António Costa mandou um cartão a João Lourenço, que o amigo Maninho tipografou: “Por ti sofre o meu coração”. Num canto – Sim, noutro canto – Não, e ele o canto do… dobrou” (*). E assim vãos os reinos dos irmãos da Internacional Socialista.
O primeiro-ministro português, António Costa, visita Angola em Junho, a convite do Presidente angolano, João Lourenço, para assinar o novo pacote de cooperação estratégica, que está a ser fechado pelos dois governos. As saudades são tantas que importa regar as flores (mesmo que sejam de plástico) do jardim da bajulação.
No final de uma reunião com João Lourenço, à margem da 36ª Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da União Africana (UA), António Costa disse que o encontro visou também avaliar como é que dois países podem “ajudar a dar um novo impulso a esta relação entre a Europa e África”.
“Foi importante para fazermos o ponto da situação dos diferentes temas bilaterais que temos sempre em desenvolvimento, apontarmos uma data para a minha próxima visita a Angola e para podermos assinar o novo pacote de cooperação estratégica”, explicou António Costa no final da reunião.
Quanto à data específica, António Costa remeteu essa informação para o Presidente angolano, embora adiantando que “será no princípio de Junho”. O ideal (e o líder do Partido Socialista certamente não se importaria) seria ser a 27 de Maio, dia ideal para Portugal enaltecer o papel do único herói nacional permitido pelo MPLA, Agostinho Neto, nos massacres de 1977.
“Os acordos anteriores estão a ser ultimados, os problemas técnicos que ainda bloqueavam algumas das linhas de financiamento” e a “senhora ministra das Finanças de Angola esteve em Lisboa em Dezembro” e “o nosso ministro das Finanças estará no próximo mês em Luanda” para tratar desses assuntos.
Até à visita, “do ponto de vista técnico, os programas ficarão resolvidos” para o “novo plano estratégico de cooperação que vigora para o próximo triénio”, acrescentou António Costa, visivelmente revigorado por ter tido, mais uma vez, o privilégio de estar com o rei de Angola.
No plano das relações bilaterais e no papel de Portugal como intermediário de África junto da União Europeia, António Costa destacou também candidaturas a financiamentos internacionais. Essa de Portugal ser (já foi, é verdade) intermediário de África junto da UE deve ter feito João Lourenço rir às gargalhadas.
“Uma das áreas de trabalho que julgamos poder desenvolver com Angola no futuro é um grande corredor logístico entre a bacia do [rio] Dande e o porto de Sines”, explicou António Costa, não sendo de admirar que um dia destes se lembre de propor ao MPLA a ligação marítima (nem que seja apenas uma espécie de Canal do Cafu) ao Huambo…
Na “semana passada apresentámos essa candidatura a um financiamento no quadro da União Europeia, no grande programa de investimentos estratégicos que a União Europeia tem, identificando este [projecto] como um grande corredor estratégico” para os dois continentes, acrescentou.
Na foz do rio Dande, o governo de Luanda quer construir um Terminal Oceânico que irá servir como plataforma logística do país e na ligação ao interior da África Austral.
O primeiro-ministro português pediu este sábado a valorização da relação da Europa com África, num momento em que participa como observador na 36.ª Cimeira da União Africana, sendo o único chefe de Governo europeu presente.
“Numa altura em que a Europa é chamada a responder a enormes desafios, é fundamental, mais do que nunca, que continuemos a valorizar a nossa relação com África”, escreveu António Costa, na rede Twitter.
“Participo, em Adis Abeba, na 36.ª Sessão Ordinária da Assembleia de Chefes de Estado e do Governo da União Africana, na qualidade de observador”, explicou, noutro “tweet”, o chefe de Governo português.
À margem dos trabalhos, o governante português teve reuniões bilaterais com responsáveis de países como o Ruanda, Níger ou Madagáscar.
Além dos líderes africanos, a cimeira conta com a presença do secretário-geral da ONU, António Guterres; do director-geral da Organização Internacional para as Migrações, António Vitorino; do presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, e do primeiro-ministro da Palestina, Mohammad Shtayyeh.
PARA O MPLA, BAJULAÇÃO PORTUGUESA JÁ NÃO CHEGA
O título de um artigo do Folha 8 publicado a 14 de Abril de… 2015 dizia tudo: “O que mais fará Portugal para agradar a Luanda”. Vejamos então o conteúdo desse texto:
«O ministro da Economia de Portugal, António Pires de Lima, anunciou para Junho a criação do Observatório de Investimento entre Portugal e Angola, afirmando que os portugueses com projectos ou investimentos no mercado angolano beneficiarão do “olhar clínico” da nova entidade.
«Todos os portugueses que tenham projectos de investimento em Angola ou investimentos em curso em Angola serão alvo de uma atenção, um olhar clínico por parte desse observatório, que terá a sua primeira reunião no dia 22 de Junho”, em Luanda, adiantou António Pires de Lima.
«O ministro foi questionado sobre a criação do Observatório na sequência da visita à fábrica de Brenes da Sovena, depois de o presidente da empresa portuguesa, António Simões, ter referido que espera “voltar a ter negócios em Angola”.
«Em Outubro do ano passado, António Simões afirmou que estava a preparar um projecto industrial em Angola, aguardando a autorização das autoridades competentes para “voltar a ter operação industrial em Angola”.
«Além disso, adiantou então que uma primeira fase de desenvolvimento da fábrica, que se destina ao embalamento de óleos, o investimento previsto era de 8 a 10 milhões de euros, mas “será significativamente maior” se se completasse todo o projecto.
«Hoje, António Simões nada mais avançou, mas questionado sobre se este assunto será abordado pelo Observatório do Investimento, Pires de Lima deu aquela resposta, afirmando desconhecer os detalhes da operação da Sovena em África e frisando apenas que “crescer em Angola implica persistência e capitais pacientes” e “que essa é seguramente uma competência que a Sovena tem de sobra”.
«A primeira reunião do observatório, marcada para 22 de Junho, decorrerá em Luanda em vésperas do Fórum Empresarial Angolano, que visa fomentar a diversificação da actuação das empresas e identificar as sinergias para investimentos conjuntos em países terceiros.
«A criação do observatório tinha sido anunciada em Dezembro pelo ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, afirmando na altura que estavam a ser ultimados acordos nas áreas da economia e do comércio e que o observatório tem como objectivo “a acompanhar a evolução dos projectos dos angolanos em Portugal e dos portugueses em Angola”, procurando “promover fluxos de investimento reforçados”.
«Recorde-se que o fórum entre empresas de Portugal e de Angola, inicialmente previsto para o primeiro quadrimestre deste ano, foi adiado para Junho, segundo a recalendarização anunciada no dia 2 de Março por Pires de Lima.
«Em declarações, em Lisboa, à Rádio Nacional de Angola, António Pires de Lima confirmou nesse dia a realização deste fórum, anunciado em Janeiro também pelo ministro Rui Machete durante uma visita oficial a Luanda.
«“Nós vamos este ano, em Junho, ter em Luanda um fórum empresarial, é algo em que estou a trabalhar também com o senhor ministro da Economia de Angola”, disse Pires de Lima, na declaração emitida pela rádio pública.
«O adiamento deste fórum visa aproximar o evento à realização da anual Feira Internacional de Luanda, o maior evento do país..
«“Eu creio que é muito bom que os empresários angolanos apostem em Portugal. Creio também que é muito importante que os empresários portugueses possam continuar a apostar e a investir em Angola”, acrescentou o ministro da Economia português.
«Também o primeiro-ministro português Pedro Passos Coelho recordou que o mercado angolano é o quarto principal destino de exportações de Portugal, e o número um fora da União Europeia.
«“E a relação, de resto, com Angola é muito especial, como todos sabem”, afirmou o primeiro-ministro, na declaração à rádio angolana.
«Mais de 9.000 empresas de Portugal exportam actualmente para Angola e cerca de 2.000, angolanas, são participadas por capital português, segundo dados da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP).
«Em 2013, as trocas comerciais entre os dois países ascenderam a 7.000 milhões de euros. Deste total, 3,1 mil milhões de euros foram relativos à exportação de bens e 1,4 mil milhões de euros de serviços, em ambos os casos de Portugal para Angola.
«A 12 de Janeiro, durante a visita a Luanda, na presença do homólogo angolano, Georges Chikoti, o ministro Rui Machete anunciou a realização deste fórum empresarial até Abril.
«“Será um fórum de empresas portuguesas que vêm a Luanda discutir os problemas dos investimentos, das exportações, das importações, com empresas angolanas. Será este ano ainda, no primeiro quadrimestre”, explicou, na ocasião, Rui Machete.
«Em simultâneo, igualmente até Abril, deveria ser assinada a constituição deste observatório empresarial das empresas portuguesas e angolanas.
«“Basicamente é monitorizar aquilo que são os investimentos e o comportamento das empresas, angolanas e portuguesas, para as ajudar a desenvolver melhor os seus negócios e prevenir alguns erros que eventualmente ocorrem”, disse ainda Rui Machete.
«Estas medidas, segundo explicou o governante português, visam “continuar a impulsionar as relações” entre Portugal e Angola, que começam a “adquirir um grau de complexidade”.
«António Pires de Lima disse ainda que o seu Governo está “a acompanhar de perto” a situação das empresas portuguesas em Angola para minimizar o efeito da restrição às exportações para este país.
«Pires de Lima sublinhou que os números das exportações “são muito positivos” independentemente das dificuldades das empresas portuguesas em Angola e que o Governo “está a acompanhar de perto, para minimizar o impacto que se vive neste momento num país que ainda têm uma economia muito dependente do petróleo”.
«O ministro salientou que as vendas ao estrangeiro bateram recordes em 2014 e que as empresas nacionais exportaram no ano passado quase mais 40% do que se exportava em 2009.
«“Em 2015, apesar de algumas situações mais complexas que precisam de ser acompanhadas pelo Governo, como Angola, estou convicto de que a economia portuguesa vai crescer mais ainda”, reforçou, notando que a evolução do euro também ajuda esta dinâmica de exportações.»
«Quando será que, mesmo com o beneplácito dos actuais colonizadores (o MPLA), os antigos colonizadores (portugueses) deixam de gozar com a nossa chipala, deixam de achar que somos todos matumbos?»
(*) Adaptação do Poema “Namoro” de Viriato da Cruz.
Folha 8 com Lusa