A falta de conhecimento especializado dos operadores agro-pecuários angolanos representa um “grave entrave” para o desenvolvimento do sector, que emprega 88.000 trabalhadores, dos quais 79% “não possui qualquer formação na área”, anunciou hoje fonte associativa.
Segundo o presidente da AAPA – Associação Agro-pecuária de Angola, Wanderley Ribeiro, que falava no segundo e último dia do Fórum Empresarial Angola-França, em Luanda, a falta de conhecimento especializado constitui uma das “fraquezas” do sector.
“Acreditamos que os desafios estão identificados, conhecemos as nossas forças e fraquezas e estamos cientes que será também por via da colaboração com os nossos parceiros [franceses] que iremos mais facilmente superar os desafios do percurso”, disse.
Wanderley Ribeiro, que interveio na cerimónia de encerramento do fórum, que contou com a presença do Presidente francês, Emmanuel Mácron, considerou que o conhecimento deve ser visto como o “fundamento e alicerce” para a máxima do primeiro Presidente angolano, Agostinho Neto: “A Agricultura é a base e a indústria o factor decisivo”.
O responsável deu a conhecer, neste encontro que juntou dezenas de empresários franceses e angolanos do sector agrícola, que dos 365.000 alunos no sistema de ensino superior angolano, apenas 18.000 estão a formar-se no sector da agro-pecuária.
“Trata-se de uma representação de menos de 5%, um indicador auto esclarecedor do caminho que temos que percorrer ainda neste domínio, sobretudo por tratar-se de uma área estratégica para o país”, notou.
O conhecimento técnico e científico configura-se actualmente em Angola “como o insumo mais importante de todas as safras que temos pela frente”, apontou.
O presidente da AAPA manifestou também satisfação pelo desenvolvimento dos acordos de cooperação em curso entre o Instituto Agro de Montpellier em França e a Universidade José Eduardo dos Santos, na província angolana do Huambo, e com a inovação metodológica do Programa de Desenvolvimento da Agricultura Comercial, co-financiado pela Agência Francesa de Desenvolvimento e pelo Banco Mundial.
De acordo com o líder associativo, o fornecimento da tecnologia constitui um outro factor fundamental para o sucesso do agronegócio, tanto em matéria de aumento de produtividade, qualidade genética e ganho de eficiência.
“Apreciamos com elevada expectativa a experiência e as diferentes tecnologias representadas pelas empresas francesas presentes neste fórum, que naturalmente nos permitirão poupar tempo precioso neste nosso percurso em prol do desenvolvimento da agro-pecuária em Angola”, realçou.
Manifestou ainda disponibilidade dos empresários angolanos em explorarem as diversas oportunidades apresentadas pelas empresas francesas neste encontro, com realce para a produção do leite, que, pelo que se percebe, “se configura numa das oportunidades objectivas, já com pelo menos um caso de sucesso em Angola na utilização da genética francesa”.
A AAPA quer igualmente contar com a presença de empresários franceses na qualificação profissional da agricultura familiar, “que representa cerca de 89% da produção angolana” e é caracterizada pelo agrupamento em cooperativas e associações.
A adopção de um modelo profissional de gestão para as cooperativas representará um marco importante no ganho de eficiência e na formalização da agricultura familiar em Angola.
Um memorando de entendimento entre a AAPA e a sua similar francesa Medefi (Movement of Enterprises of France International) foi rubricado neste fórum, visando desenvolver novas parcerias entre o sector privado francês e angolano nos sectores da produção da mandioca, milho, soja, algodão, cereais, amendoim, café, frutas e outros.