O Presidente de Angola, João Lourenço, disse hoje, em Moscovo, que a construção do satélite angolano (Angosat) pela Rússia, depois de ter falhado o primeiro, é um dos principais assuntos a ser tratado na visita que efectua àquele país. Irmãos, oremos. Um dia o satélite vai voar e cair, em pedaços, nos nossos pratos… vazios.
João Lourenço, que falava em conferência de imprensa, disse que a delegação angolana é integrada pelo ministro das Telecomunicações e Tecnologias de Informação, porque este “é um dos assuntos principais que a parte angolana vai querer saber das autoridades russas”.
O chefe de Estado angolano sublinhou que, apesar de ter chegado terça-feira à Rússia, apenas na manhã de hoje deu início ao programa de visita, com um discurso para os deputados russos da Duma, estando as conversações reservadas para quinta-feira.
“Mas por ser uma questão importante é óbvio que não aguardamos apenas a nossa vinda à Rússia para ter informação sobre esta matéria. O que sabemos é que o satélite de reposição está sendo construído de forma satisfatória e, enquanto não nos for entregue, Angola está a beneficiar de um espaço num outro satélite russo, para que não fique neste vazio”, informou.
O consórcio russo responsável pela construção e lançamento do primeiro satélite angolano, que falhou as comunicações com a estação terra, anunciou o início da sua construção, a partir de 24 de Abril de 2018, sem custos para Angola, decorrendo até 2020.
A informação foi avançada em Luanda por Igor Frolov, responsável pela construção do satélite Angosat-1 pela empresa russa RSC Energia, num balanço ao projecto do primeiro satélite angolano.
O responsável russo, apresentado como o “pai” do Angosat-1, descreveu que desde o seu lançamento em órbita, a 26 de Dezembro de 2017, ocorreram várias falhas de comunicação com a estação terra, mas sem apresentar qualquer explicação oficial para a “situação anormal” detectada.
“Diante disto, foi tomada a decisão de serem suspensas as operações com o satélite, para não colocar em risco os outros satélites que estão em órbita”, explicou Igor Frolov, classificando a ocorrência, a primeira do género na RSC Energia, como um “problema técnico extremo”.
Sobre o reforço da cooperação com a Rússia, o Presidente angolano avançou que dos nove acordos que estavam previstos assinar, apenas sete estão em condições de se proceder à sua assinatura.
“São acordos que cobrem várias áreas da cooperação dos nossos dois países, Angola e a Rússia”, disse.
João Lourenço defendeu que “existe uma identidade de pontos de vista entre os dois países sobre um conjunto de matérias, sobretudo política internacional, e não só”.
“Esta é uma situação que dura há décadas, não há vacilação, não há alteração nas nossas posições, sobre questões que consideramos fundamentais nas relações entre os Estados”, reforçou.
Questionado sobre as razões para a condecoração do seu homólogo russo, Vladimir Putin, com a Ordem Agostinho Neto, primeiro Presidente de Angola, João Lourenço respondeu que a razão principal “senão mesmo a única” é a necessidade de “agradecer ao povo russo todo o apoio que ao longo de décadas prestou e continua a prestar ao povo angolano”.
“Desde muito cedo, mesmo antes de Angola ser um país, e pensamos que, se alguém merece receber este reconhecimento, a medalha Agostinho Neto, sem sombra de dúvidas que os primeiros dos primeiros deve ser o povo russo”, garantiu.
A primeira visita oficial à Rússia do chefe de Estado angolano, que se faz acompanhar também pelos ministros das Finanças, das Relações Exteriores e dos Recursos Minerais e Petróleo, termina sexta-feira.
Se o ridículo matasse a fome…
30 de Maio de 2016. A ministra da Ciência e Tecnologia, Maria Cândida Teixeira, disse em Luanda, que os técnicos formados no âmbito do Angosat 1 iam poder desenvolver uma investigação científica de ponta.
A governante prestou esta informação quando falava à imprensa no final de uma visita que realizou ao DataCenter, ao Instituto de Telecomunicações (ITEL) e o Instituto Superior de Tecnologias de Informação e Comunicação (ISUTIC), afectos ao Ministério das Telecomunicações e Tecnologias de Informação (MTTI).
Segundo a ministra, estes técnicos, além de trabalharem nas áreas do sector, iriam formar outros quadros e dar impulso à área de investigação científica, bem como no Gabinete de Gestão do Programa Espacial Nacional (GGPEN), que é o responsável do Angosat 1, o primeiro satélite de Angola.
Estes quadros, acrescentou a ministra, desenvolverão investigação científica de ponta no Instituto Superior de Tecnologias, assim como no GGPEN, por ser uma área tecnológica nova no país, que tem a ver com os satélites.
“Por se tratar de instituições que fazem parte do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCTI) as soluções não serão encontradas agora, por se tratar de recursos humanos e a formação do homem levar tempo, o satisfatório é que há formação em curso”, referiu.
A construção do Centro de Controlo e Missão de Satélites arrancou em Junho de 2015 na comuna da Funda, no Cacuaco, nos arredores da capital, numa área com mais de 6.500 metros quadrados. Está prevista uma outra estação de controlo do satélite Angosat 1 em Korolev (Rússia).
Este projecto espacial envolve os governos de Angola e da Rússia e o centro de controlo de Luanda será operado por 45 técnicos especializados.
A construção do satélite, a cargo de um consórcio russo, arrancou a 19 de Novembro de 2013, cerca de 12 anos depois de iniciado o processo, e deverua prolongar-se por 36 meses, calendário que o Governo angolano garantia estar a ser cumprido integralmente.
O Angosat 1 iria disponibilizar serviços de telecomunicações, televisão, internet e governo electrónico, devendo permanecer em órbita “na melhor das hipóteses” durante 18 anos.
De acordo com o Governo, o satélite vai levar as telecomunicações “a todo o país”, contribuindo desta forma para a “coesão nacional”.
Além de um consórcio russo, a construção do primeiro satélite de Angola envolveu cerca de 30 empresas subcontratadas e a formação na Rússia de técnicos angolanos para a sua operação.
Segundo o Governo, a construção do satélite estaria concluída em 2017, decorrendo “dentro dos prazos estabelecidos”, para depois ser lançado no espaço. De facto, e é de enaltecer tal precisão. Não faria sentido lançar o satélite antes de ele estar concluído. Mas, reconheça-se, com o regime do MPLA tudo é possível.
Ao contrário do que pensavam os angolanos, não vai trazer comida, nem medicamentos, nem casas, nem escolas, nem respeito pelos direitos humanos. Importa, contudo, compreender que há prioridades bem mais relevantes. E o satélite é uma delas.
O Angosat terá um período de vida de 18 anos e 22 ‘transponders’, dispositivos de comunicação electrónica. O Angosat marcará a entrada do país “numa nova era das telecomunicações, o que pressupõe a condução de um programa espacial que inclua, futuramente, o lançamento de satélites subsequentes”.
Recorde-se que foi no Conselho de Ministros de 25 de Junho de 2008 que foi aprovado o projecto de criação do satélite “Angosat”.
Em comunicado, o Conselho de Ministros referiu nesse dia que foram aprovadas as minutas do contrato a celebrar entre o Ministério dos Correios e Telecomunicações de Angola e o consórcio russo liderado pela empresa “Robonex-sport”, tendo em vista a construção, colocação em órbita e operação do satélite angolano.
Por mera curiosidade refira-se que no mesmo Conselho de Ministros foi feito um reajustamento nos salários da função pública, sendo que – segundo o Governo – a alteração estava em consonância com o Programa Geral do Governo que previa como medida de política salarial o reajustamento dos vencimentos dos funcionários públicos, tendo em vista a reposição do poder de compra dos salários devido à inflação esperada de 10 por cento.
Em Dezembro de 2012, as autoridades anunciaram o lançamento para 2015, dizendo que o projecto seria financiado por um sindicato de bancos russos liderado pelo Ruseximbank e VTB.
Na altura foi dito que a construção estava a cargo de um consórcio russo liderado pela RSC, multinacional apresentada como tendo “larga experiência na produção de satélites e foguetões propulsores em programas internacionais como o Soyuz-Apollo”.
“Este Satélite é o primeiro e marca a entrada de Angola numa nova era das telecomunicações, o que pressupõe a condução de um programa espacial que inclua, futuramente, o lançamento de satélites subsequentes,” referiu em 2012 o então coordenador do projecto, Aristides Safeca.
“O projecto do Angosat vai bem. Está dentro dos prazos estabelecidos e em Setembro de 2016 teremos o satélite pronto e princípios de 2017, o mais tardar no primeiro trimestre, teremos o satélite no ar”, afirmou Aristides Safeca, referindo que o Executivo estava, no domínio dos telecomunicações, a efectuar a procura e buscas de soluções adequadas para as telecomunicações, não só no meio urbano, mas também no meio rural.
Ao que tudo indica, com o Angosat o nosso país deixará de ter 68% da população afectada pela pobreza, ou a mais alta taxa de mortalidade infantil no mundo.
Será também graças ao satélite que não mais se dirá que apenas um quarto da população tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade, ou que 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalações, da falta de pessoal e de carência de medicamentos.
Do mesmo modo, com o Angosat não mais se afirmará que a taxa de analfabetos é bastante elevada, especialmente entre as mulheres, uma situação agravada pelo grande número de crianças e jovens que todos os anos ficam fora do sistema de ensino. Ou que 45% das crianças sofrerem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos.
Folha 8 com Lusa
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