Incitação à guerra e genocídio no pedestal institucional

A imagem do Executivo angolano, face à brutalidade e boçalidade dos corpos policial e militar, assumidamente, partidocratas, no genocídio cometido, dia 30 de Janeiro, no Cafunfo, afundou ainda mais, junto da comunidade internacional a credibilidade de João Lourenço.

Por William Tonet

Atentar de forma leviana contra os direitos humanos, disparando balas de guerra, contra cidadãos desarmados, no pleno uso de um direito constitucionalmente consagrado: Direito de reunião e manifestação (art.º 47.º CRA), coloca o regime angolano no patamar das mais abjectas e violentas ditaduras.

Os pergaminhos da democracia foram assassinados. E o silêncio, tumular, de João Lourenço, pode ser considerado cúmplice e ou conivente, com esta hedionda barbárie.

Sim ou não, porque te calas, Presidente? Ou será que o terrorismo de Estado ganhou estatuto de tal monta que os cidadãos, ante o rio de sangue de inocentes, foram ainda confrontados com declarações bélicas do ministro do Interior, Eugénio Laborinho, e do comandante geral da Polícia Nacional, Paulo de Almeida, fazendo apologia da morte, contra todos quantos vierem a reclamar o fim da fome, miséria, desemprego, inflação, alto custo dos produtos da cesta básica, que terão como interlocutores, AKM 47 e mísseis intercontinentais.

E, agora, os cidadãos têm conhecimento, que depois de Monte Sumi, no Huambo e Cafunfo, Lunda Norte, os assassinatos policiais e militares passaram a ter estatuto de impunidade, principalmente se os reclamantes forem contestatários regionais, religiosos angolanos/africanos, intelectuais independentes, jovens revolucionários e membros da oposição.

Mais grave nesta sarrabulhada é o papel da comunicação social pública (CSP), descaradamente partidocrata, que não consegue, face à ideologia do MPLA, ouvir as vítimas, nem promover o contraditório, fazendo como noutras ocasiões, uma forte campanha de diabolização dos diferentes, colocando-se como cúmplice do genocídio do Cafunfo.

É ela (CSP) também responsável pela sobranceria da equipa governativa, que adoptou um sistema económico neoliberal que retirou direitos e lançou no desemprego mais de 2 milhões de trabalhadores em três anos, encerrou 5 bancos comerciais com considerável carteira de clientes, encerrou empresas de angolanos, provocou o desmonte das grandes empresas públicas, para as vender ao desbarato ao capital estrangeiro, a entrega de activos da SONANGOL, da ENDIAMA, das Telecomunicações, dos portos comerciais e da companhia aérea TAAG.

O MPLA/Lourenço reconhecidamente, pelo silêncio dos seus dirigentes é, também, cúmplice da destruição de Angola e não fosse a imprensa independente e as redes sociais e, a desinformação seria pior, na senda da destruição dos frágeis pilares da democracia, liberdade de imprensa, de expressão e da economia nacional e nada disso é uma simples narrativa, mas a constatação do desnorte a que o país chegou.

Angola está num beco sem saída, porque o pretenso combate à corrupção ao invés de diminuir as despesas públicas aumentaram-nas e na ausência de órgãos de direito imparciais, cometem-se muitos abusos judiciais, perseguem-se lideranças dos partidos da oposição, cancelam-se contas, abusivamente, e inviabilizam-se a legalização de partidos políticos a sul do Rio Kwanza, principalmente, se o líder for Abel Chivukuvuku.

É a força dos “jurisbajus” no máximo esplendor.

O governo do MPLA recuou 145 anos, quando, tivesse um projecto de sociedade, deveriam os órgãos de soberania do país ter avançado 45 anos, estando a democracia a subir pedestais de transparência, imparcialidade e consolidação da alternância política, ao invés da boçalidade institucional que grassa, pelos corredores do mais alto escalão.

Em três anos, o maior mérito de João Lourenço foi da sua política arrogante, discriminadora e de especulação económica, ter, como nunca antes, unido, a grande maioria da sociedade civil e oposição desavinda, em torno de um projecto comum, para derrubar o longevo consulado do MPLA.

CENÁRIO (IM)PREVÍSIVEL

Imagine-se um cenário eleitoral, em 2022, em que a INDRA, empresa espanhola dos boletins de voto e a própria CNE, onde o MPLA tem a maioria, não consiga, fruto de uma forte presença da comunidade internacional, unidade das forças políticas da oposição, conjugada com a sociedade civil e alas nacionalistas das Forças de Defesa e Segurança, impedir a vitória de uma nova maioria parlamentar e Presidente da República?

Como ficará João Lourenço? Quem estará do seu lado? Os bajuladores, na hora da desgraça são os primeiros a abandonar o barco. Os seus camaradas do MPLA apontar-lhe-ão o dedo por ter sido irascível e querer ficar sozinho, ostracizando todos e dividindo o partido. A oposição marginalizada e discriminada não lhe emprestará solidariedade, os empresários, responsabilizá-lo-ão pelo descalabro, a sociedade civil, será indiferente e, como se não bastasse, a família, teria dificuldade de gerir a sua vida, no país.

O país com raiva, a espiral da violência não são um bom prenúncio de paz, logo é preciso inverter o quadro, para não ser uma condição “sine qua non”, para no final do mandato terem de sair do país, temendo sevícias do seu sucessor.

É preciso acabar a política do revanche e desfazer a formação do exército de descontentes, compostos por batalhões dos Sem Comida; Sem Tecto; Sem Emprego; Sem Esperança, sedentos de justiça, emprego, educação, saúde e liberdade, para não se embrenharem nas matas.

Finalmente, o Bureau Político do MPLA tem de diminuir a sua carga infantil, para não passar a sensação de ser o grande epicentro da agitação, mais a mais quando ofende os cidadãos das zonas produtoras de riqueza, por não reclamarem e por outro, incita ao racismo, com a tese dos angolanos de 50% e ainda com a falsa questão da nacionalidade, unicamente, para atacar Adalberto da Costa Júnior de quem têm medo, pela sua capacidade intelectual e de retórica.

Um partido no poder não pode ser um saco de gatos, sem visão, governado por chefes, por ausência de um líder, que não faça má interpretação do Corinthios 9.18: “Logo, que prémio tenho? Que, evangelizando, proponha de graça o evangelho de Cristo, para não abusar do meu poder no evangelho”, para nunca empreender uma justiça de carnificina.

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