GIGANTES COM PÉS… DESCALÇOS

O ministro de Estado e da Coordenação Económica, José de Lima Massano, rejeitou hoje que a inflação em Angola esteja descontrolada, admitindo que se venha a registar um abrandamento dos preços nos próximos meses. Aliás, desde que o MPLA está no Poder (há 48 anos) nada está descontrolado…

Questionado pela Lusa, à margem da conferência Angola Oil&Gas, sobre os dados divulgados terça-feira, que colocam a inflação de Agosto em 13,54%, nos limites do intervalo de 12 a 14% esperado pelo Governo, Lima Massano considerou que a inflação está, ainda assim, dentro do que era expectável. Acresce que, se for necessário para comprovar a capacidade do Executivo, não se baixa a inflação mas sobe-se a fasquia do que é expectável.

“Não estamos com uma situação de descontrolo a esse nível, por isso os parâmetros continuam a ser de razoabilidade e esperamos que, nos próximos meses, o comportamento dos preços venha a ser mais brando”, frisou o – por enquanto – mais emblemático perito do regime, embora reconhecendo que a pressão sobre os preços continua, essencialmente devido a factores como a oferta no mercado internacional, a desvalorização do kwanza e o impacto da correcção do preço dos combustíveis.

Sobre se o Governo irá rever em baixa as suas previsões de crescimento para 2023, a exemplo do Fundo Monetário Internacional, devido essencialmente à redução da produção petrolífera, o ministro escusou-se a responder, optando por sublinhar que o foco tem sido o sector não petrolífero que continua moribundo.

“A nossa expectativa é que continue a crescer, apesar deste contexto desafiante, mas com um conjunto de medidas de estímulo e potenciação da própria economia, o que esperamos é que, neste ano de 2023, o sector não petrolífero continue com um ritmo de crescimento em linha com o crescimento da população”, afirmou José de Lima Massano.

O ministro destacou que Angola não tem influência directa em alguns dos factores que acabam por impactar na produção e no preço do petróleo e reiterou, por isso, que é o sector não petrolífero que tem de continuar a crescer, de forma robusta e que seja capaz de atender às principais necessidades do país.

“O sector petrolífero, sim, é um catalisador da nossa economia, continua a representar cerca de 95% das nossas exportações, e, por isso, da geração de recursos cambiais, recursos esses que são utilizados para continuar a estimular os demais sectores da economia. Partindo do princípio que o sector petrolífero tem uma dinâmica própria, onde temos de pôr mais atenção e mais energia é no não petrolífero”, vincou José de Lima Massano, quase parecendo reivindicar – com esta descoberta – o Ovo de Massano.

Questionado sobre a emissão de ‘eurobonds’ (títulos da dívida soberana lançados em moeda estrangeira) disse que não está a ser considerada para 2023: “Estamos a procurar organizar as nossas finanças públicas para sermos capazes de executar o Orçamento Geral do Estado e com os recursos que temos disponíveis. ‘Eurobonds’ podemos considerar para exercícios seguintes”.

Na abertura da conferência, o ministro salientou que Angola está a alterar a matriz energética, investindo em fontes alternativas de energia eléctrica e acrescentou que o “exercício de redução da emissão de gases tem de ser feito de forma consciente, tendo conhecimento da realidade de cada país e os investimentos que se impõem para que os recursos naturais continuem a ser explorados”.

No quadro das exportações, em 2022, o país enviou 391 milhões de barris de crude ao preço médio de 101,992 dólares, perfazendo uma receita bruta na ordem dos 39, 94 mil milhões de dólares.

José de Lima Massano manifestou o compromisso de prestar todo o apoio necessário para que as acções da diversificação da economia continuem, com a participação das companhias petrolíferas. Diversificação que, ao fim de 48 anos, continua a acelerar graças à enorme capacidade do MPLA, se bem que não tenha saído do mesmo sítio porque o motor está em ponto morto.

“Não deixaremos de continuar a fazer os investimentos que se impõem nos recursos naturais, incluindo dos recursos petrolíferos, para que possam a ser explorados”, apelou José de Lima Massano.

José de Lima Massano disse também que, aos poucos, Angola está a alterar a sua matriz energética com um conjunto de investimentos em alternativas de geração de energia eléctrica (irá ressuscitar a sua emblemática electricidade… potável?), permitindo aos angolanos a terem acesso a recursos energéticos.

“Este exercício de redução de gases de efeito de estufa também tem de ser feito de forma consciente e de acordo com a realidade de cada país”, defendeu, sustentando que Angola mantém o seu compromisso firme em torno das reduções. Acresce que, se tiver de aumentar alguma coisa, será com certeza no número de pobres. Os 20 milhões actuais são um valor residual…

Na cerimónia deste evento intervieram, o secretário-geral da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), Haitham al Ghais, o ministro dos Hidrocarbonetos da RDC, Didier Ntubuanga e representantes de multinacionais.

Sobre a inflação, vejamos a opinião do economista Heitor Carvalho, para quem “em Angola, a principal causa da inflação é a variação do rendimento petrolífero. Quando o rendimento petrolífero cresce, a oferta de divisas no mercado cambial aumenta, baixando a quantidade de Kwanzas necessária para comprar uma unidade de moeda externa. Os preços em Kwanzas baixam, fazendo crescer o volume das importações, o que aumenta a quantidade de produtos disponíveis, baixando os preços”.

No entanto, diz Heitor Carvalho, isso simultaneamente “aumenta a procura de divisas no mercado cambial, o que actua em contraponto, até se alcançar um novo equilíbrio ou houver nova variação dos rendimentos petrolíferos, o que normalmente acontece primeiro. Quando os rendimentos petrolíferos baixam, o processo é quase exactamente o recíproco: aumento das taxas de câmbio, subida do preço em Kwanzas, redução das importações, escassez, menor procura de divisas no mercado cambial, até se restabelecer algum equilíbrio após fortes constrangimentos ao consumo, à produção (matérias-primas e serviços às empresas) e ao investimento”.

“Ao tentar controlar a inflação através da oferta monetária, o BNA é muito pouco eficaz para a estabilização estrutural dos preços. A inflação, como toda a economia, sobe e desce ao sabor dos preços do petróleo! Enquanto a produção nacional decrescer face à procura e continuar dependente de um produto de exportação em fase de declínio da produção e com preços muito voláteis, uma política estritamente monetária pouco poderá fazer para travar a marcha inflacionária da economia,” considera Heitor Carvalho.

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