O MPLA capitaneado por João Lourenço está a viver o seu pior momento existencial. E, ao que tudo indica, nele continuará atolado. A obsessão pelo poder total e absoluto é desmedida, mesmo quando os sinais dos tempos lhe apontam cenários nebulosos.
Por William Tonet
O MPLA na última reunião do comité central de 09 de Outubro, muito se identificou com as máfias japonesa de 1910, americana de 1920 e italiana de 1930, as duas últimas com um traço comum, inspiradas no “modus operandi” de Don Vito Corleone; o famoso Padrinho de Chicago!
Hoje, porque será que muitos, positiva ou negativamente, comparam os métodos do presidente do MPLA, João Lourenço com os do mafioso padrinho italo-americano?
Os traços, são comuns? Não!
A resposta paira no ar… com diferenças na forma de liderança. Don Vito Corleone controlava a cidade (Chicago). João Lourenço não controla a maioria das “cidades” que deixaram de lhe prestar vassalagem e ter temor.
Ao ponto do jovem Valdir Cónego, de forma destemida, sem armas, medo de perder mordomias, que uma vez, por alertar, foi ameaçado “intra muros” de decapitação, uma vez mais, na reunião do comité central (09.10.24), desafiou a musculada liderança “a ter respeito aos estatutos, aos camaradas e rigor programático, nas propostas, que não devem ser um cheque em branco”.
As armas, as intimidações e os assassinatos, nem sempre podem tudo…
E, o “chefe” deu conta, não ser visto, nem considerado, como líder, muito pelos estragos causados, na divisão da própria família política, aquando da ascenção ao cadeirão máximo do partido e República.
Elegeu a ingratidão, raiva e ódio.
Humilhou e assassinou o carácter, complexadamente, na antiga capital colonial, Lisboa, antigos “guardiões”. Escorraçou muitos, substituindo-os por “jovens imberbes quantificáveis”, sem pergaminho para enfrentar a esperteza manhosa “qualificável” do “morde e sopra” dos “ratos” políticos.
Eles (anciões) geriram o tempo. Mostraram-no.
Ele (JLO) geriu as armas e os canhões, descurando que na descida do tempo é preciso muito mais para enfrentar duas grandes tempestades; a interna e a externa: “Camarimbondos” e fome…
As duas, não vão dar de barato a sua passagem, pois mantêm, sub-repticiamente, o mesmo propósito: derrube em 2026 e 2027, a tirania de um chefe que adoptou a lei da bala e da fome e, quer, no final do(s) mandato(s) “assassinar” os estatutos e a Constituição impondo a lei do apito…
Felizmente, para os arautos de arejamento plural interno, no embate do 09.10.24, João Lourenço destapou fragilidades gritantes, aliadas ao facto dos seus “imberbes e bajuladores”, demonstrarem que sem a força do fúsil, não têm a força do arcabouço verbal.
São falhos de argumentos…
E não aprenderam, o brocardo mafioso de Don Corleone: “só corra riscos se puder lidar com as consequências”.
João Lourenço está, antes mesmo da estação, a colher o que semeou, em estufa…daí a despropositada ameaça antidemocrática: “Ninguém começa o jogo sem ouvir o apito do árbitro, ninguém inicia a corrida de atletismo sem ouvir o tiro de partida, sob pena de ser desqualificado e prejudicar a equipa”.
Não é verdade. Prejudica a equipa, quem previamente não se prepara, para a competição, na altura do apito do árbitro, que não pode ser jogador, treinador, presidente da equipa e pai de jogadores “pernetas”…
Daí, para seu espanto, um número maior de camaradas começa a enfrentá-lo “olho nos olhos”, com a voz cada vez mais estridente, denunciando a fraude, batota, arrogância, ditadura e privatização do partido, enquanto ente colectivo. A proposta de ajustamento dos estatutos, apresentada por João Lourenço é vista como verdadeiro embuste, “um vazio de ideias, para consolidar a pior presidência do partido, que tantos prejuízos tem dado à imagem da família MPLA. Ele, para além de arrogante e incompetente é avesso ao diálogo interno e a pluralidade. Veja o que o país perde, todos os dias com o dito combate à corrupção. São biliões que o povo não sabe, que estão a enriquecer meia dúzia de apaniguados do presidente, que chegam ao cúmulo de “roubar” património de camaradas membros do bureau político e comité central, que são ameaçados, para entregar a outros e estrangeiros. Chegamos ao limite e não podemos continuar a acobardarmo-nos”, disse ao F8, a membro M. A. Maria.
“Nunca a oposição ao MPLA contou como seu melhor marketeiro o presidente do nosso próprio partido, o que é uma vergonha. Por isso, na nossa opinião, ele não tem condições para continuar, nem com a bicefalia. Não descartamos, mas com João Lourenço, um homem vingativo, rancoroso e sem carisma, não! Se persistir na lógica da arrogância e imposição, com os seus bajuladores e militares, as consequências poderão ser imprevisíveis”, assegurou.
As alterações profundas, como as que permitam a bicefalia e um terceiro mandato, são competência exclusiva do congresso ordinário.
“O de Dezembro é extraordinário e só através de um golpe partidário e palaciano, podem ser alterados, mas reiteramos, que desta vez, a grande insatisfação popular, fruto da entrega do país ao FMI, muitos do MPLA se juntarão a eles numa grande onda de contestação para salvarmos a soberania de Angola, entregue a especuladores ocidentais, asiáticos e fundamentalistas islâmicos. Temos, urgentemente, de mudar este quadro, para não afundarmos todos, por causa da vaidade de um homem”.
Talvez seja por este quadro que Higino Carneiro, que conta com o apoio de um peso pesado da guerrilha, França Ndalu, não tenha recuado na sua aspiração de se candidatar à liderança do MPLA e da República, mesmo com a ameaça de JLO.
Na sua geografia mental um atleta avisado, principalmente, se do atletismo prepara-se com “antecedência, salvaguardando os interesses da equipa sem, no entanto, deixar de aguardar o apito do árbitro”.
Ao que parece, Higino Carneiro já não tem medo de João Lourenço continuar a confiscar o seu património, nem accionar os tribunais para o prenderem.
“O general Higino acha que a pátria, com a crise que está a viver, fruto da actual política económica colonial, merece o sacrifício dos seus melhores filhos, incluindo o da própria vida”, afirmou um dos seus assessores.
Por sua vez, Fernando da Piedade Dias dos Santos Nandó, que tem uma grande franja de militantes da “primeira água” a impulsionar a sua candidatura, com Dino Matross a cabeça tenha ouvido a tirada de João Lourenço, como sendo uma lança a si dirigida, por lhe ter dito, numa audiência, que tinha a pretensão “irrevogável” de se candidatar a presidência do MPLA e da República.
“Até pelos laços familiares, o camarada Nandó, nunca contou com tanta maldade do nosso presidente, ao atacar-lhe mais uma vez. A primeira foi quando, sem urbanidade e ética liderou uma calúnia em relação a um matadouro, que teria sido adquirido com fundos públicos, quando o mesmo nunca esteve na sua esfera jurídica”, afiançou A. N. António.
Por outro lado, acrescentou que o citado bem, “sempre esteve sob propriedade e posse do Ministério da Agricultura, que tinha como gestor um cidadão português, contratado ainda na época do ministro Marcos Nhunga. O que ele fez foi ajudar o governo, fazendo uma base de betão, porque o grupo de contentores/matadouros (único sobrevivente de oito importados e desaparecidos) corria o risco de cair numa ravina. Depois ainda lhes forneceu uma tubagem de água e cabo de energia das suas instalações. Estes fornecimentos nunca foram pagos, mas ainda assim, emitiram um comunicado calunioso e, o camarada João Lourenço sabia que tudo era uma grande mentira, mas nada fez para limpar a imagem de outro camarada, pelo contrário, continua a mandar a sua gangue de bajuladores atacar, covardemente, o camarada Nandó”.
Em conclusão garantiu ao F8: “ele não vai desistir, ante todas ameaças, pois o presidente não é superior a nenhum outro militante, salvo no exercício de funções. Mas isso não lhe dá um tapete vermelho de impunidade. Nandó, com base nos seus direitos e deveres de militante e nos estatutos, vai concorrer, para ganhar, a presidência do partido, porque isso não depende da vontade do árbitro João Lourenço e do seu apito, que tem dedo pobre, face à mais baixa popularidade do MPLA, em 50 anos e o estado degradante do país, sob sua direcção.”
O que ganha João Lourenço numa guerra contra Dino Matross, Nandó, Higino, Venâncio, Boavida? Apenas uma quantidade de bajuladores, sem moral, ética e sedentos de lambuzarem na gamela da corrupção institucional. Os considerados “inimigos” do chefe, no final, ganham em qualidade, por a maioria dos 20 milhões de pobres estar farto do apartheid político-económico de João Lourenço, que todo os dias entrega a soberania económica ao capital externo.
Africana e angolanamente falando, diante do descalabro da governação, que leva milhões a comer nos contentores, parece ter sido lançada uma “tala-político-económico e social”, para nada, até ao fim do mandato dar certo.
É o prenúncio do fim do ciclo da ditadura institucional de 50 anos, que assassinou, desde 1975, a democracia…