DO NARCOTRÁFICO POLICIAL À NARCOECONOMIA DO PAÍS

O desafio foi lançado. O repto aceite, para falar, no 4 de Julho de 2023, sobre narcotráfico e branqueamento de capitais, no colóquio de Estratégias e Segurança Nacional, organizado pelo governo-sombra da UNITA, contribuindo com ideias sobre o estado periclitante de um Estado, nascido como “Partidocrata”, ao invés de Republicano, em 11 de Novembro de 1975.

Por William Tonet

Um novo ente jurídico nacional e internacional (país) frágil, sem experiência de um PCO (Poder Constituinte Originário) e a eleição de uma Assembleia Constituinte, integrando todos os povos, raças, etnias, mandando às urtigas os princípios de coabitação, de economia de mercado e cooperativista da época colonial, onde alguns autóctones já trilhavam caminho, cometeu o maior pecado capital, ao alçar como sistema político do Estado o socialismo.

Foi o escancarar as portas a todas as máfias mundiais, com o narcotráfico na liderança, face à cobertura e protecção institucional de sectores políticos e de Defesa e Segurança. Hoje ele, narcotráfico de estupefacientes, é a mais séria ameaça à soberania angolana? Não! Existe outra maior que se nada for feito ameaça, dentro de 10 anos, transformar os autóctones angolanos, em minoria, e os “novos puritanos” (fundamentalistas islâmicos e especuladores ocidentais), nas vestes de investidores, em maioria, remetendo os donos das terras a reservas indígenas, tal como os índios, na América do Norte, Latina e Austrália estão confinados, como cidadãos de terceira categoria. Este é o perigo maior de Angola, quando atingir 50 anos, sob liderança e conivência do MPLA…

O narcotráfico, para desgraça colectiva dos angolanos, em 2023, não é um poder marginal, dominado por jovens e barões dos musseques, cidades, sanzalas ou aldeias, capaz de atentar contra os pilares da soberania.

Estes (jovens), na maioria desempregados, discriminados e desmobilizados de guerra, estão mais comprometidos com a inalação de combustível ou “charro” (fumo) da cannabis (liamba), enrolada em papel e utilizada, secularmente, na anciã tradição como chá medicinal para a cura de várias patologias.

Esta droga é leve e um mal menor, passível de controlo e redução, pelas instituições administrativas, policiais, educacionais, políticas e religiosas…

Infelizmente, em Angola, actualmente, o narcotráfico é uma organização criminosa, devidamente implantada e estruturada, com ramificações em sectores estratégicos, dominando, portos, aeródromos, terras fronteiriças, polícias, militares e telecomunicações, com barões mancomunados com altas patentes da Polícia Nacional e Forças Armadas.

Para o narcotráfico, pelo elevado índice de desemprego e pobreza, o país ainda não é uma potencial praça de consumo, mas, face à desorganização e fragilidade das instituições castrenses e judiciais, é excelente placa giratória para os grandes mercados consumidores: África do Sul, Congo Democrático, Moçambique, Espanha, Portugal, Cabo Verde e Nigéria, que movimenta, por trânsito, em portos e aeroportos, cerca de 1 bilião (mil milhões) de dólares/mês e 85 milhões em venda interna, incluindo a zona norte da Namíbia.

O narcotráfico na sua acção silenciosa tem demonstrado capacidade operacional, ao ponto de quando acossado, grupos internos, alegadamente no interior da Polícia, dão o alerta para os barões accionarem o “Plano B” do despiste da droga, em pequenas avionetas (a partir de aeródromos clandestinos), aviões comerciais, navios, petroleiros ou contentores de mercadorias.

A eficiência do “modus operandis” pode ser vista, quando em finais de Novembro de 2022, o navio Simione, aprisionado (retido) por determinação da PGR e colocado na Unidade Marítima da Polícia Fiscal e Aduaneira, sumiu misteriosamente, com documentação falsa, (considerada, caricatamente, depois legal pela Polícia Nacional), com destino a Portugal, mas aparecendo em 21 de Dezembro nas costas da Galiza, Espanha com três toneladas de cocaína, avaliada em mais de 800 milhões de dólares.

Até hoje, a culpa morreu solteira, tal como o navio de petróleo, no tempo de partido único, em que é acusado de cumplicidade e envolvimento o ex-ministro dos Petróleos, Jorge Augusto “Monty” de Morais, cunhado de Agostinho Neto, à época Presidente da República Popular de Angola.

Em 25 de Maio 2003 um caso insólito ocorreu no aeroporto internacional de Luanda com a fuga de um avião Boeing 727-223 de registo N844A, pertencente, inicialmente, à American Airlines, mas comercializado pela TAAG em 2002.

Com justificativa de problemas técnicos, o avião estava fora de qualquer plano de voo, mas no final de tarde de Maio de 2003, o engenheiro de voo americano, Ben Charles Padilla, sem licença, na companhia do mecânico congolês, John Mikel Mutanto, conseguiram, sorrateiramente, abastecer o avião, colocá-lo na pista, com luzes apagadas e levantar voo.

Segundo fontes dignas de crédito, a bordo estariam cerca de 5 toneladas de cocaína. Até hoje, nem com o concurso do FBI e da CIA se tem ciência do paradeiro da aeronave e dos dois operacionais.

Pese as blindadas denúncias, a falta de acção de quem de direito, mostra estarem os barões da droga na magistratura da mais alta corte do poder, com direito a imunidade, face aos milhões e milhões de dólares movimentados, que fazem trafegar nos corredores do poder.

A ostentação de riqueza, por agentes políticos, militares e policiais, devidamente identificados, ligados a sectores do controlo do tráfico de drogas é de domínio geral, tal como a inacção das autoridades.

Este é um mal. Não é o maior, ainda!

O PERIGO DA NARCOECONOMIA

Angola viu, em 11 de Novembro de 1975, proclamada uma política complexada, fechada no seu conchavo partidário, a “Dependência” da “Independência”, ao mandar às urtigas, as sementes, que deveriam levar a uma verdadeira e nacionalista reforma agrária e plano de desenvolvimento de sustentação industrial, capaz de empoderar o sonho de realização, liberdade, democracia e educação da maioria dos autóctones, atirados às calendas do analfabetismo, por cerca de 500 anos.

Infelizmente, naquela fatídica madrugada, desfraldou no mastro, não uma nova bandeira de todos e para todos, mas a do MPLA, acoplada (única distinção) com catana, para decapitar cabeças dos diferentes e roda dentada, para esmagar a liberdade dos adversários. Com ela, emergiu a institucionalização de um quarto (na verdade primeiro, que arrepiaria Charles-Louis de Secondant, barão de Montesquieu) órgão de soberania: Conselho da Revolução, constitucionalmente consagrado, no art.º 35.º da Lei Constitucional do MPLA, aprovada exclusivamente, pelo Comité Central do MPLA e pelo presidente do MPLA. Expressão máxima do nascer de uma PARTIDOCRACIA, ao invés de uma REPÚBLICA!

Este órgão era superpoderoso pois legislava (fazia as leis), aprovava o OGE e controlava o sistema de justiça, vide artigos 36.º37.º e o famoso 38.º:

“O Conselho da Revolução tem as seguintes atribuições:
a) Exercer a função legislativa, que poderá delegar no Governo;
b) Definir e orientar a política interna e externa do país;
c) Aprovar o Orçamento Geral do Estado e o Plano Económico elaborado pelo Governo;
d) Nomear e exonerar o Primeiro-Ministro e os restantes membros do Governo, sob indicação do MPLA;
e) Nomear e exonerar os Comissários Provinciais, sob indicação do MPLA;
f) Autorizar o Presidente da República a declarar a guerra e a fazer a paz;
g) Decretar o estado de sítio ou o estado de emergência;
h) Decretar amnistias”.

Com esta disfunção da norma jurídico-constitucional, instalou-se um poder autocrático, que fez germinar sementes de corrupção e narcotráfico com a criação, num país que se dizia socialista, da mais abjecta discriminação social entre os cidadãos, pelo estômago, com as Lojas dos Dirigentes (exclusivas para os dirigentes do MPLA, com produtos ocidentais, que faziam morada nas despensas dos colonialistas) e das Lojas do Povo (com produtos de segunda categoria).

O sonho de cidadão independente, dono e senhor da soberania política, económica, cultural, linguística e das terras, foi algemado e atirado, muito cedo, para as sarjetas da morte, pela ideologia comunista, nos campos de fuzilamento, tribunais populares revolucionários e assassinatos em série (recorde – 80.000 no 27Maio77).

A morte selectiva da inteligentsia autóctone de todas as cores visou afastá-la do controlo do país, das fábricas, fazendas, escolas, etc., destilando o medo e o terror na sociedade.

Foi o início do caminho para a implantação do novo colonialismo, agora nas vestes de investidor, assumindo a transformação de unidades produtivas, em armazéns de stocagem. De produtor/exportador, o angolano passou a importador/consumidor, fruto de uma política complexada e antinacionalista. E, num de repente, os grandes conglomerados armamentistas, de todas as latitudes geográficas instalaram as grandes máfias mundiais, em Angola.

O tráfico de armas, produtos expirados, medicamentos e estupefacientes de matriz química, foram sendo introduzidos no país desde 1975.

A definição e concessão da nacionalidade angolana, assente na visão ideológica do MPLA, banalizou a matriz identitária dos vários povos, porquanto era mais fácil ter a ela acesso um falante estrangeiro, do que um autóctone exímio na sua língua identitária, mas deficiente em português. Prova disso foi a concessão de nacionalidade até a traficantes internacionais de armas, como Pierre Falcone (francês), Gaydamak (russo), por terem fornecido, sobrefacturando, a céu aberto, bombas e fuzis da morte, para manutenção do MPLA no poder, exímio fornecedor de matérias-primas a baixo custo.

Hoje fragilizado todo tecido económico, comercial e social impõe-se, a olhos vistos o maior perigo e risco da cidadania dos nossos povos; a NARCOECONOMIA!

Ela, implanta-se, mansamente, com armas, bagagem, religião, comida e sexo, num dado território, quadriculando-o e fomentando a natalidade de novos cidadãos, que através do jus solis e jus sanguinis, adquirem a nacionalidade.

A narcoeconomia é suportada por grandes cartéis fundamentalistas islâmicos, que se apoderam de terras, rios, fábricas e depois as distribuem aos seus pares, cuja tarefa é não só vender os produtos alimentares vindos do exterior, em lojas de proximidade, nos bairros, aldeias, sanzalas, mais carenciadas, como difundir a parte radical do Alcorão e fomentar a procriação com mulheres indígenas, que devem ser convertidas.

Nos últimos seis anos, fundamentalmente o MPLA, intensificou a “venda” dolosa de Angola aos fundamentalistas islâmicos, a especuladores asiáticos e ocidentais, que hoje se comportam como os verdadeiros colonialistas.

Os exemplos estão à mão de semear: um cidadão chinês no pedestal do seu poderio económico, no 20.09.22 interpelado por contrabando de madeira, já contentorizada para exportação, no Entreposto Aduaneiro de Maria Teresa, não teve meias medidas ao lançar mãos ao capital corruptor. Abriu os cofres para untar, inicialmente, os agentes com A0 200.000,00 (duzentos mil Kwanzas), prontamente rejeitados. Levado a Tribunal, a máquina judicial de tão comprometida, em decisão condenatória, vergou-se à narcoeconomia, ordenando uma indemnização, pasme-se, de A0 100.000,00 (cem mil Kwanzas), a cada agente, taxa de justiça de A0 200.000.00 (duzentos mil Kwanzas) e A0 100.000,00 (cem mil Kwanzas) para o defensor oficioso.

No final de 15 dias a carga ilegal foi entregue ao chinês, que a exportou, demonstrando o peso da nova colonização, que humilha os angolanos com a cumplicidade do Executivo.

Noutra esquina, aos 30.06.23 agentes do fundamentalismo islâmico tentando encurtar caminho, numa clara demonstração de apetência em colocar os angolanos em reservas indígenas, invadiram, com violência, uma unidade do SME no Zango, para fazer justiça por mãos próprias e libertar dois amigos detidos por entrada ilegal em Angola.

A algazarra foi ousada e indescritível com todo o rolo de impropérios: – “nós é que vos alimentamos!”; “nós também mandamos neste país” e outros quejandos, que a sanidade mental nos impede de reproduzir, mas mostra como os fundamentalistas islâmicos estão a invadir e consolidar o seu poder.

No 03.07.23 dos invasores estrangeiros, quatro da Guiné Conacry e um da Serra Leoa foram julgados em processo sumário.

A ousadia destes homens é demonstrativa da força da narcoeconomia com o controlo de quase 95% do comércio retalhistas e grossista alimentar, de água, frescos, materiais de construção, de venda de divisas, no mercado paralelo. No domínio religioso, cresce a implantação de mesquitas e “madrastas”, escolas onde ensinam o islão.

As fragilidades e facilidades do regime leva-o a abrir-se que nem kitetas (molusco marinho), às políticas danosas, dolosas e esclavagistas do FMI e Banco Mundial, que vêem Angola (e África) apenas como fonte de matéria-prima barata.

A prioridade das organizações de Bretton Woods não é o desenvolvimento de Angola, tão pouco, acabar com a fome e pobreza, mas a privatização de todo património público, a favor dos novos “colonos estrangeiros”.

A ascensão da narcoeconomia é o maior crime contra a soberania económica do país, demonstrativa do fraco nacionalismo e o descarado não comprometimento da elite governativa a favor do empoderamento dos autóctones, para o controlo da economia primária, intermédia e média.

Depois da colonização, os fascistas portugueses foram-se embora (1974), deixando-nos a Bíblia, a posse da terra, mas levando os títulos de propriedade.

Nos 42 anos a indústria e agricultura foram danosa, dolosa e conscientemente, destruídas pelo MPLA.

Nos últimos seis anos, principalmente, a nova colonização impõe uma peregrinação ao Alcorão, na lógica, também, de aumentar a natalidade, através da sexualização, visando, à curto prazo, que os filhos nascidos de mães angolanas, possam, com o poderio económico, criar partidos políticos, controlar o poder legislativo, a polícia nacional e as forças armadas, para consumar a total submissão, da maioria autóctone.

É a narcoeconomia no seu máximo esplendor, que quadriculou o país, para melhor domínio, controlo e, a quem, a BODIVA está a vender, com direito de preferência as empresas públicas, na tese económica neoliberal do FMI e BM de privatização total do património do Estado, a favor dos investidores estrangeiros.

A nova colonização com todas as consequências nefastas num futuro breve, pese a bênção do MPLA deveria indignar todo intelectual patriota, tendo em linha de conta, o que se passa em Moçambique, Camarões, Nigéria e, nos últimos tempos, na França, onde é extremista e violenta a reivindicação de direitos adquiridos.

O narco deriva do grego nárke, que significa “torpor” (falta de sensibilidade), entorpecimento (falta de força, dormência), que aliado à economia, forma a NARCOECONOMIA, domínio absoluto do tecido produtivo de um país, adormecido na cegueira e traição da classe dirigente, que ao excluir as sociedades mistas (estrangeiro + angolano), vende a soberania económica, ao capital estrangeiro, consumando a “new colonization” (nova colonização), com a implantação da sua cultura, religião, culinária, hábitos e costumes, língua, etc.

É urgente e necessário que os verdadeiros nacionalistas, não tentados a xenofobia, mas a uma visão realista, patriótica e democrática inviabilizem a germinação das sementes contaminadas, visando um novo poder constituinte a eleição de uma assembleia constituinte originária para a proclamação de uma verdadeira INDEPENDÊNCIA IMATERIAL de que Angola, tanto carece.

A NARCOECONOMIA é o mais violento e pernicioso dos tráficos, do mundo moderno, pelo domínio e “corrosão mental” de um país e povos, através do dinheiro.

Finalmente, 48 anos depois, o MPLA devolve aos povos angolanos, já não sub-repticiamente, mas a céu aberto, a escravatura e o colonialismo mais violentos, num verdadeiro pacto com as forças do MAL.

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