E O HOSPITAL VITÓRIA NOS MASSACRES DE 27 DE MAIO DE 1977?

“Para promovermos a saúde pública em Angola, nós precisamos não apenas de construir infra-estruturas, coisa que temos vindo a fazer, infra-estruturas dos três níveis (primário, secundário e terciário) – e essas grandes unidades são do nível terciário – como também precisamos de dar mais formação aos nossos profissionais de saúde”, afirmou o general João Lourenço durante a inauguração do Hospital Geral Raúl Díaz Arguelles, no Sumbe.

Por Orlando Castro

Ao inaugurar este Hospital Geral do Sumbe, que ganhou o nome de – na versão do MPLA – um grande combatente pela liberdade, o Comandante Raúl Díaz Arguelles – “é importante destacar este facto -, não apenas do hospital em si, mas do por quê demos o nome do Comandante Raúl Díaz Arguelles a esta unidade”, explicou o general João Lourenço.

Explicou o general do MPLA que “é que o nosso país conheceu ao longo dos anos várias batalhas. Há uma, a primeira que antecedeu a nossa independência nacional. Estou a referir-me à Batalha do Kifangondo – que graças à bravura dos nossos combatentes, se conseguiu evitar o pior, porque, caso contrário, a nossa Independência não teria sido proclamada, pelo menos naquela data, 11 de Novembro de 1975”.

Como dono da verdade, João Lourenço acrescenta que “há uma segunda batalha que aconteceu pouco depois da nossa Independência, mais ou menos um mês depois, aqui na Vila do Ebo. Aconteceu, então, esta grande Batalha do Ebo, em que o Comandante Raúl Díaz Arguelles esteve à frente das forças angolano/cubanas que enfrentaram o inimigo, o exército sul-africano, do regime do apartheid, e que poderia também matar a Independência que ainda estava no berço”.

“Era um bebé que tinha acabado de nascer, tinha um mês de vida sensivelmente e, portanto, ainda muito frágil e que os nossos inimigos da altura pensavam ser possível ainda reverter a situação”, recorda (na sua versão) o general João Lourenço, acrescentando que “Angola tornou-se independente a 11 de Novembro e, um mês depois, eles tentaram reverter esta situação, retirar dos angolanos a grande vitória sobre os 500 anos de colonização”.

Continuemos a ver a tese do Presidente do MPLA: “Depois disso, houve outras batalhas pelo país fora, batalhas que são conhecidas e que não interessa referir neste momento. Mas eu destaquei propositadamente essas duas, porque uma foi dias antes da proclamação da Independência, e a outra foi dias depois da proclamação da Independência. Qualquer uma delas, se nós não tivéssemos vencido, quem sabe não seríamos independentes, ou seríamos, mas não naquela altura”.

“Seria muito mais tarde e à custa de muito mais suor, mais sangue, que os angolanos teriam de verter. Daí a importância do Comandante Raúl Díaz Arguelles, que junto dos angolanos, de um pequeno contingente cubano, muito pequeno, conseguiram enfrentar a unidade blindada dos sul-africanos, que não passou da Vila do Ebo, como foi dito aqui. Caso tivessem passado, encontrariam o caminho aberto para mais facilmente chegarem à capital do nosso país, Luanda”, afirma João Lourenço.

Por isso, “ao darmos o nome do Comandante Raúl Díaz Arguelles, nós quisemos não apenas homenagear ele próprio como pessoa, mas quisemos homenagear todos os combatentes cubanos que verteram o seu sangue, deram a sua vida aqui no nosso solo pátrio, em Angola, ao longo de muitos anos. Eles estiveram presentes não apenas em 1975, mas estiveram presentes durante anos em Angola, a combater lado a lado com os combatentes angolanos para garantir a nossa Independência, garantir a nossa soberania nacional”.

Em 2019, o Presidente do reino do MPLA, João Lourenço, condecorou diversas personalidades cubanas com a Ordem Agostinho Neto. Nada de mais fiel ao ADN do MPLA, desde logo porque se não fossem os cubanos nunca o MPLA chegaria a ser governo, tal como nunca se poderia gabar de ser o autor moral e material do maior massacre de angolanos, no pós-independência, no 27 de Maio de 1977.

João Lourenço condecorou com a mais alta distinção do MPLA, o homólogo cubano, Miguel Mário Diaz-Canel Bermúdez, o general de Exército e primeiro secretário do Partido Comunista de Cuba, Raul Castro Ruz, o general do corpo do Exército e ministro das Forças Armadas Revolucionárias, Leopoldo Cintra Frias, e o seu vice-ministro, com a mesma patente militar, Ramon Espinosa Martin.

Foi igualmente homenageado, a título póstumo, o general de brigada Raúl Diaz Arguelles Garcia, tombado em combate em Angola, a 11 de Dezembro de 1975. Por sua vez, as autoridades cubanas prestigiaram o Presidente do MPLA com a Ordem José Marti.

João Lourenço enalteceu a prontidão cubana na defesa do solo pátrio angolano (em rigor, na defesa das FAPLA e da ditadura do MPLA) e nas lutas pela independência da Namíbia e para a abolição do regime do apartheid na África do Sul.

As consequências do envolvimento cubano em Angola foram sobretudo o endividamento de Angola/MPLA perante Cuba e o roubo de muitas riquezas que foram carregadas para Havana, desde carros a mármore roubado até dos cemitérios deixados pelos portugueses.

Recorde-se que, por exemplo, durante anos foram vistos a circular em Havana autocarros da EVA (Empresa de Viação de Angola) bem como do Grupo Desportivo do Alto Hama. Isto porque, obviamente, os militares (mercenários) cubanos regressaram ao seu país de… autocarro.

Mentir é sinónimo de MPLA

O Governo do MPLA, que está no poder desde 1975 continua a fazer de todos nós uns matumbos e, por isso, teima em mandar enxurradas de mentiras contra a nossa chipala. A construção do Memorial à Vitória à Batalha do Cuito Cuanavale”, na província do Cuando Cubango é só um exemplo.

Além da evolução da situação política e militar em Angola, a batalha do Cuito Cuanavale é considerada como decisiva na independência da vizinha Namíbia, concluída em 1990, então ocupada pela África do Sul e após ter sido colónia da Alemanha.

A rapaziada dirigente do MPLA (na sua maioria sipaios cobardes que, contudo, até são doutores ou… generais) continua a não tomar a medicação correcta para a sua crónica megalomania fantasista, ou anda a fumar coisas estranhas. Indiferentes aos 20 milhões de pobres, usam a fanfarra, os palhaços e os restantes bobos da corte para propagandear o que chamam de “Memorial sobre a Vitória da Batalha do Cuito Cuanavale”. Este Memorial, tal como foi concebido e idolatrado pelos mercenários do MPLA e de Cuba, mais não é do que uma (mais uma) enorme mentira do regime que, assim, continuam a tentar reescrever a história.

Não se sabe onde é que o regime do MPLA (por sinal no poder desde 1975) quis e quer chegar ao construir monumentos que enaltecem o contributo dos angolanos que consideram de primeira (todos os que são do MPLA) e, é claro, amesquinham todos os outros.

Talvez fosse oportuno, e aí sim verdadeiro, construir um monumento aos milhares e milhares de vítimas do massacre que o MPLA, sob as ordens de Agostinho Neto e com o total apoio de Cuba, levou a cabo no dia 27 de Maio de 1977.

Importa, contudo, desmistificar as teses oficiais que não têm suporte histórico, militar, social ou qualquer outro, por muito letrados que sejam os mercenários contratados para vender minhocas como sendo jibóias. Apenas têm um objectivo: idolatrar uma mentira na esperança de que ela, um dia, seja vista como verdade.

De acordo com o pasquim do MPLA (Jornal de Angola), “logo à entrada do pátio do monumento histórico, o visitante tem como cartão de visita uma gigantesca estátua de dois soldados, sendo um combatente das ex-FAPLA e outro cubano, com os punhos erguidos em sinal de vitória no fim dos combates da já conhecida, nos quatro cantos do mundo, “Batalha do Cuito Cuanavale”, que se desenrolou no dia 23 de Março de 1988”.

Não está mal. A (re)conciliação nacional não se solidifica glorificando apenas e só os angolanos de primeira (MPLA/FAPLA) e os seus amigos, os cubanos. Mas, também é verdade, que o regime do MPLA (de Agostinho Neto a José Eduardo dos Santos e João Lourenço) está-se nas tintas para os angolanos de segunda (afectos à UNITA ou simplesmente distantes do MPLA). Até um dia, como é óbvio.

Diz o MPLA que a batalha do Cuito Cuanavale terminou “com uma retumbante vitória das FAPLA e das FARC (Forças Armadas Revolucionárias de Cuba)”.

Importa por isso, ontem como hoje e amanhã, perceber o que leva o MPLA a comemorar esta batalha.

Visivelmente, o regime continua a ter medo da verdade e aposta na criação de focos de tensão na sociedade angolana, eventualmente com o objectivo de levar acabo uma das suas especialidades: massacres gerais (tipo 27 de Maio de 1977) ou selectivos como em Junho de 1994, quando a aviação do regime destruiu a Escola de Waku Kungo (Província do Kwanza Sul), tendo morto mais de 150 crianças e professores, ou quando entre Janeiro de 1993 e Novembro de 1994, bombardeou indiscriminadamente a cidade do Huambo, a Missão Evangélica do Kaluquembe e a Missão Católica do Kuvango, tendo morto mais de 3.000 civis.

Sabendo que a UNITA considera ter vencido essa batalha, comemorá-la como se fosse uma vitória das forças do MPLA, russas e cubanas visa provocar a UNITA, para além de ser um atentado contra a verdade dos factos.

Além disso é hábito do MPLA tentar adaptar a História às suas necessidades. Se alterar a História resultou parcialmente no passado, com a globalização e os trabalhos científicos que vão surgindo, não funciona. O regime ainda não aprendeu. Continua a seguir a máxima nazi de que se insistir mil vezes numa mentira ela pode ser vista como uma verdade. Mas não funciona.

A batalha do Cuito Cuanavale começou em Setembro de 1987, com uma ofensiva das forças coligadas FAPLA/russos/cubanos tentando chegar à Jamba. Um exército poderosamente armado, com centenas de blindados e tanques pesados, artilharia auto-transportada e outra, apoiado por helicópteros e aviões avançaram a partir de Menongue.

Depois da batalha, o General França Ndalu, veio dizer a um jornalista que o objectivo não era esse, mas sim cortar o apoio logístico à UNITA. O que é visivelmente uma fraca desculpa, porque o apoio logístico era feito de sul e do leste para a Jamba e nunca entre o Cuito Canavale e o rio Lomba.

Pela frente a coligação comunista encontrou a artilharia e a infantaria da UNITA (FALA), organizada em batalhões regulares e de guerrilha, apoiados por artilharia pesada das forças sul-africanas. Com o avolumar da ofensiva, a África do Sul colocou na batalha mais infantaria, blindados e helicópteros.

A batalha durou mais ou menos seis meses. As forças FAPLA/russos/cubanos, com dezenas de milhares de homens na ofensiva, não conseguiram passar do Cuito Cuanavale.

As consequências foram diversas. O exército cubano aceita retirar-se de Angola. A África do Sul aceita que a Namíbia ascenda à independência, desde que os seus interesses económicos não sejam tocados, que a Namíbia continue dentro da união aduaneira que tem com a RAS e que o porto de Walbis Bay (o único da Namíbia) continue a ser administrado pela RAS.

O MPLA aceita finalmente entrar em negociações com a UNITA (o que viria a acontecer em Portugal), aceita o pluripartidarismo, aceita as eleições.

E a UNITA, o que teve de ceder? Nada. Os seus bastiões continuaram intocados, nenhuma linha logística foi tocada, o seu exército não teve perdas, em homens e material, significativas.

Mais ou menos um ano mais tarde, e já na mesa das negociações, o MPLA tentou uma segunda ofensiva, de novo com milhares de homens, tanques, veículos, helicópteros e aviões. Foi a chamada operação “Ultimo Assalto”, e mais uma vez foi derrotado, desta vez sem os sul-africanos estarem presentes.

Em resumo, se houve vencedores, não foram as forças do MPLA e os seus aliados cubanos. Então o que comemora o MPLA? Nada a não ser o que a sua propaganda inventa.

Enquanto ministro da Defesa, João Lourenço, homenageou o povo cubano no Triângulo de Tumpo, província de Cuando Cubango, pela sua permanente solidariedade e contribuição na vitória de Cuito Cuanavale.

“Agradeço em nome de todo o povo angolano ao povo cubano, pois nos momentos mais difíceis esteve sempre, ombro a ombro, com o povo angolano”, disse João Lourenço.

João Lourenço destacou a participação dos internacionalistas (mercenários) cubanos nas principais batalhas travadas no país, acrescentando que o povo cubano esteve na luta pela independência e defesa da soberania nacional, que lhe conferiu o direito natural de ser parte do diálogo quadripartido até os acordos de Nova Iorque. Ou seja, o Presidente da República pode mudar, mas a filosofia da mentira continua a ser a grande máxima do regime. É caso para dizer que podem mudar as moscas mas que tudo o resto ficou na mesma.

Legenda. Os pilotos cubanos Manuel Rojas García (Tenente Coronel) e Manuel Quesada Aguilar (Capitão), prisioneiros da UNITA e cujo MIg-21 foi abatido pelas FALA em 28 de Outubro de 1987, no Luena.

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