O presidente da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, disse hoje que “o preço do poder não vale tudo, não vale o banho de sangue do povo”, em resposta aos que tencionavam ver a UNITA na rua para conquistar as instituições. Milhares e milhares de angolanos estiveram na manifestação em que tanto a TPA de Portugal (RTP) como a Angop de Portugal (Lusa) só conseguiram ver… centenas.
Adalberto Costa Júnior, que discursava hoje no final de uma marcha promovida pela UNITA (partido que, apesar de vencido as eleições, saiu derrotado por ordem do MPLA às suas sucursais, CNE e Tribunal Constitucional) em prol da “esperança, liberdade e despartidarização das instituições”, disse que o “povo sabe quem venceu as eleições”.
“Quero dizer a todos que nós continuamos a manter a fé e o foco e a mesma dedicação e força de combate e luta, a mesma de sempre”, afirmou o líder da UNITA, tendo agradecido a todos os angolanos, dentro e fora do país, por terem “votado em consciência”.
O presidente da UNITA referiu que o seu partido e parceiros foram pressionados para saírem à rua para conquistar as instituições, após a publicação oficial dos resultados das eleições, que deram vitória ao MPLA, no poder desde 1975.
“Foram muitos aqueles que esperam de nós a voz da rua como a via da conquista das instituições, foram muitos que nos pressionaram e que esperaram que nós déssemos voz de manifestações numa altura em que tínhamos as ruas cheias de repressão”, disse.
Segundo o presidente, a pressão para que a UNITA fosse para a rua reivindicar os resultados eleitorais era uma “casca de banana”, mas, observou, “temos hoje maturidade política”.
“E nós pensamos que o preço do poder não vale tudo, não vale o banho de sangue do meu povo, não vale, não é falta de coragem não, bem pelo contrário”, assinalou, criticando a considerável presença das forças de defesa e segurança na rua “em prontidão combativa”.
Para Adalberto da Costa Júnior, que falava perante uma plateia de milhares e milhares de militantes, amigos, simpatizantes e membros da sociedade civil que participaram da marcha, “não é normal que aquele que ganhou eleições tenha colocado a repressão na rua”.
“É normal aquele que recebeu o voto maioritário do seu povo ficar com medo do povo? É normal agarrar no aparato máximo de repressão e colocá-los em demonstração de quem tem medo”, questionou.
Milhares de cidadãos, entre dirigentes, militantes, simpatizantes, parceiros da Frente Patriótica Unida (FPU) e amigos da UNITA, membros da sociedade civil e até vendedoras ambulantes participaram hoje na “Marcha de Esperança e Liberdade”, que teve início o largo do cemitério da Santa Ana e terminou no Largo das Escolas, em Luanda.
Os três rostos da FPU, nomeadamente Adalberto da Costa Júnior, Filomeno Vieira Lopes (presidente do Bloco Democrático) e Abel Chivukuvuku (coordenador do projecto político PRA-JA Servir Angola) e vários deputados eleitos também participaram na marcha.
Um enorme cordão policial acompanhou o percurso da marcha em toda a extensão da Avenida Deolinda Rodrigues e parte da Avenida Ho-Chi-Min, onde os participantes, maioritariamente jovens, entoavam “cânticos de liberdade”.
“Exigimos um Estado verdadeiramente democrático, somos a favor da paz, queremos uma comunicação social transparente, queremos o nosso voto e exigimos a libertação de Luther King e Ta Nice Neutro”, ambos activistas detidos desde Janeiro, eram algumas das frases escritas nos cartazes que empunhavam.
Sobre as eleições gerais, realizadas há um mês, cuja UNITA, que elegeu 90 deputados, contesta os resultados, apesar de tomar assento no parlamento, Adalberto Costa Júnior disse que a abstenção oficial “não foi verdadeira”.
“Essa abstenção contou com os mortos, contou com duplicação de inscrições, não é verdadeira, os angolanos votaram em consciência e fizerem história”, frisou.
No entender do líder dos “maninhos”, o que determina o poder é um conjunto de duas realidades, nomeadamente a legitimidade e legalidade, considerando que Angola “vive um drama”. “Há quem tenha a legitimidade e há quem tenha a legalidade auto-imposta, auto adquirida e está é a realidade”, frisou.
O líder da UNITA prometeu fazer “tantas marchas quanto necessárias”, à semelhança de hoje, continuar a luta dentro das instituições e usar “sem limites” do seu poder de conselheiro do Presidente angolano para “aconselhar João Lourenço sobre a necessidade de se construir um país de todos os angolanos”.
Exortou ainda o poder político para a necessidade da implementação das autarquias em 2023 e “exigiu” a libertação de “todos os presos políticos para juntos” construírem “uma Angola melhor”.
A necessidade da libertação dos presos políticos foi também reforçada pelo activista Dito Dali, que reiterou “apoio incondicional” aos líderes da FPU: “Eles roubaram-nos as eleições, mas não nos roubaram a vontade de continuarmos a lutar”, referiu.
Filomeno Vieira Lopes, presidente do BD, considerou que a marcha foi um momento para “reafirmar que o povo votou efectivamente na alternância para Angola”.
Por seu lado, Francisco Viana, ex-dirigente do MPLA e eleito deputado da UNITA para a legislatura 2022-2027, criticou a não publicação das actas eleitorais pela Comissão Nacional Eleitoral para argumentar que a UNITA “foi roubada”.
Refira-se a TPA de Portugal (RTP) e a Angop de Portugal (Lusa), descobriram (certamente depois de se descalçaram para usar os dedos dos pés na contagem) que onde estiveram milhares e milhares de pessoas só compareceram “centenas simpatizantes da UNITA e forças opositoras ao Governo angolano manifestam-se em Luanda”. Provavelmente tratou-se de um “conteúdo patrocinado” pelo MPLA…
Folha 8 com Lusa