado com ditaduras deve agir como a águia, faz quando o corvo pousa sobre o seu corpo, para picar-lhe ao pescoço, subir o mais alto, para o sufocar (corvo)!
Não posso, no actual contexto não denunciar a barbárie, bandalheira e os malefícios das injustiças, assassinatos, um programa económico neoliberal dantesco e anti patriótico, que faz da contratação simplificada uma regra, para delapidar ainda mais os depauperados cofres públicos, para enriquecer amigos, blindar e superar a corrupção de ontem. Pois é. A corrupção gourmet, actual, especializada em “contratação simplificada – amiga” e dívida pública, falsa é pior que a “corrupção selvagem – camarada”, herdada de José Eduardo dos Santos… Verdade ou mentira, antes o povo, ainda comia e, hoje, vegeta a fome, pelas avenidas dos contentores e monturos de lixo, para enganar o estômago.
MALEFÍCIOS DA EXTREMA-DIREITA
Em 2007 e 2012, como advogado e jornalista conheci a mais abjecta e “sanguinária” perseguição de que há memória, por parte de órgãos e jornalistas da comunicação social do Estado, domados pelo regime, num ignóbil assassinato de carácter.
Foram debitados mais de 8 horas, com “fake news”, desvalorizando a minha formação profissional e académica, sem direito ao contraditório.
Tudo por participar no conclave advocatício que defendia, um justo processo legal e a verdade na acusação do Ministério Público (generais João Maria, Adão Adriano), que mentia, despudoradamente, nunca apresentando provas. Um julgamento isento e imparcial por parte do juiz presidente do Tribunal Militar (Cristo Alberto e António dos Santos Patonho), que julgou e condenou, por ordens superiores, fora dos pergaminhos do direito, Fernando Garcia Miala (2007) e Joaquim Ribeiro + 21 polícias (2013), todos barões do regime. Fi-lo por consciência republicana e democrática, sem esperar por retribuição, algum dia.
A mídia pública e, até um bastonário da Ordem de Advogados postaram-se ao serviço da polícia secreta, para a eliminação do jornalista e profissional de direito comprometido apenas com o escrutínio do desempenho dos governantes e do respeito pela aplicação do direito e da justiça.
Mas a tendência do MPLA, tem sido de contínuo extermínio de todos quanto pensem diferente, demonstrando o extremismo dos seus dirigentes, com raras excepções é claro, numa actuação típica da extrema-direita, a pior possível, num país como Angola, nascido sem órgãos de soberania fortes e independentes.
Os contínuos assassinatos, a prisão e condenação (2 anos e cinco meses) de quatro jovens presos políticos (20.09.2023), Adolfo Campos, Gilson da Silva Moreira, “Tanaice Neutro”, Hermenegildo André, “Gildo das Ruas” e Abrão Pedro Santos, “Daniel Pensador”, que sem terem realizado uma manifestação (16.9.23), são a mais clara demonstração da irracionalidade judicial, apoiada pela comunicação social pública partidocrata.
É por este cenário dantesco que calcorreiam na “geografia mental” das populações os clamores, contra a governação e o Presidente da República, as denúncias sobre a miséria, desemprego, fome, inflação e o alto custo dos produtos da cesta básica. Junta-se ainda os absurdos impostos, propostos pelo FMI e BM, aliados à política económica neoliberal do Executivo, responsável pelo aumento do fosso entre governados e governantes.
Hoje, já não há dúvidas sobre a necessidade de uma inversão nacionalista e patriótica de todas forças vivas do país, para derrubar, a extrema-direita e a tribo de especuladores estrangeiros, que domina, por decisão “truncada” do Executivo, a soberania económica.
É ainda importante, que os jornalistas livres, denunciem a “invasão” de imigrantes ilegais, cujo objectivo, à curto prazo, será o controlo da natalidade, sendo que cada homem/polígamo/muçulmano, com quatro mulheres (4×10 = 40 filhos), gerará filhos bastantes, para o início de uma nova etnia populacional: “angomuçul” e “chilatos”, educados em escolas onde o extremismo religioso de dominação é o objecto principal. Nas Lundas e Zaire, zonas fronteiriças o crescimento e domínio dos especuladores externos, já é assustador, face à conivência das autoridades do executivo.
Jamais um jornalista patriota poderá omitir esse facto, capaz de atirar, num futuro próximo (15 a 20 anos) os autóctones angolanos para reservas indígenas, como estão os índios nos EUA, América Latina, Canadá e Austrália.
Hoje, na América, assiste-se o caricato, de serem os imigrantes nos poderes do Estado, a falar e a impedir novos imigrantes, esquecendo-se que também o são, pese, agora, em maioria, depois do extermínio dos donos da terra: os índios.
Os fundamentalistas islâmicos e os chineses, poderão no futuro próximo, fazer o mesmo com cada um dos povos autóctones angolanos.
Por isso é necessário que muitos intelectuais e a classe intermédia empreendedora de Angola, se liberte das grilhetas das migalhas dos poderes, executivo e partidário, que os amordaça a mente, porquanto a meritocracia repousa no cartão de militante e não na competência e capacidade de gestão.
O MPLA tem sido, com o ribombar da comunicação social pública, responsável pela inversão da lógica da física, transformando políticos em empresários e estes em políticos ladrões. Igualmente promove uma classe de fazendeiros de fim-de-semana, que transformam as couves em jardas, que se esgueiram, em biombos, entre sexta-feira e domingo, para “massajar” os dirigentes.
É preciso denunciar e defender a reforma agrária e o instituto do usucapião, para emponderar os homens do campo, os verdadeiros camponeses, na miséria desde a chegada do MPLA ao poder…
Por isso, precisamos, de facto, fazer um trabalho duro e profundo para conseguir frear essa gente, se não quisermos, assistir com a nossa covardia e omissão o descalabro do país real.
Noutras latitudes vimos a união da esquerda, como no Senegal, no Reino Unido, na França e no Brasil para impedir a manutenção e ou, novos colonizadores e extremistas no poder.
A elite no poder em Angola, nos últimos anos representa o que há de pior, pese a ladainha de implantação de um socialismo, em 1975, que cedo resvalou num capitalismo atroz e desenfreada corrupção, até aos dias de hoje.
No “estacionamento constitucional”, somos todos iguais, mas na realidade, uns mais iguais que outros, porque a justiça os protege dos roubos e da corrupção, que assassina os nossos sonhos e futuro.
E a pergunta que não se cala é: é isso que queremos?
A covardia e omissão de ver a extrema-direita prosperar, com a introdução, no país de novas legiões de colonialistas, que ao invés da cruz e do chicote, desembarcam com capital e comida e muita vontade de sexualizar, para reproduzir milhões de “jus solis” e “jus sanguis”, que vão consolidar, silenciosamente, a política de sitiar o país?
Estou preocupado e todos deveríamos levantar as nossas vozes, sobre os riscos que o nosso amado país está a correr.
O MPLA está a entregar o país e, muitos dos seus dirigentes estão a dar liberdade a leviandade do amor contraindo matrimónio com estrangeira(o)s. Nada contra! Mas reflexão impõe-se…
É legítimo criticar o actual rumo do executivo, apontando direcções. Fazemo-lo! Como tenho (temos) a legitimidade de decepção argumentando as legítimas razões.
O Executivo do Presidente João Lourenço não parece comprometido, com os mais sublimes interesses dos angolanos, nem de uma reconstrução política, económica e democrática do país. O único projecto, devidamente, blindado é o de poder, que todos os dias recebe milhões de dólares para a compra de armas e aumento de pobres e da pobreza…