A China quer “apagar as memórias” da repressão de Tiananmen, em 1989, quando em 4 de Junho de 1989 forram massacradas cerca de dez mil pessoas, diz o secretário de Estado norte-americano, Anthony Blinken. Sobre os cerca de 60 mil mortos dos massacres de 27 de Maio de 1977, em Angola, ordenados por Agostinho Neto… silêncio. Será porque estes eram, quase todos, pretos?
“Hoje, a luta pela democracia e liberdade continua a ressoar em Hong Kong, onde a vigília anual para comemorar o massacre de Tiananmen foi proibida pela República Popular da China e pelas autoridades de Hong Kong, numa tentativa de apagar as memórias desse dia”, salientou Anthony Blinken, em comunicado.
Há 33 anos que o exército chinês dispersou os protestos liderados por estudantes, na praça Tiananmen, no centro de Pequim, a pedir reformas democráticas para o país, causando um número de mortos, ainda hoje objecto de discussão.
Estimativas chegam às dez mil vítimas, embora Pequim defenda que a repressão dos “tumultos contra-revolucionários” tenha levado à morte de duas centenas de civis.
Na homenagem aos “corajosos manifestantes”, Blinken disse que os protestos “não seriam esquecidos”.
As autoridades da região semiautónoma chinesa tinham avisado anteriormente que a maioria dos espaços, onde habitualmente decorriam estes eventos, estaria fechada entre a noite de sexta-feira e as primeiras horas de domingo.
Macau e Hong Kong eram os únicos territórios chineses onde as homenagens às vítimas de 4 de Junho de 1989 eram toleradas.
Em 2020, as autoridades proibiram, em Macau e Hong Kong, pela primeira vez em 30 anos, a realização da vigília em espaço público, numa decisão justificada com os trabalhos de prevenção da Covid-19. A proibição manteve-se no ano passado.
“Continuaremos a expor as atrocidades e violações dos direitos humanos cometidas pela República Popular da China, incluindo em Hong Kong, Xinjiang e Tibete, e a exigir responsabilidade”, prometeu Blinken.
Como em 1977, pensar mete medo aos donos do poder
Sabendo o que diz mas não dizendo o que sabe, João Lourenço alinhava e alinha na lavagem da imagem de Agostinho Neto numa altura em que, como sabe o regime, os angolanos começam cada vez mais a pensar com a cabeça e não tanto com a barriga… vazia.
Terá João Lourenço alguma coisa a dizer aos angolanos sobre os acontecimentos ocorridos no dia 27 de Maio de 1977 e nos anos que se seguiram, quando dezenas de milhar de angolanos foram assassinados por ordem de Agostinho Neto?
Agostinho Neto, então Presidente da República, deu o tiro de partida na corrida do terror, ao dispensar o poder judicial, em claro desrespeito pela Constituição que jurara e garantia aos arguidos o direito à defesa. Fê-lo ao declarar, perante as câmaras da televisão, que não iriam perder tempo com julgamentos. Tal procedimento nem era uma novidade, pois, na história do MPLA tornara-se usual mandar matar os que se apontavam como “fraccionistas”.
O que terá a dizer sobre isto o (ainda) Presidente da República, general João Lourenço?
Agostinho Neto deixou a Angola (mesmo que João Lourenço utilize toda a lixívia do mundo) o legado da máxima centralização de um poder incapaz de dialogar e de construir consensos, assim como de uma corrupção endémica. E os portugueses que nasceram e viveram em Angola, ainda hoje recordam o papel que teve na sua expulsão do país. Antes da independência declarava que os brancos que viviam em Angola há três gerações eram os “inimigos mais perigosos”. Em 1974, duvidava que os portugueses pudessem continuar em Angola. Em vésperas da independência convidava-os a sair do país. E já depois da independência, por altura da morte a tiro do embaixador de um país de Leste, cuja viatura não parara quando se procedia ao hastear da bandeira de Angola, dirigiu-se, pela televisão, aos camaradas, para lhes dizer que era preciso cuidado, pois nem todos os brancos eram portugueses.
Em Maio de 1977, não houve pioneirismo, pelo contrário, não tendo Agostinho Neto conseguido massacrar a humilhação passada no Congresso de Lusaka, o primeiro democrático do MPLA, onde o eleito foi Daniel Júlio Chipenda, Agostinho Neto consumou a grande chacina, para estancar, com o temor, uma série de cisões e problemas que calcorreavam incubados, desde a sua chegada ao MPLA, convidado pela anterior direcção.
Esta demonstração de força, serviu para esclarecer que se o poder fosse posto em causa, a direcção e Agostinho Neto, não teria pejo de sacrificar com a própria vida todos quantos intelectualmente o afrontassem. Foi assim ontem, é assim hoje, infelizmente, como bem sabe João Lourenço.
Numa só palavra, quando este MPLA sente o poder ameaçado, não hesita: humilha, assassina, destrói, elimina, atira aos jacarés.
É a sua natureza perversa demonstrando não estar o MPLA preparado para perder o poder e, em democracia, com a força do voto se isso vier a acontecer, a opção pela guerra será o recurso mais natural deste partido, não é general João Lourenço?
Não é em vão que temos dois exércitos: as FAA e o exército privado a UGP (Unidade de Guarda Presidencial), mais a partidarização da Polícia Nacional; da Segurança de Estado; do SIC (Serviços de Investigação Criminal); do sistema de Justiça e dos Tribunais e a maioria dos juízes, tudo previamente montado, para contrariar a vontade popular.
Em todos os meses do ano nunca devemos esquecer, por força do sofrimento de milhares e dos assassinatos de igual número, das prisões arbitrárias, da Comissão de Lágrimas, da Comissão de Inquérito, dos fuzilamentos indiscriminados, etc..
Muitos acreditaram, em 1979, com a ascensão de Eduardo dos Santos ao poder, num eventual reencontro com a verdade e a reconciliação interna, sobre a alegada intentona, que ele próprio sabe nunca ter existido. Infelizmente, não se conseguiu despir da cobardia e cumplicidade, ostentada desde o tempo de Agostinho Neto e da sua clique: Lúcio Lara, Onambwé, Iko Carreira, Costa Andrade “Ndunduma”, Artur Pestana “Pepetela”, entre outros.
Dos Santos mostrou ser um homem que, pelo poder, era capaz de tudo: viola a Constituição, as leis, humilha, desonra e assassina todos quantos não o bajulavam. Exemplos para quê, eles estão à mão de semear… nas cadeias, no exílio, nos cemitérios, no estômago dos jacarés. E João Lourenço está a mostrar-se um bom aluno desta cátedra.
“Não vamos perder tempo com julgamentos”, disse no pedestal da sua cadeira–baloiço, um dos maiores genocidas do nacionalismo angolano e da independência nacional, Agostinho Neto. João Lourenço sabe que isto é verdade, mas – apesar disso – enaltece o assassino e enxovalha a memória das vítimas.
Esta posição da lei da força, marcaria para todo o sempre o sistema judicial, judiciário e de investigação policial em Angola, onde a presunção e a defesa de uma ideologia diferente da do partido no poder, são causa bastante para acusação, julgamento, prisão e até mesmo assassinato político, ainda que a pena de morte, não esteja consagrada na Constituição.
Sempre que o regime diz o que agora repete João Lourenço, todos devemos fazer uma viagem de regresso a 1977 para ver como estão as cicatrizes daquele período de barbárie, que levou muitos de nós às fedorentas masmorras da polícia política de Agostinho Neto, ou mesmo aos assassinatos atrozes, como nunca antes o próprio colono português havia praticado contra muitos intelectuais pretos, sendo o próprio Neto disso um exemplo.
Desde 1977 que Angola, o Povo, aguarda pela justiça, mas com as mentes caducas no leme do país, essa magnanimidade de retratação mútua, para o sarar de feridas, não será possível, augurar uma Comissão da Verdade e Reconciliação, muito também, por não haver um líder em Angola.
Folha 8 com Lusa
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