O banco Standard reviu em baixa a previsão de crescimento para Angola, antecipando agora uma recessão de 0,9% este ano, que compara com a previsão anterior de expansão económica de 1,2%. Embora as previsões sejam tão precisas quanto os tiros de um canhangulo, importa reter que já não falam só em variações de crescimento. A recessão voltou ao léxico.
“O baixo desempenho do sector do petróleo continua a ser um problema para a economia, com a produção petrolífera em baixa, investimento abaixo do potencial e condições de operação desafiantes, apesar dos preços do petróleo estarem mais favoráveis desde o princípio do ano”, escrevem os analistas.
Por outras palavras, a guitarra até está afinada mas os nossos tocadores não têm unhas para a tocar. E, como se isso não bastasse, alguns tentam tocá-la com as unhas dos pés… sem descalçarem os sapatos Louis Vuitton comprados em Londres ou em Nova Iorque.
No mais recente relatório sobre as economias da África subsaariana, enviado aos investidores, os analistas deste banco, um dos maiores a operar no continente africano, escrevem que, “por isso, a previsão de crescimento da economia foi revista em baixa para este ano, de um crescimento de 1,2% para uma contracção de 0,9%”.
Para 2019, os analistas esperam um crescimento de 2,4%, divergindo das mais recentes previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI), que esta semana estimou uma ligeira recessão de 0,1% este ano e um crescimento de 3,1% em 2019.
“Do ponto de vista da procura, vemos a despesa privada e as exportações a contribuírem para levantar a economia angolana da recessão no próximo ano, num contexto em que a inflação continua a cair e a liquidez de moeda estrangeira melhora, apoiada pelos preços mais altos do petróleo e pelas reformas que podem encorajar o investimento do sector privado”, argumentam os analistas.
A negociação de um acordo com o FMI, que o ministro das Finanças disse durante os Encontros Anuais do FMI e Banco Mundial que deverá estar concluída até final do ano, “é encarada como um desenvolvimento importante para ajudar a acelerar as reformas estruturais e melhorar o sentimento dos investidores”.
Para o Standard Bank, houve duas grandes reformas este ano com o potencial de estimular o investimento: a aprovação da nova lei de investimento privado e a criação da Agência Nacional do Petróleo e Gás.
No que diz respeito à evolução da produção de petróleo, a principal fonte de receita para Angola, os analistas estimam que Angola vá bombear 1,54 milhões de barris por dia, o que representa uma redução de 5,5% face aos níveis de 2017, ano em que Angola produziu 1,63 milhões de barris diários.
“As estimativas preliminares mostram que a melhoria dos preços contribuiu para um aumento de 21% nas receitas de exportação no ano passado, para 31 mil milhões de dólares, e estimamos que este número suba 30% este ano, para 40 mil milhões de dólares, o que representa 96% do total das exportações”, vincam os analistas do Standard Bank.
O Governo deverá apostar numa melhoria do défice orçamental deste ano, de 5,3% em 2017 para 3% este ano, “o que é consistente com a necessidade de restabelecer a estabilidade macroeconómica”.
O Standard Bank antecipa um empenho do Governo no aumento da cobrança de impostos, “alargando a base e introduzindo novos impostos, como é o caso da implementação faseada do IVA a partir de 2019”.
Em 2018, concluem, o foco do Governo esteve na contenção do crescimento da despesa e na redução do custo da dívida, “trocando o perfil de pagamento da dívida doméstico, apostando em renegociar para ter maturidades mais longas”, dizem, lembrando que no Orçamento estipulava que o serviço da dívida levaria 116,3% da receita fiscal e 21,9% do PIB, “o que é elevado”.
O acordo de financiamento de 4,5 mil milhões de dólares por parte do FMI “deve ajudar a implementar as necessárias reformas, já que mais consolidação orçamental é imperativa para a estabilidade macroeconómica”, concluem os economistas do Standard Bank.
Mais uma vez se torna claro que estas previsões servem para tudo e mais alguma, desde logo porque num espaço curto de tempo dizem tudo e o seu contrário.
Hoje falam de recessão para este ano mas, em Fevereiro, o mesmo Standard Bank considerava que Angola iria crescer 1,2% este ano e que a expansão económica não ultrapassaria os 2% “nos próximos tempos”, acrescentando que as previsões governamentais “são optimistas”.
“O Orçamento do Governo para 2018 mostra que o Produto Interno Bruto permaneceu em território positivo em 2016, com um crescimento de 0,1%, evitando a recessão que todos consideravam que tinha ocorrido, tal como indicado pelos dados do Instituto Nacional de Estatística, que mostrava uma contracção de 4,3% até Setembro”, escrevem os analistas deste banco.
“A nossa visão é que a actividade económica vai muito provavelmente ficar limitada, com o Produto Interno Bruto a crescer menos de 2% nos próximos tempos”, segundo o relatório enviado aos investidores.
No documento, que analisa os números recentes e as perspectivas de evolução da economia angolana, os analistas dizem que “apesar de uma melhoria na previsão de evolução dos preços do petróleo, a procura agregada vai provavelmente continuar a ser negativamente influenciada pela necessidade de manter uma política monetária restritiva para combater a subida da inflação e acomodar as alterações desejadas para o mercado da moeda externa”.
As limitações na diversificação também deverão pesar negativamente na economia, “com o sector petrolífero a continuar exposto às fracas condições de operação e as quotas da Organização dos Países Exportadores de Petróleo a restringirem também a produção petrolífera”.
Angola espera aumentar a produção de petróleo em 6% entre 2018 e 2023 para 1,6 milhões de barris por dia, mas isto, dizia o Standard Bank, “requer um impressionante nível de investimentos para acrescentar 536 mil barris por dia à capacidade de produção dos campos em declínio, que retiram 635 milhares à capacidade actual”.
Este cenário, concluíam na altura os analistas, “ilustra a necessidade de imprimir mais diversificação na economia, o que parece ser uma grande prioridade para o novo Governo”, mas o país “está a ver que é difícil diminuir a dependência do petróleo, cujas exportações continuam a valer mais de 90% do total”.
Folha 8 com Lusa