A toponímia do actual governo não difere da do anterior, pelo contrário, curou de repristinar o que este tinha de pior, aumentando a dose de raiva, ódio, assassinatos de carácter moral e físico e julgamentos selectivos, contra os adversários internos e externos, para gáudio de uma justiça partidocrata, superiormente capitaneada.
Por William Tonet
Nessa óptica, o executivo parece fadado em vender o país ao capital estrangeiro, numa cumplicidade com o caos, a fome, o desemprego, a inflação, a alta taxa do câmbio, num apologético crime contra a economia e a soberania nacional.
A privatização de empresas públicas lucrativas, nada mais é que estrofes de uma nova política de “peculonato”, para formar novos milionários e, assim, dar continuidade a institucionalização do nepotismo e corrupção, com protecção palaciana e judicial.
Atente-se, por exemplo, a dois apócrifos modelos de privatização neoliberal da equipa “Jloiana”, quanto à refinaria de Cabinda, onde a SONANGOL vai emitir uma garantia a favor da GEMCORP, que vai levantar dinheiro a um banco russo, o Sbersbank, para poder construir a refinaria, que no final vai ficar com um grupo privado, pago com dinheiro público da companhia petrolífera nacional e do Estado angolano, entendida e gerida como se fosse uma empresa do MPLA.
O mesmo esquema está a ser utilizado para a compra das acções da empresa de telecomunicações brasileira Oi, accionista da UNITEL.
A mesma SONANGOL emitirá um cheque em branco, com os cifrões do crude, para viabilizar a aquisição de 25% da participação da brasileira, por cerca de 70 milhões de dólares. O beneficiário dessa engenharia é, de novo, a GEMCORP, que tem portas escancaradas no Sbersbank, russo, para conceder dinheiro para a operação, para no final beneficiar um grupo privado do “in circle” presidencial, denominado Kapaia e alegadamente Manuel Augusto.
É óbvio que havendo dinheiro privado para ser injectado na economia, nenhum Estado responsável deve prescindir. No entanto, não é moralmente correcto, apregoar o combate contra práticas erradas num passado recente e, os novos actores, empreenderem caminhos semelhantes de delapidação do erário público, que não deixa, ainda que recauchutado, de ser corrupção, afinal um ADN alojado (desde as suas origens) nos detentores do poder.
Por esta razão, se não houver uma profunda reforma dos alicerces do Estado e da Constituição, de nada valerá falarmos em democracia participativa, quando só um actor político tem o domínio absoluto dos órgãos e organismos do Estado, podendo utilizá-los para eternizar o seu consulado, como se fosse uma propriedade unipessoal.
Por mais que queiramos esconder o Sol com a peneira, não haverá democracia com um só partido, não haverá estabilidade social, com fome, desemprego e inflação e, não haverá desenvolvimento com as políticas do Fundo Monetário Internacional e da equipa económica, que sob a liderança do Titular do Poder Executivo, pavoneia-se em inaugurar e visitar investimentos económicos privados, mandando bugiar, torcendo para a falência das empresas públicas, utilizadas, caricatamente, para alimentar os apetites vorazes de enriquecimento ilícito de uma elite, comprometida com as vaidades umbilicais, em detrimento de bem servir o país.
E isso ficou, uma vez mais demonstrado, quando na última reunião do Comité Central, o secretário-geral do MPLA terá acusado o seu colega e PCA das empresas, Mário António, de não conseguir apresentar resultados das mesmas, pese terem sido constituídas, todas com dinheiro público. A má gestão e a delapidação, colocaram a grande maioria na falência e isso ameaça o próprio partido no poder, habituado a esbanjar o saco azul, sem fundo, alimentado até à exaustão com dinheiro da SONANGOL, ENDIAMA e outras empresas públicas afins.
Por esta razão, nas redes sociais é perceptível o grau de insatisfação contra as políticas neoliberais e suicidas e o apelo a tomadas de posição pública contra as mesmas, que agravam a vida diária das populações.
É uma aposta perigosa, a actual opção neoliberal, pese as palmadinhas nas costas da comunidade internacional, porquanto a falta de horizonte para a apregoada estabilidade político-económica, levar à descrença os mais pobres, que nostalgicamente, positiva ou negativamente, recordam José Eduardo dos Santos, sob a alegação de lhes permitir comer, trabalhar pois, no seu tempo, era impensável, um saco de arroz ser comparado a um vice-presidente da República, como agora.
E eu que pensava ser difícil, uma tão rápida recuperação de imagem, do ex-presidente, saído como besta e corrupto-mor, mas frutos das más opções emergiu na mente do povo e se pudesse concorrer a um novo pleito, no actual contexto, mesmo por outra chapa partidária, poderia eventualmente vencer as eleições, porquanto na existência de instabilidade, o governo sofre para permanecer e articular, com os eleitores.
E em sistemas multipartidários, mesmo os corrompidos, num certo momento é preciso a reunião de algumas qualidades como garantia de estabilidade, confiabilidade e empregabilidade, consumo popular e governabilidade.
Nestas a mais importante, para um Titular do Poder Executivo visionário é a humildade e a capacidade de dialogar com os extremos, sem cartas viciadas ou truques debaixo da mesa.
O MPLA e o seu líder quando aprenderem a negociar e dialogar de forma transparente e lícita verão que o país ganhará mais e poderá trilhar novos caminhos de concórdia. Apostar no populismo e divisão e acusando o passado de que todos são parte, já não ilude, pelo contrário acentua a convicção de estarmos a ser governados por pessoas recalcadas, odiosas e vingativas.
Por tudo isso, se João Lourenço abdica da experiência de uns poucos, com enorme experiência internacional, no mundo dos negócios, não espanta que para lá dos discursos, o povo facilmente se cansará de si, não lhe deixando outra alternativa, se, astutamente, não mudar de paradigma, de ter de resignar ou ser destituído pela união das forças internas do seu próprio partido ou ainda dos milhões de pobres, famintos e desempregados, que não tendo nada a perder, poderão oferecer o corpo ao manifesto, para uma nova aurora.
A inteligência de quem dirige, num dado momento, obriga-o a pensar em duas latitudes: hastear a bandeira da arrogância belicista ou plantar o mastro da humildade democrática, no coração da maioria popular, carente de transparência, liberdade e democracia.