Angola recebeu 21 mil litros de biolarvicidas, produto para eliminar larvas de mosquitos, no âmbito da sua estratégia de combate à malária, que este ano provocou mais de 9.000 mortos em 6.000.000 de casos, anunciou esta segunda-feira o governo. Recorde-se que, segundo o órgão oficial do MPLA (Jornal de Angola), em Abril de 2012 a malária estava em vias de… extinção.
Uma nota de imprensa do Ministério da Saúde divulgada esta segunda-feira refere que o produto foi adquirido na Tanzânia e será distribuído em todos os municípios do país para tratar 21 mil hectares.
Em declarações à imprensa, o secretário de Estado para a Saúde Pública, Franco Mufinda, disse que uma das estratégias do Ministério da Saúde é o controlo do mosquito nesta fase, demonstrando “a preocupação do executivo para a redução do impacto da malária sobre a sociedade”. Impacto que dura há… 46 anos.
Franco Mufinda referiu que de Janeiro a Agosto deste ano, o país teve um registo de cerca de 6.000.000 de casos de malária e pouco mais de 9.000 óbitos.
“Comparando com o mesmo período do ano passado, os casos foram de cerca de 5.000.000 e cerca de 8.100 óbitos, sendo que este ano, tivemos alguns surtos nas províncias de Benguela e Huambo, mas também a preocupação premente em Malanje e Cuanza Sul”, referiu.
O governante frisou que além dessa estratégia, “que é primordial”, de atacar o mosquito na sua fase larval, é preciso também combater o mosquito na sua fase adulta, através da fumigação, uma actividade que tem sido levada a cabo pelas administrações municipais.
“Há todo um plano estabelecido para se poder distribuir esse produto. A abordagem da malária é uma abordagem multissectorial, sendo que a responsabilidade é individual e deve iniciar-se nas famílias”, frisou.
De acordo com Franco Mufinda, as comissões de moradores devem ajudar na melhor gestão do lixo, dos charcos, onde está o cerne do problema, não esperando pelas autoridades sanitárias, “que estão em último lugar nesta cadeia de responsabilidades, gerindo o doente”.
“Nós não devemos esperar que haja doentes de malária, mas sim prevenir que tenhamos mosquitos, esse papel é de todos nós”, sublinhou.
A malária é a principal causa de mortes em Angola, sendo um feito a que, como muitos outros, se junta aos 20 milhões de pobres e ao “sucesso” da política governativa de distribuição gratuita de comida nas… lixeiras.
A malária segundo o MPLA (Jornal de Angola)
Em Abril de 2012, o Jornal de Angola (esse órgão de referência mundial) escrevia que as autoridades sanitárias angolanas previam iniciar, a partir de 2015, o processo de pré-eliminação da malária, a doença tropical que mais óbitos provoca no país. Em manchete escrevi: “Malária em Angola em vias de extinção”.
O coordenador do Programa de Luta contra a Malária explicou que a probabilidade de Angola iniciar o processo de pré-eliminação da doença reside na contínua redução de casos da doença. Notável.
Filomeno Fortes, que falava à margem da reunião extraordinária da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) sobre saúde, frisou que as autoridades angolanas e os seus parceiros estão empenhados em baixar, cada vez mais, o índice de mortalidade por malária no país.
“A manter-se este nível de redução, a partir de 2015 podemos pensar na possibilidade da pré-eliminação da doença no país”, sublinhou Filomeno Fortes.
O médico disse que, há dez anos, o país registava 20 mil óbitos por ano, mas actualmente o número baixou para uma média de seis mil, devido ao esforço desenvolvido pelo Executivo (como acontece desde 1975) no sector da saúde, que estabelece a redução de casos de paludismo entre as populações.
Filomeno Fortes disse acreditar que, em 2013, iria haver uma diminuição da mortalidade por malária, cuja cifra deve fixar-se em cerca de quatro mil óbitos por ano.
O médico revelou haver falsos diagnósticos de malária devido à existência de certos vírus que provocam sintomas semelhantes aos causados pelo paludismo.
“Realizámos estudos que comprovam a existência de alguns vírus que provocam quadros clínicos parecidos com os da malária, como febres, dores de cabeça e articulares”, acentuou Filomeno Fortes. Sobre este assunto, salientou que, por não haver capacidade para a realização de um diagnóstico diferencial, certos técnicos de saúde continuam a diagnosticar falsamente esses casos como malária.
O presidente da reunião de peritos da SADC, Augusto Rosa Neto, disse que foi aprovada a assinatura de um memorando de entendimento para a criação de laboratórios supranacionais de referência, em centros regionais de excelência.
“Neste momento, existem laboratórios na África do Sul, Zimbabwe e Botswana, que vão atender os casos de malária, tuberculose e VIH/Sida dos países membros da SADC”, informou.
Os laboratórios nacionais vão continuar a funcionar normalmente, mas os que não têm condições para realizar exames podem enviar para os países membros que dispõem de capacidade.
O Lesoto, as Ilhas Maurícias e as Seychelles são os três países da SADC que já não registam casos de malária, enquanto Moçambique é aquele que regista o maior índice de casos. Na altura, a directora nacional adjunta de Saúde Pública de Moçambique, Rosa Marlene, apontou como causas principais a situação epidemiológica e as questões ecológicas resultantes do clima.
“Moçambique é uma região que tem grandes rios e muita água na costa. Por essa razão, já tivemos dez milhões de pessoas infectadas com malária. Neste momento, estamos com três milhões de casos”, sublinhou a responsável moçambicana.
A doença é uma das principais causas de morte em Moçambique, razão pela qual tem sido prioridade do governo coordenar os métodos de prevenção e de cura.
“Este encontro tem vantagens porque, para conseguirmos eliminar a malária, as acções têm de ser concertadas e, com a troca de experiências e informação, podemos chegar a melhores soluções”, acrescentou Rosa Marlene.
Folha 8 com Lusa