A ministra da Educação angolana, Luísa Grilo, pediu hoje “ponderação e voto de confiança” aos professores do ensino geral, que anunciaram uma greve a partir de quarta-feira, garantindo que o executivo está a trabalhar para solucionar as suas reivindicações. Há 47 anos que o MPLA promete “resolver os problemas do Povo”. O resultado está à vista. Só acredita quem quer.
O “executivo está a trabalhar no sentido de responder às preocupações apresentadas, algumas delas já foram solucionadas, outras estão em via de solução, e então apelava aos meus colegas a alguma ponderação, um voto de confiança, porque estamos a trabalhar para dar solução às suas reivindicações”, afirmou a ministra.
Luísa Grilo, que falava na província do Zaire, onde presidiu ao acto do Dia Nacional do Educador, referiu que o órgão que dirige ainda não recebeu por escrito informações relativas à greve nacional dos professores.
“Ouvimos efectivamente, mas continuamos a conversar com os nossos parceiros do sindicato, ainda na sexta-feira reunimos com o sindicato para encontrarmos mecanismos de diálogo permanente, por um lado, e por outro encontrarmos as soluções que sirvam as duas partes, mas nós dissemos que estamos abertos a dialogar”, assinalou a governante.
O Sindicato Nacional dos Professores (Sinprof) angolanos reafirmou hoje a greve interpolada a partir de quarta-feira, uma paralisação que, segundo o seu secretário-geral, Admar Jinguma, se estende até 30 de Novembro.
“A greve marcada para amanhã no sector da educação terá mesmo lugar infelizmente, porque o nosso objectivo nunca foi fazer greve, o objectivo é a resolução dos muitos problemas que o sector vive”, disse o responsável sindical.
Aumento salarial, melhoria das condições de trabalho, pagamento de subsídios e a regulamentação da monodocência constam entre as reivindicações dos professores angolanos, cujo caderno reivindicativo vem sendo negociado há três anos.
“Poucas questões foram atendidas e mesmo as atendidas não foram na sua plenitude, de tal forma que os professores agastados sinalizaram para partirmos para esta medida de pressão”, argumentou.
Admar Jinguma acrescentou: “Sempre fomos abertos ao diálogo e sempre que somos chamados não apresentamos qualquer formalismo, agora é importante dizer que estas conversações no final do dia não têm surtido efeito”.
A segunda fase da greve dos professores está prevista entre 6 e 16 de Dezembro e a terceira entre 3 e 31 de Janeiro de 2023, conforme deliberou a VI Reunião Ordinária do Conselho Consultivo do Sinprof, realizada em Outubro passado.
EXEMPLOS DE BEM PROMETER SEM CUMPRIR
De acordo com o órgão oficial do MPLA, Jornal de Angola (JA), a ministra da Educação, Luísa Grilo, defendeu em Setembro de 2021, em Moçâmedes, que as tecnologias digitais devem estar ao dispor de todos e o seu uso aproveitado como uma nova forma de alfabetizar.
A ministra, que falava no acto central do Dia Mundial da Alfabetização, que decorreu sob o lema “Alfabetizar para aumentar a inclusão digital em tempos de pandemia”, disse – segundo o Pravda – que as novas tecnologias devem ser geridas para as áreas da formação, comunicação, informação, trabalho, entretenimento e na aproximação entre as pessoas em todos os enquadrantes.
Luísa Grilo reconheceu que, actualmente, alfabetizar é cada vez mais desafiante, tendo em conta o momento difícil que se vive. Em função disso, todos os sectores, incluindo o da Educação, estavam a adoptar novos procedimentos e formas de trabalho, através do uso das novas tecnologias e uma combinação entre as técnicas convencionais e as tradicionais.
A ministra reconheceu que as tele e rádio-aulas e o uso da Internet para fins educacionais são recursos usados para se assegurar as aprendizagens. Por isso, em 2021, a UNESCO definiu como lema para as comemorações da alfabetização a recuperação centrada no ser humano e na redução da disparidade digital.
É de crer que, na prossecução de mais esta promessa, o MPLA venha a instalar computadores de acesso livre e gratuito nas grandes superfícies que fornecem gratuitamente alimentos à população: as lixeiras.
“Angola está a dar os primeiros passos para uma massificação tecnológica”, avançou a ministra, segundo o JA, assegurando que o Executivo assume, cada vez mais, a importância da utilização de novas tecnologias.
A ministra recorreu aos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) para dar conta que, desde 2020, cerca de 14,6 milhões de cidadãos são usuários de telemóveis, outros 8,9 milhões utilizadores de internet e 2,20 milhões recorrem activamente às redes sociais.
“Os desafios para aumentarmos as taxas de inclusão digital ainda são grandes. Vimos aqui que o uso da internet ainda é limitativa e estamos conscientes de que tudo não depende só da extensão do sinal das redes de telecomunicação, mas sobretudo, do nível da alfabetização das suas populações, por isso, o lema escolhido para o nosso país é Alfabetizar para aumentar a inclusão digital em tempos de pandemia”, afirmou Luísa Grilo.
A ministra garantiu que o Executivo entende que a alfabetização tem um papel importante em todas as vertentes sociais: ”Se durante a pandemia da Covid-19 fomos obrigados a manter o distanciamento social e recorrer às novas tecnologias, as pessoas iletradas vivenciaram uma dupla maneira: Uma imposta pela pandemia e outra pela sua condição académica”.
Luísa Grilo disse, garante o jornal do MPLA, “ser momento de agir perante a recente crise da pandemia da Covid-19, que tem acentuado os problemas da alfabetização e da educação dos jovens e adultos, com repercussões negativas na escolarização e nas oportunidades de aprendizagem ao longo de toda a vida, contribuindo, deste modo, para os níveis de atraso e das taxas do analfabetismo “.
Internet… potável com ligação directa às bissapas
Em Julho de 2020, o então ministro das Telecomunicações Tecnologias de Informação e Comunicação Social, Manuel Homem, defendeu, em Luanda, a promoção do acesso à Internet em todos os estratos sociais e em todo o país. Embora dê jeito haver electricidade, crê-se que o Governo a vá tornar “potável”, através de ligação a candeeiros a petróleo, velas de cera ou até às bissapas.
Por todos os cantos e esquinas do país multiplicaram-se as manifestações de júbilo e elogios à tese de Manuel Homem. A população dos Gambos, por exemplo, e daquelas localidades do Cuando Cubango, onde morreram muitas crianças devido à fome, receberam a notícia com muita alegria. Foram logo comprar computadores para os filhos…
Alguns pais, pouco informados sobra e ciclópica capacidade do governo, perguntam se as crianças, para terem acesso a electricidade, irão ligar os computadores no tronco ou nos ramos das árvores. Esquecem-se, lamentavelmente, que a os computadores podem funcionar ligados a bissapas. É isso não é senhora ministra?
Manuel Homem, que falava à imprensa no termo de uma visita de constatação ao Instituto Nacional de Fomento da Sociedade de Informação (INFOSI), considerou que a expansão do sinal da Internet deve permitir e facilitar o acesso a todos. “Temos de continuar a trabalhar na promoção do acesso à Internet em todos os estratos sociais por via dos programas de massificação e inclusão digital em curso um pouco por todo o país”, frisou o então ministro sem que alguém lhe lembrasse que não fica bem falar de coisas como electricidade (mesmo que na versão “potável”) a um povo que tem 20 milhões de pobres. Isto se é que esses pobres são gente, se é que são… angolanos.
Manuel Homem manifestou-se, igualmente, satisfeito com o nível de organização do Instituto Nacional de Fomento da Sociedade de Informação do ponto de vista técnico e administrativo, o que vai facilitar o processo de apoio à modernização dos sistemas da administração pública em curso no país, no âmbito dos programas e projectos de massificação digital.
Com a implementação dos Programas e Inclusão Digitais, o Ministério das Telecomunicações Tecnologias de Informação e Comunicação Social tem vindo a desenvolver o Projecto “Angola Online”, que na altura já permitira montar 111 pontos públicos de acesso à Internet, em todo o território nacional.
Acresce que, com esse acesso à Internet, os nossos pobres podem mostrar ao mundo que são dos melhores na disciplina basilar implementada pelo MPLA há 47 anos e que, por isso, constitui o seu ADN: Aprender a viver sem comer. É claro que o resultado não é 100 por cento positivo. Isto porque muitos quando estão quase, quase mesmo, a saber viver sem comer… morrem.
Folha 8 com Lusa